Tempo Perdido

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Boa noite! Olha eu aqui. Vamos para mais um capítulo? Bastante carga emocional, mas nenhum gatilho. Favoritem e comentem para estimular a autora. Tenham uma boa leitura!

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Camila chegou um pouco mais tarde. Já tinha tomado banho e estava esperando minha mulher chegar. A mulher passou silenciosamente, me dizendo que tomaria um banho rápido e viria para a cama. Deitei-me na cama, fechando os olhos por alguns meros minutos que poderiam ter durado uma eternidade.

— Minha eternidade... Você está bem? – Eu sinto o beijo no meu rosto e então na minha testa.

Lentamente, eu abri a palma da minha mão e mostrei a pena negra com as pontas estranhamente azuladas. A Boa Morte pegou a pluma em mãos, acariciando com delicadeza impressionante. Não soube definir o motivo de tamanha afeição por essa pluma, porém ela olhou por alguns minutos, suspirando.

— Eu sei o que, mas... Como, exatamente? O feitiço mostrou quem você era e deveria ser temporariamente, não deveria... – Seu tom de voz era cuidadoso.

— Ter efeito imediato? Você ouviu o que a rainha falou. Não poderia esperar que algo como isso fosse contido a partir do momento que passou a existir totalmente desperto. – Eu não queria soar tão amarga quanto me sentia.

E se antes não estava tão claro, consegui ver minha própria amargura e decepção refletida nos olhos castanhos da minha esposa. Isso teve o poder de magoá-la. Deveria ser bom a ideia de que eu me tornaria algo capaz de viver a eternidade com a mulher da minha vida, mas não era o que eu queria. Nunca foi. Também não tive intenção de magoar minha mulher que estava apenas sendo compreensiva comigo.

Eu a tenho me chamando de eternidade. Ela estava concebendo a ideia de que eu não desejava a eternidade.

— Princesa...

— Por favor, não me chame assim. – Camila pediu, colocando a pluma em cima da mesinha de cabeceira. — Zeus me ofereceu um acordo. Ele disse que se eu aceitar metade da minha divindade de volta, ainda vou poder viver minha vida como mortal, só... A divindade vai precisar exercer a função dela. Deuses não tem problema em estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Ela se deitou, apagando seu lado do abajur. Soube que nossos planos estavam absolutamente arruinados para essa noite. Tive um bom momento antes de Zeus aparecer, e isso fez-me sentir tão bem... uma pena que a vida se recusasse a nos dar poucos momentos de paz.

— E o que respondeu? – Perguntei, ainda sem me deitar, mesmo quando ela fez e estava se cobrindo.

— Não respondi. – Ela me contou, então estendeu a mão, tocando meu cabelo curto. — Você cortou seu cabelo...

— Não gostou? – Perguntei.

Não posso deixar de estranhar o clima entre nós duas. Já experimentamos de quase tudo juntas, mas é a primeira vez que estávamos, de fato, confrontando nossos desejos diferentes. Era a primeira vez que Camila estava enfrentando o que poderia ser consequência de ter separado meu espírito do corpo há 43 anos para que eu vivesse. Se ela não tivesse feito o que fez, teria poupado nós duas. Macária, que conduzia a morte e causava perdas inevitáveis, em algum momento, deixou de conseguir tolerar a própria perda.

Eu não entendi a visão assim que entrei no território élfico. Quebrei a visão muito rápido e disse que eu, Lauren Megalos, não tinha pendência alguma (e não poderia dizer o mesmo da minha divindade), entretanto, vejo que a visão veio porque eu tenho uma pendência. Desde aquele momento, a culpa estava me consumindo.

Julguei a Elfa duramente pelo que ela me aconselhou, no calor do momento. Também estava errada sobre isso e sabia. Em algumas circunstâncias, a morte era o maior ato de misericórdia que alguém poderia tomar, permitir que alguém que você ama se vá.

A GregaWhere stories live. Discover now