capítulo 1

9.4K 478 37
                                    

Luanne Araújo 📖

Para toda a vitória, sempre precisamos passar por alguns processos dolorosos para vivermos em paz. Comigo não foi diferente, passei por tanta coisa na vida, que eu até pensava que eu não iria suportar. Nasci no Complexo da maré, onde eu vivo até hoje.

Sou conhecida pela favela como a garota da igreja, ou a menina que vivia na igreja e apareceu grávida. Impressionante como as pessoas têm a capacidade de julgar umas às outras, mas não têm a vontade de oferecer ajuda.

Tenho uma filha de três meses. A coisa mais, ela sim posso dizer que é a minha luz e a minha salvação. Ela me completa, minha metade!

Bom, engravidei dela ano passado. Foi um deslize meu, não posso negar! Se eu não fosse não boba e inocente, isso não teria acontecido!

Era um dia como qualquer outro. Quando eu recebi uma mensagem do filho do pastor, onde ele me pediu para levar as lembrancinhas da festinha das crianças. Eu fui, estava responsável por isso. Mas o que eu não me toquei, foi que era na casa dele. Oito da noite, a rua estava completamente deserta, bati no portão e não demorou para que fosse aberta.

Eu entrei por tanto insistir, e quando entrei. Foi o pior dia da minha vida! Ali eu fui molestada! Ele me jogou na rua atrás de minha casa, fui me arrastando pelo o chão até o meu portão. Onde minha mãe me encontrou toda machucada.

Eu contei tudo a ela, mas a mesma não acreditou em mim. Fez questão de me expulsar de casa. Dizer que eu era uma louca! Semanas depois, morando na casa de uma colega minha. Descobri que estava grávida. Mesmo não querendo, fui atrás do meu abusador. Contei a ele, na frente dos seus pais, dos pastores. E o que ele fizeram... Me chamaram de louca mais uma vez!

Eu saí gritando na rua! Para que todos soubessem, mas não durou muito. Tive que dizer que era mentira, que eu estava sob efeito de remédios... Ou era isso, eu tiraria meu bebê de mim...

Camila: Parô! Olha só, Luanne... Menina já quer vira! - Sorri ao ver minha filha toda animada na cama. Nem parece que tem três meses.

Camila terminou de arrumar ela e eu fui ao banheiro. Fiz minha necessidades e quando eu sair, já estava tudo pronto.

Peguei a Mel colocando no canguru. Ajeitei ela com cuidado a deixando confortável. Logo joguei a bolsa pelo meu corpo.

Camila: Me avisa quando chegar, ok? - Concordei. Camila sempre me ajudou, dês do dia que tudo aconteceu ela permaneceu ao meu lado.

Sair de casa junto a ela. Depois de trancar tudo, ela subiu para seu trabalho e eu comecei a descer o morro.

Eu trabalho no restaurante da Dona Lurdes, ela é um amor de pessoa e a única que acreditou em mim. Ela sempre me apoiou, e eu a amo! Mas por ela não estar mais dando conta, a filha que está cuidando do negócio. Só estou ainda nesse emprego por preciso dele, se não já tinha perdido demissão. Odeio a filha da dona Lurdes!

Ao entrar em uns becos, descer alguns quarteirões, cheguei na barreira.

Olhei ao redor para ver se não vinha nem um carro e atravessei a rua. Arrumei o pano que cobria o canguru.

- Vai para não, Luanne! - Semicerrei os olhos e olhei para o lado. Parei de andar e vi o Guto do outro lado da rua. Ele está junto com os caras do movimento.

Guto é o 02 da favela, já que o dono é o Filipado, que está preso.

Abri um sorriso ao ver ele vindo na minha direção.

Guto: Cadê a gordinha? - Tirei o pano de cima dela e o Guto fez um bico ao ver a Mel toda apertadinha. - Pô, isso não tá machucando ela não! Já falei, Luanne! Olha a menina!

Ri.

Luanne: Deixa de coisa que a menina tá bem, Guto! - Ele revirou os olhos. - Agora vem cá, porque tá aqui embaixo? Tem polícia rodando aí.

Guto; Tô ciente... Mas tô resolvendo isso aí! - Concordei. - Camila já foi pro trabalho?

Luanne: Sim, e está estressada contigo. Se eu fosse você, nem tentaria!

Guto: Ainda bem que tu não és eu! - Revirei os olhos cobrindo a Mel.

Luanne: Depois não diz que eu não avisei.

- Aí, Guto! - Uma moto parou do nosso lado e eu subi na calçada. O garoto desligou a moto e balançou a cabeça pra mim. Acenei para o garoto e logo meu olhar foi no cara da garupa.

Sua cara está fechada, o olhar está fixo no Guto. Suas aveias do braço estão para pular para fora dando destaques em todas às tatuagens que estão desenhadas ali. Seu rosto virou na minha direção e por um segundo eu me senti envergonhada. Ele me olhou de cima para baixo. Ele é bronzeado, da cor do pecado... Tem o corpo todo definido e posso dizer que não tem mulher do lado. Não tem aliança... Seus olhos são escuros, mas por conta do sol nesse momento está brilhando. A sua boca está rosada pelo simples fato dele ter passado a língua nos lábios.

Engoli em seco.

Guto: Vou subir... Cuidado pela pista, Luanne! - Concordei e ele beijou minha testa saindo.

----------------------

• Deixando claro que essa fic não julga nem uma religião!!!!

Minhas Memórias Where stories live. Discover now