capítulo 30

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Leonardo Siqueira 💪

Depois de soltar a fumaça do baseado, comecei a tossir. Passei a mão na boca e olhei meus dedos vendo o sangue ali. Suspirei pesado e olhei o movimento da rua.

Com os olhos baixos, comecei a sentir a onda bater. Traguei novamente o baseado e como de costume, comecei a tossir sangue. Passei a boca na blusa e me sentei ali na cadeira.

Minha coroa sempre dizia que o melhor resposta pro bagulho é o silêncio, tá ligado? Melhor do que aquele que se acha mais esperto, sacô? Daquele que fala na emoção, querendo atenção de todo mundo. Ela sempre mandou eu só observar, ficar quieto.

"Você pode suportar tudo"

Tem neguin nesse meio que fala demais, se mostrar demais. E esse o pior erro, tá ligado? Esses são os que caem mais fácil.

Guto: Pô, mó luta pra te encontrar, porra! - Ainda olhando para o céu, eu continuei curtindo minha onda. - Teu padrinho.

Ele esticou o celular e eu demorei um pouco pra pegar.

Comecei a tossir e me ajeitei na cadeira.

Filipado: Tá fumando, seu pau no cu?!

Siqueira: O que tu quer, Filipado?

Filipado: Quero saber porque tu não compareceu na reunião da facção?! Tá achando que tá de férias, merda?!

Siqueira: Tava ocupado. Guto foi e já me passou as paradas.

Filipado: Não quero saber se Guto foi não, Siqueira! Tu tá na responsa do meu morro, e tu não te indo em uma reunião importante daquela faz com que tu não se interesse no bagulho!

Siqueira: Eu não me interesso.

Filipado: Teu pai quer falar contigo. - Olhei para o celular e senti uma onde forte pelo meu corpo.

Me levantei da cadeira e entrei o celular para o Guto e sair andando.

Guto: Tá indo pra onde?! Ou! Ele vazou, pô...

Desci as escadas correndo com o baseado na mão. Comecei a descer a rua quase correndo. Dei uma tragada e soltei suave. Ao vira a esquina, esbarrei em um corpo.

Luanne: Aí...

Siqueira: Foi mal aí. - Nem rendi papo, só piei pra casa.

Anos atrás.

Sandro: Cadê meu pai?

Léo: E eu lá vou sabe. Deve ter indo comer alguma nega por aí.

Sandro: Teu pai foi junto, né. Eles não se desgrudam.

Léo: Tá fazendo o que fora de casa uma hora dessa, menor?

Sandro: Acabei de chegar da pista, pô. Movimento tava fraco demais.

Léo: Conseguiu o que pra comer?

Sandro: Só um biscoito.

Balancei a cabeça olhando o movimento.

Filipado: Aí o moleque!

Sandro: Teu padrinho tá vindo aí, vou meter o pé. Tamo junto! - Fiz toque com ele que sou correndo subindo o morro.

Olhei meu padrinho vindo na minha direção com um fuzil nas mãos.

Já fui logo recebendo um tapa forte na cabeça fazendo eu descer de cima do murinho ali e cair no chão.

Filipado: O que eu disse pra tu, otário?! - Olhei para cima encarando seu rosto sério. - Olha direito pra mim! Me responder! O que eu disse pá tu!

Me levantei.

Léo: Não rouba mais na favela...

Filipado: E o que tu fez, porra?!

Léo: Só foi um pacote de arroz!

Filipado: Não interessa! Já cansei de te dizer que ladrão não tem vez na favela! E tu ainda continua agindo no errado?!

Léo: Tava faltando...

Filipado: Porque tu não veio perdi pra mim?! Em?!

Escorpião: Que que tá acontecendo aqui? - Abaixei a cabeça quando escutei sua voz.

Filipado: Teu filho de novo dando um de ladrão na favela!

Senti um chute na barriga o que fez eu cair com tudo no chão sentindo faltar de ar. Seus olhos lacrimejaram e eu tentei não chorar na frente deles.

Escorpião: Tu tá de sacanagem com minha cara, porra?! Tá achando que aqui é circo?! Levanta! Levanta, Leonardo! - Me levantei com dificuldade. - Olha pra mim!

Olhei para ele.

Escorpião: Quantas vezes eu já falei pra tu para de agir igual um comédia?!

Léo: Desculpa... Mas tava faltando lá em casa senhor.

Escorpião: E porque não pediu?!

Léo: Não consegui te encontrar... Os cara disseram que você tava em missão, não sabia que já tinha voltado.

Filipado: Não está colocando comida em casa, Escorpião?!

Escorpião: Deixei dinheiro, pô. Cadê tua mãe?

Léo: Na casa vermelha...

Filipado: Essa porra tá se prostituindo de novo?!

Escorpião: Bora. - Me empurrou. - Me leva até ela.

Comecei a andar de cabeça baixa e logo escutei as motos vindo atrás. Comecei a correr por sei que se eu enrolar andando z vou apanhar até chegar lá. Quando cheguei na frente da casa, minha mãe estava lá conversando com as outras mulheres enquanto fumava.

Parei na esquina mesmo, onde pude ver meu pai sair arrastando minha mãe pelo os cabelos e mete coça nela ali mesmo. Logo vazei pra casa, sei que se eu fica vai sobra pra mim.

Minhas Memórias Where stories live. Discover now