1x18: romero and atena

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Algumas coisas na vida eram tão óbvias de serem explicadas que o simples questionamento era capaz de deixar o mundo instável. Ela sentia que esse momento era uma dessas coisas. O beijo de Alexandre era tão óbvio em sua boca, em seu pescoço. As mãos, firmes em sua cintura como se segurassem uma arma para salvar sua vida, eram tão pertencentes à sua pele que parecia ignorância sequer questionar. O corpo dele em sua cama, ao lado do seu, envolvendo o seu, era certo.

— Eu não queria ter fugido naquela manhã. — ela sussurrou depois de passarem minutos em silêncio apenas absorvendo a presença um do outro.

Alexandre saiu daquela sala de emergência com a sensação de que seu mundo estava escapando das mãos. O chão já não estava abaixo de seus pés e a simples ideia de viver em um mundo sem ela era incompatível.

Alessandra veio correndo ao seu encontro, tocando os braços dele, chamando a atenção.

— Como ela está? Me diga! Como ela está?

— Péssima, frágil. — Nero a olhou com uma sombra no olhar. — Eu trocaria de lugar com ela mil vezes se fosse possível, Alessandra.

A artista viu o momento em que o homem sucumbiu. Alexandre sentou na cadeira e pareceu cair em si. Ela quase morreu, e ele quase deixou que suas últimas palavras fossem aquelas, cheias de mágoa e rancor. Alessandra sentou ao lado dele, esperou.

— Passamos uma noite juntos... antes do sequestro. Transamos, dançamos, bebemos... foi a nossa noite. Ela me disse que pela primeira vez não queria fugir, mas o instinto é superior a razão, não é? — ele olhou para a amiga. — E o que eu fiz? A ataquei, provei o ponto dela de que não se deve confiar, eu nem ao menos me dei o trabalho de deixar ela falar.

— Nero...

— Quero que ela acorde e me perdoe, só isso. Se ela puder me perdoar, serei o filho da puta mais sortudo.



— Eu que não deveria ter dito nada daquilo. — ele respondeu sério. — Fui cruel. Fiquei pensando que...

— Nero, eu...

— Se você fugir mil vezes, eu vou atrás de você mil vezes. Eu vou fazer isso, porque eu conheço você, você é minha parceira.

O rosto dele se aproximou do dela novamente, e Giovanna estava pronta para se deixar ser beijada como anteriormente. Não haveria um dia sequer em que ela não fosse querer o boca dele na sua.

Era quase uma droga.

— Você é minha amada. — ele sussurrou contra a boca dela, abrindo os olhos apenas para encontrar os dela se abrindo devagar.

— Amada?

— É.

Se aquilo bastava no momento ou não, ele não saberia dizer, mas quando ela pegou no sono novamente, conseguiu dormir bem, sem pesadelos.

No dia seguinte, a rotina de cuidados seguiu igualmente rigorosa, com alimentação nos horários certos e muita hidratação. Ele havia comprado uma pomada para queimaduras também, e religiosamente ficava passando em sua nuca. O apartamento estava aconchegante, em um silêncio confortável, e quando ela resolveu checar os últimos e-mails, pensou que ele fosse morrer de tédio. Não havia muito entretenimento de pessoas normais como ele, mas se surpreendeu ao vê-lo lendo um de seus livros da prateleira.

Ela se pegou nessa utopia.

Jogada nela, com a chance de se agarrar nisso.

O telefone de sua casa toca, e antes que ela pudesse se levantar, Nero foi até o aparelho para pegá-lo. Giovanna deixou, o observando de canto, quando a feição dele mudou, ela se perguntou o que era.

Parts of the WholeWhere stories live. Discover now