1x22: one year from today, right by the coffe cart

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Ele a deixou em casa em silêncio, e disse que lhe via no dia seguinte no trabalho. Foi o trajeto curto mais doloroso que ela já fez, uma agonia que crescia dentro de seu peito, meio desconhecido, meio nauseante. O problema de sentir era esse, você não conseguia controlar como seu corpo reagiria, as coisas chegavam em ondas, avalanches, pingos de torneira mal fechada. Tudo dependia.

E o silêncio dele era o que lhe ensurdecia agora.

Giovanna entrou no apartamento vazio. Ele estava frio, tinha o cheiro dele, e as luzes que ela acendeu foram as principais, mais claras, como se sua mente se iluminasse para o vazio no qual ela se encontrava agora.

Pegou o telefone de dentro da bolsa, ficou olhando a tela vazia de notificações, se perguntando como seria agora.

Só tinha uma pessoa que poderia lhe ajudar agora.

— Ale? Será que pode vir até minha casa, por favor? — sua voz miúda revelava muito qual seria o teor da conversa.

A amiga do outro lado não hesitou.

Alessandra escutava tudo com atenção. Cada detalhe da noite que acabou cedo demais para a amiga, que falava de alguns trechos com os olhos marejados. Era como se a artista estivesse lá em todos os momentos, e a angústia era a mesma.

— Quando eu vi aquela pulseira... quando eu ouvi ele falando que me amava... como eu pude pensar que isso daria certo?

— Querida, estava dando certo. Estava dando tudo certo até você deixar seu medo vencer.

— Não é medo. São evidências de todos os últimos anos.

— Com homens fracassados, minha amiga. Não com ele. Com o certo.

Giovanna balançou a cabeça e desviou o olhar. Alessandra viu a lágrima escorrendo.

— Suas lágrimas já falam tanto, Giovanna.

— Eu reencontrei Stires. — a mulher falou com a voz baixa, o líquido tinto em sua taça tão mais interessante do que qualquer outra coisa.

— O que? Como? Quando?

— No dia em que passei a tarde com Nero e o filho. No carrossel. Ele estava com a esposa e o filho.

— Esse desgraçado. O que ele te disse?

— O óbvio.

— Nada que esse homem diz é óbvio, Giovanna. Ele te manipulou por anos, te enganou, te diminuiu. Você era só uma jovem, ele era um lobo em pele de cordeiro.

— Impermeável. Foi o que ele disse. Sabe o que significa? Que nada por passar, entrar, impossível.

— Você não é nada disso, olha para tudo ao seu redor. Para a nossa amizade, para sua relação com Robert, Liam. Olha para tudo que você se permitiu ter com o Alexandre. Giovanna, esse homem não sabe quem você é.

— Eu não mudei, Alessandra. Por que se eu tivesse mudado, eu não teria saído cedo naquela manhã depois da nossa primeira noite, eu não teria negado isso, eu não teria entrado em pânico, eu não teria saudade de ser a Atena. A mulher espontânea e destemida que era o encanto dos olhos dele. — ela mexeu o cabelo, ansiosa. — Olha, está vendo, essa sou eu, nada loira, nada espontânea. Eu penso, várias e várias vezes antes de tomar uma decisão. Eu racionalizo tudo, até mesmo a fé dele. Eu posso me dar bem com o filho dele, mas isso não quer dizer que eu quero ter filhos, que eu seria uma boa mãe.

Alessandra sentia os próprios olhos inundarem.

— Ele é... ele é incrível. É íntegro, é um bom pai, um bom policial, ele gosta de olhar o mundo com mais leveza, ele tem sol no olhar, Alessandra. E eu sou chuva, aquela estranha, pegajosa e indesejável. Como, me diga como, você acha que eu poderia ficar ao lado dele sem o machucar. Um dia ele iria embora, e iria embora com raiva de mim.

Parts of the WholeWhere stories live. Discover now