2x13: silver springs 97 kind of pain

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Voltar para casa era estranho quando você não tinha nenhuma lembrança física do inferno que passou. Alexandre sentia dor de cabeça, a queimadura da arma de choque não fazia nem cócegas comparado com seu estado mental. Conversar com Sheron, colocar para fora todas as emoções que vinha segurando desde que voltou da guerra parecia ter pesado ainda mais os seus ombros. Sentia que o único alívio que obteve foi ver o rosto de Giovanna de novo, e a promessa que fez para Fred o alertava do óbvio.

Lívia.

Ele tinha que conversar com ela em algum momento. Era óbvio que ele não estava nada bem para se relacionar com alguém. Deveria ter percebido isso assim que voltou para casa. Merda, lá no Afeganistão mesmo ele deveria ter percebido que havia algo de errado com ele, e prender aquela mulher que só vinha sendo boa com ele era cruel, e ele não era o pai dele para ser uma cruel.

Sua mãe esperou seu pai melhorar do pós guerra. Ela esperou dia após dia, garrafa de whiskey após garrafa de whiskey, sempre com ele, sempre roxa de alguma forma, mas sempre esperando.

O filho da puta não teve coragem para fazer nada além de tornar a vida dos outros ao seu redor uma verdadeira miséria.

E ele tinha certeza que se não cuidasse de si, voltaria a ser o que era antes. Um viciado em apostas, que perderia todo o salário em uma mesa de sinuca, ou de poker, ou de qualquer merda que valesse um dinheiro.

E ele estava tão nervoso por estar por um fio com tudo isso.

Ele não queria perder a vida que tinha.

E principalmente, não queria perder Giovanna.

Era nela que pensava desde que acordou naquele maldito submarino, como se a pancada da coveira tivesse sido o suficiente para reconfigurar seu sistema.

— Você quer comer alguma coisa? O médico disse que precisa se alimentar. — ele ouviu a voz de Lívia e forçou um sorriso para a namorada.

— Podemos pedir alguma coisa daquela cantina italiana aqui perto, acho que eles abrem na hora do almoço.

Ela sorriu de volta, feliz por ele estar falando. Alexandre viu o olhar dela repleto de esperança de que voltassem ao normal depois de alguma coisa ter se quebrado entre eles.

Ele era o grande canalha aqui. Ela veio atrás dele por amor, por acreditar, e ele estava aqui pensando em jeitos de se livrar desse amargor. Como diabos ele poderia sequer imaginar que um dia Giovanna olharia para ele de novo depois que tudo isso passasse? Por mais que em sua mente fossem construídos cenários de uma vida feliz, como ele poderia se imaginar digno disso de novo?

Ele estava fodido.

Batidas suaves na porta chamaram a atenção dele assim que se sentou no sofá. Lívia o olhou da cozinha.

— Está esperando alguém?

— Não que eu saiba. — ele respondeu confuso e esperou enquanto ela ia atender a porta.

O rosto do irmão com a esposa ali era uma das poucas coisas boas que ele poderia ter agora.

— Pedro!

O abraço entre os dois foi forte. Nero cumprimentou Sarah e apresentou Lívia, que simpática, disse que ia pedir o almoço para mais pessoas. Nero não conseguia de parar de olhar para o irmão, e o jeito como ele parecia cada dia mais o homem que ele se esforçou tanto para que ele fosse.

— Sheron me contou o que fez por mim, obrigado.

— Não é como se nunca tivesse se arriscado por mim, Alê. Além disso, Giovanna teria me matado se eu não tivesse feito o que ela pediu. Sua parceira é uma mulher muito forte, Alexandre.

Parts of the WholeOù les histoires vivent. Découvrez maintenant