2x06: it's something

535 50 58
                                    




Entregar a notícia da morte de um ente querido para alguém não era nada fácil, e ele sempre pensou que deveria tomar o dobro de cuidado pelo histórico de vezes que Giovanna já fez algum comentário nada convencional e por vezes muito honesto. Mas bastou uma semana depois da discussão com Alessandra em sua sala para ele se atentar aos sinais.

Ela já não falava sobre como a vítima morreu, se doeu ou não, e nem qualquer outro comentário. Ela estava sentando mais perto desse familiar, e olhava sempre com compaixão. Se a pessoa perguntasse, ela sempre mentiria dizendo ''seu pai não sentiu nada'', ''foi como pegar no sono''. Mentirinhas do bem que um dia ele ensinou para ela.

Hoje, porém, existia algo a mais ali. A esposa da vítima estava com a filha recém nascida em casa, e desde o desaparecimento do marido, quem ficava com elas era a sogra, que vinha sendo um grande suporte, já que a mulher confessou que não estava sendo capaz de pegar a filha nos braços. ''É demais para mim lembrar dele toda vez que a vejo, ainda não consigo, e sei que sou uma péssima mãe por isso''.

A sogra, porém, não estava em casa, e a criança não parava de chorar, tornando tudo mais difícil.

— Não é uma péssima mãe por não estar sendo capaz de segurar sua filha, na verdade, em algumas culturas, é um gesto de amor a mãe se afastar da prole quando não está em um bom estado emocional, assim não lhe passaria 'sentimentos ruins'. A senhora está fazendo um ótimo trabalho, não se esqueça disso. — Giovanna falou com cuidado, devagar, para que suas palavras fossem entendidas.

— Obrigada, Dra. Antonelli.

— Se quiser, posso ficar com a bebê no jardim, o que acha?

— Stapes... — Nero sussurrou como se perguntasse o que ela estava fazendo.

— Se não for incomodar, obrigada.

Giovanna se levantou do sofá e foi até a sala de televisão, onde a menina estava deitada no sofá envolta de uma barreira de travesseiros. É claro que ela não tinha muita prática em como segurar bebês, mas sabia exatamente o que não fazer ao segurá-los. Abby tinha o rosto rosado, cabelos bem escuros, pulmões fortes. Giovanna a pegou nos braços, a aninhando, balançando de um jeito suave até a bebê se acalmar.

Tinha que treinar, sua melhor amiga seria mãe em alguns meses.

Saiu da casa pela porta da cozinha, indo até o jardim onde o sol aparecia entre algumas nuvens. O ar livre pareceu acalmar a menina, e Giovanna ficou pensando de repente em como era algo transformador ser mãe, e como cada momento era único, de um jeito bom ou ruim. Sra. Smith acabara de perder o marido, e tinha uma filha tão pequena que devia lhe trazer tantas lembranças.

A que valia viver um amor assim?

Será que valia a pena conhecer para então perder?

A pergunta parecia muito mais pessoal para ela, e caso se colocasse no lugar da viúva, olhando esse pacotinho nos braços, a resposta seria sim.

Valia a pena.

A mulher nunca mais estaria sozinha no mundo, sempre teria um pedaço do homem para chamar de seu, uma prova de que o amor deles existiu, uma raiz nesse mundo.

A bebê se acalmou em seus braços e Giovanna ficou andando em círculos pelo jardim. Ela não viu o momento em que Nero parou na porta da cozinha para observá-la.

O zumbido do seu ouvido parou por um instante. Seu corpo relaxou pela primeira vez desde que pisou em casa.


— Dylan me faz ter esperança na geração futura. — ela falou enquanto estava deitada no peito dele.

Parts of the WholeDonde viven las historias. Descúbrelo ahora