2x02: stop crying your heart out

424 45 110
                                    

Fernando de Noronha, Brasil

Dizer que Giovanna estava feliz com o projeto era quase eufemismo. Ela estava radiante, explodindo de vontade de compartilhar todas as descobertas com o mundo. E se Tanaka pudesse se responsabilizar ao menos por 1% daqueles ombros relaxados e expressões suaves, gostaria de saber.

Conheceu Giovanna quando ela ainda era uma aluna de mestrado. Autêntica, forte, voraz pelo conhecimento, a mulher nunca economizou horas no laboratório. Aprendeu tudo que ele podia ensinar enquanto esteve em Harvard. Hoje em dia podia dizer que o aprendiz superou o mestre.

Mesmo com toda a fama, ela ainda o respeitava profundamente, e isso só aumentou a admiração que já tinha por ela.

Por isso achou tão estranho quando a encontrou no primeiro dia, olhos inchados e vermelhos, Liam lhe disse que ela não tinha pregado os olhos.

Claro que perguntou.

E claro que ela se negou a falar sobre isso.

Ele persistiu, persistiu, até que o nome finalmente saiu de sua boca. A dor dela era dor de amor, sem saber que era amor, sem querer que fosse amor.

— Como está a vista aqui em cima? — ele perguntou para ela, ficando ao lado na vigia do barco que estavam.

— Linda, como sempre, professor. As vezes me esqueço que o mundo tem lugares bonitos assim.

— Está mais leve hoje, Giovanna. Algum motivo especial?

O sorriso dela saiu fácil. Claro que sim.

— O senhor tinha razão. Não tem porque ter medo de um e-mail.

— A mente desse velho aqui ainda serve para alguma coisa.

Pela primeira vez ela não iniciou um discurso sobre como a mente dele era brilhante, sobre como servia para muitas coisas, incluindo as atividades básicas. Agora ela só riu, entendendo o humor, balançando a cabeça.

— Acabou assinando "com amor".

— Mas o ama, não ama? Amor não é só entre amantes em carne, é entre amigos também. Ama sua amiga Alessandra, Robert, Liam, e tenho certeza que tudo começou com uma amizade entre você e Alexandre.

— Ele não respondeu ainda. Eu fico pensando nele, professor. Preocupada, eu conheço o Nero, dentro de uma zona de guerra ele é capaz de dar a vida no lugar dos que ele ama. É irracional, eu sei, mas toda hora fico procurando notícias de soldados feridos, quero saber como está a situação lá...

— É normal, estranho seria se não se preocupasse tanto com ele. E sobre ele não responder, dê tempo ao tempo, eu tenho certeza que ele vai ficar muito feliz quando ver sua mensagem.

Giovanna concordou em silêncio, olhou para baixo e viu algumas pessoas trabalhando. Era um barco de pesca, pegavam carona com esse pessoal de vez em quando. Giovanna chamou por Liam lá embaixo, pediu que ele pegasse todo o material pois já estavam chegando. Ela desceu as escadas, indo até a frente do barco.

O sol em sua pele, sal em seu cabelo, o cheiro ao redor...

Ela se sentia renovada.

Nova em tudo, de repente se via leve. Isso não tinha a ver com Nero, tinha a ver com ela. E uma decisão brotou em sua mente.

Abriu a conversa com Alessandra: tem a indicação de um terapeuta que atenta remotamente?

Kunar, Afeganistão

Alexandre limpava a arma concentrado. Pelo canto do olho podia ver algumas crianças brincando no acampamento médico, e por um instante podia esquecer que estava no meio do inferno. Seus ombros pesavam, ele tinha certeza que tinha envelhecido, sua barba já estava bem maior que o máximo que costumava. Seus músculos estavam doloridos, e ele tinha certeza que o corte em sua perna estava começando a infeccionar, precisaria dar uma passada nos colegas ao lado.

Parts of the WholeWhere stories live. Discover now