Fernando de Noronha, Brasil
Dizer que Giovanna estava feliz com o projeto era quase eufemismo. Ela estava radiante, explodindo de vontade de compartilhar todas as descobertas com o mundo. E se Tanaka pudesse se responsabilizar ao menos por 1% daqueles ombros relaxados e expressões suaves, gostaria de saber.
Conheceu Giovanna quando ela ainda era uma aluna de mestrado. Autêntica, forte, voraz pelo conhecimento, a mulher nunca economizou horas no laboratório. Aprendeu tudo que ele podia ensinar enquanto esteve em Harvard. Hoje em dia podia dizer que o aprendiz superou o mestre.
Mesmo com toda a fama, ela ainda o respeitava profundamente, e isso só aumentou a admiração que já tinha por ela.
Por isso achou tão estranho quando a encontrou no primeiro dia, olhos inchados e vermelhos, Liam lhe disse que ela não tinha pregado os olhos.
Claro que perguntou.
E claro que ela se negou a falar sobre isso.
Ele persistiu, persistiu, até que o nome finalmente saiu de sua boca. A dor dela era dor de amor, sem saber que era amor, sem querer que fosse amor.
— Como está a vista aqui em cima? — ele perguntou para ela, ficando ao lado na vigia do barco que estavam.
— Linda, como sempre, professor. As vezes me esqueço que o mundo tem lugares bonitos assim.
— Está mais leve hoje, Giovanna. Algum motivo especial?
O sorriso dela saiu fácil. Claro que sim.
— O senhor tinha razão. Não tem porque ter medo de um e-mail.
— A mente desse velho aqui ainda serve para alguma coisa.
Pela primeira vez ela não iniciou um discurso sobre como a mente dele era brilhante, sobre como servia para muitas coisas, incluindo as atividades básicas. Agora ela só riu, entendendo o humor, balançando a cabeça.
— Acabou assinando "com amor".
— Mas o ama, não ama? Amor não é só entre amantes em carne, é entre amigos também. Ama sua amiga Alessandra, Robert, Liam, e tenho certeza que tudo começou com uma amizade entre você e Alexandre.
— Ele não respondeu ainda. Eu fico pensando nele, professor. Preocupada, eu conheço o Nero, dentro de uma zona de guerra ele é capaz de dar a vida no lugar dos que ele ama. É irracional, eu sei, mas toda hora fico procurando notícias de soldados feridos, quero saber como está a situação lá...
— É normal, estranho seria se não se preocupasse tanto com ele. E sobre ele não responder, dê tempo ao tempo, eu tenho certeza que ele vai ficar muito feliz quando ver sua mensagem.
Giovanna concordou em silêncio, olhou para baixo e viu algumas pessoas trabalhando. Era um barco de pesca, pegavam carona com esse pessoal de vez em quando. Giovanna chamou por Liam lá embaixo, pediu que ele pegasse todo o material pois já estavam chegando. Ela desceu as escadas, indo até a frente do barco.
O sol em sua pele, sal em seu cabelo, o cheiro ao redor...
Ela se sentia renovada.
Nova em tudo, de repente se via leve. Isso não tinha a ver com Nero, tinha a ver com ela. E uma decisão brotou em sua mente.
Abriu a conversa com Alessandra: tem a indicação de um terapeuta que atenta remotamente?
Kunar, Afeganistão
Alexandre limpava a arma concentrado. Pelo canto do olho podia ver algumas crianças brincando no acampamento médico, e por um instante podia esquecer que estava no meio do inferno. Seus ombros pesavam, ele tinha certeza que tinha envelhecido, sua barba já estava bem maior que o máximo que costumava. Seus músculos estavam doloridos, e ele tinha certeza que o corte em sua perna estava começando a infeccionar, precisaria dar uma passada nos colegas ao lado.
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Parts of the Whole
FanfictionUma cética antropóloga forense é colocada para ajudar o FBI na resolução de casos. O arrogante agente se vê obrigado a trabalhar do jeito que ela quer. Quando a razão encontra a emoção, a única solução é proteger o próprio coração.