3x05: the miracle in the manger

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Giovanna olhava ao redor tentando disfarçar o desgosto pelo local. Fazia mais um tour pelo hospital pensando que aquele ambiente não estava lhe agradando, mas Nero tinha certeza que uma terceira tour na semana a faria mudar de ideia. A antropóloga tinha cada dia mais certeza que a casa de parto recomendada por uma doula renomada era a melhor ideia. Era uma casa equipada, que traria um ambiente familiar, e não causaria pânico  de um parto em casa como Alexandre tanto reclamava. Nessa reta final, faltando poucos dias para completar as semanas necessárias, a notícia de que ela não iria querer um parto dentro do hospital pegou o federal de surpresa.

— Esse lugar está repleto de germes em todos os lugares. — ela falou, não  tanto em voz baixa, olhando ao redor.

— É um dos melhores hospitais de DC, o que está dizendo, Giovanna?

— Coincidentemente sendo um hospital católico.

— Isso não tem nada ver com a minha religião, mas que é agradável, sim, é.

Giovanna tirou a luz violeta da bolsa e começou a apontar para os lugares. As manchas no chão e nas paredes evidenciando fluídos e fluídos que mesmo limpos, não desapareciam dos olhos atentos de Giovanna. Alexandre ficou vermelho, vendo como os outros pais olhavam atentos para tudo que ela mostrava ou falava.

— Olha só, parece que o padrão está baixo por aqui, fluídos e fluídos em todos os lugares, honestamente me admira você querer que nossa filha nasça nesse lugar.

— Meu bem... As pessoas...

— Algum problema? — a enfermeira que fazia a apresentação perguntou.

— Muitos, na verdade. — Giovanna falou, mas teve a atenção desviada quando o celular de Nero tocou.

— Temos um caso. — ele falou com um alívio, a guiando para longe do grupo de pais que já estavam olhando com dúvidas para todas as superfícies. — Muito obrigado, está tudo ótimo, obrigado por tudo.

No carro, Alexandre balançava a cabeça em negação.

— Você consegue se superar, custava ser um pouquinho mais...

— Displicente?

— Gentil, eu ia dizer. Qual é, você já sabe o que eu acho dessa coisa de parto fora do hospital, temos que saber conversar sobre isso. Chegar em um acordo, sabe? Ceder?

— Eu já estou cedendo bastante.

— Onde? — ele perguntou rindo.

— Decidi que vou deixar você batizar nossa filha na igreja católica.

Nero quase tirou o carro da estrada. Olhava para ela repetidas vezes para não garantir que não estava brincando com ele. Em sua mente, a possibilidade ia ser uma verdadeira briga, coisa que ele talvez nem estivesse disposto a comprar. E agora ela lançava como se nada fosse, olhava para o celular distraída.

— É sério?

Giovanna o olhou e sorriu, entendendo a surpresa dele.

— É sério, respeito sua fé e acho que para uma criança é importante acredita em certos mitos, faz bem para o desenvolvimento de outras habilidades.

— Certo, mesmo chamando minha religião de mito, eu ainda estou muito feliz por entender meu lado e me deixar ter o gosto de batizar nossa filha.

Ele tomou a mão dela e beijou com carinho, se dividindo entre o transito e a carícia.

— É claro, assim como sei que vai me deixar ter essa criança onde quiser.

Ele gargalhou.

— Lá vamos nós.

Parts of the WholeOnde histórias criam vida. Descubra agora