Capítulo 4 - Conhecendo o Inimigo

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Antes que eu pense em escapar dali, Quíron aparece dentre a multidão e me chama. A contragosto, eu o sigo para a Casa Grande, onde o sr. D se encontra de braços cruzados.
- E o que foi dessa vez? - O deus irritado pergunta ao centauro.
- Esta jovem recebeu uma profecia um tanto... não convencional.
- Eu juro que... - Começo, mas Quíron me interrompe, recitando a profecia.
- Ah, eu odeio essas previsões! Sempre com duplo sentido, sempre fazendo mistério! Acho melhor que Quíron explique logo a situação a você, Euzana de Arendal.
- Elsa de Arendelle.
- Que seja. - O deus do vinho pega uma mala no chão e estala os dedos. Sua imagem se desbota e se contorce e num piscar de olhos ele não está mais ali.
- Sente-se, por favor.
Minhas mãos começam a suar, a barriga esfria.
- Não se preocupe, criança, não estou aqui como um juiz, vamos apenas conversar. - Engulo em seco e balanço a cabeça para que ele prossiga. - Não sei se chegou aos seus ouvidos, mas nossos melhores heróis desapareceram, assim como algumas divindades menores e muitos espíritos da natureza. Uma coisa muito ruim está prestes a acontecer, uma força muito antiga está se levantando, tão antiga quanto Cronos ou Gaia. E isso despertou o temor nos deuses.
Afundo no lugar.
- E agora a profecia de Rachel acabou me deixando mal vista aos olhos do Olimpo, não é?
- Eu a estaria iludindo se dissesse que não, o Olimpo está com os nervos à flor da pele, qualquer um pode ser uma ameaça em potencial.
Solto um suspiro pesado.
- Então por que ainda estou aqui?
- Desculpe, o quê?
- Por que ainda não fui atingida por um raio ou sei lá? Isso facilitaria as coisas, não acha? Zeus é o deus do céu e, se o que Rachel disse é verdade, eu posso trazer muitos problemas pra todo mundo.
- Elsa, ninguém disse qual deus seria.
Pisco atordoada.
- Mas...
- Zeus não foi o único a governar os céus, antes alguém muito poderoso também exerceu seu domínio.
O ar me escapa dos pulmões. Uma força antiga e poderosa, o próprio Céu.
- Urano.
Quíron assente com a cabeça.
- Urano, pai de Cronos, avô de Zeus. Primeiro senhor dos céus, cortado e espalhado em mil pedaços pelo filho que também foi destronado por seu filho. É possível que se estivesse falando de Urano e não de Zeus. Por isso, devemos ter cuidado, as profecias não são claras. Nem sempre sabemos do que se tratam até que os eventos aconteçam.
Sinto o ar da sala esfriar, apreensiva com o despertar de Urano, mas, ironicamente, uma parte de mim respira aliviada justamente graças a isso: ninguém pode afirmar que eu destronaria Zeus, então, pelo menos por hora, ninguém vai me pulverizar também.
- E o que eu faço agora?
- Por hora, nada. Pela minha experiência, devemos aguardar uma nova previsão. Até lá, peço que guarde segredo sobre nossa conversa, não precisamos de semideuses disseminando pânico pelo acampamento. Entendido?
- Sim, senhor. - Levanto-me.
Já estou na porta quando Quíron me chama:
- Ah, Elsa. O seu aniversário não seria no dia vinte e dois de dezembro, seria?
- Na verdade, é sim. Por quê?
Um riso se espalha nos lábios do centauro.
- Que coincidência, é no mesmo dia do solstício de inverno.

Passei o resto do dia sentada perto de uma árvore à beira do lago, o mais longe que pude ficar do movimento no acampamento. Eu tinha muito sobre o que pensar e os olhares desconfiados e acusadores dos campistas estavam me matando.
- Parece que você encontrou meu esconderijo - Hiro aparece do nada atrás de mim. - Você tá legal?
- Sim, eu só... Tava pensando se... Essas profecias, tem algum modo de...
- Se você tá pensando em tentar impedir de acontecer o que Rachel disse, acho melhor mudar de ideia. - Ele senta ao meu lado.
Abraço as pernas e escondo o rosto entre os joelhos.
- Nada daquilo parece bom - digo.
- Olha, eu não entendo nada de profecias, mas não deve ser tão ruim assim...
Solto uma risada sem humor.
- Certo, vejamos... Tá na cara que eu vou encontrar a minha irmã e aí vou perder ela de novo. Acho que vou sair do acampamento e procura-la, já que vou ter que encontra-la duas vezes.
- Elsa...
- E Afrodite só pode estar me castigando por ter me metido com Drew! Não que eu estivesse interessada em alguém, mas agora que eu sei que não tenho escolha... Ah, e a última parte é a melhor! Agora todo mundo tá achando que eu...
- Elsa - Hiro me interrompe -, eu não sou muito bom com pessoas e definitivamente não sei dar conselhos. Sou melhor com isso - ele gira uma chave-de-fenda entre os dedos -, mas eu gostei de você e não penso como os outros. Eu não acredito que você faria qualquer coisa ruim.
Um riso se forma no canto dos meus lábios.
- Obrigada.
O filho de Hefesto solta um suspiro pesado antes de falar:
- E depois, sobre essa parte de Afrodite...
- O quê?
- Eu nem devia falar isso, jurei que não ia dizer nada, mas...
- O quê? - Pressiono.
- Tem um cara que tá muito afim de você.
Sinto cócegas nas bochechas, ficando vermelha.
- Quem?
- Não posso contar - Hiro coça a garganta. - Jurei pelo rio Estige.
Sorrio.
O garoto sacode a cabeça:
- Bem, isso não importa. Quero que me prometa que você não vai sair do acampamento pra procurar sua irmã.
- Mas...
- Olha, eu entendo, iria querer fazer o mesmo se Tadashi tivesse desaparecido, mas sair daqui é suicídio. Você tem que prometer. - Ele ergue o mindinho. - Ou eu juro que conto pra Quíron que você tá louca pra virar jantar de monstro.
Não consigo evitar soltar uma risada.
- Eu prometo. - Sinto o choque térmico assim que ergo o mindinho e cruzamos os dedos.

Solstício de InvernoWhere stories live. Discover now