Capítulo 7 - Flor Que Não Se Cheira

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Rapunzel *
Certo, não é só porquê um lugar não parece ameaçador, que ele não é.
- Vão querer mais biscoitos? - A vovó apareceu com uma fornada grande.
- Pode mandar ver, madame Thel! - Hiro avança na velha senhora.
- Admito que os biscoitos são uma delícia - Soluço cochichou pra mim -, mas acho que estamos perdendo tempo aqui, Punzie.
Solto um longo suspiro, me reclinando no sofá da recepção da floricultura de madame Thel. As paredes são pintadas de cor de rosa e vários arranjos das mais variadas flores se dispõem numa bancada extensa. O lugar não parecia ameaçador, mas eu mantinha minha espada - nesse caso, frigideira, já que estava disfarçada - bem próxima.
- Aqui, me deixe guardar isso atrás do balcão por enquanto comem - a vovozinha pega as mochilas. - Vão querer beber alguma coisa?
- Obrigada - Elsa agradece -, a senhora é muito gentil, mas estamos de saída...
- Qual é?! A gente vai ficar só mais um pouco, sim, madame. - Hiro abre um sorriso de boca cheia.
- De acordo - Merida apoia, limpando farelo de biscoito com a costa da mão.
A velhinha abre um sorriso e sai.
Muito bem, talvez Soluço esteja certo. Tudo o que temos aqui é uma senhora que precisa de netos.
Olho ao redor, pendurado na outra parede da sala, um banner cor de rosa e dourado da Leh Togeam, as letras cursivas demais, a pontinha do M quase formando um til em cima do A...
Mas que coisa estranha! Desde que cheguei aqui fiquei matutando sobre esse nome, Leh TogeaM. Que língua é essa, talvez um erro gramatical de francês? "Le" é o substantivo masculino "o" e "gram" significa algo como "grama", o que faria sentido se "O grama" não soasse tão estranho...
- Aqui, não vai aceitar um copo de limonada? - A mulher havia voltado.
- Oh, sim, eu... - Me viro e pego o copo na bandeja. Meus olhos casualmente miram o espelho por cima do ombro dela, uma nota de alerta estala na minha cabeça.
No reflexo, as letras do banner aparecem invertidas.
MaegoT heL. Mae goTheL.
Mãe Gothel.
Arquejo de susto, o copo cai da minha mão e se espatifa no chão. Rápida em ação, levanto e tiro a frigideira da cintura que se alonga na espada, apontando para Gothel.
- Para trás. - Ameaço.
A velha mulher desata numa gargalhada fria.
- Pensei que nunca ia reparar...
- É que você mudou muito - provoco, apontando seu rosto enrugado. - O tempo é cruel, não é mesmo?
- Rapunzel, do que você tá falando? - Elsa me olha como se eu estivesse maluca.
- O nome dela é Gothel, me sequestrou quando eu era um bebê e...
- Eu não sequestrei ninguém - ela me interrompe. - Eu recuperei o que era meu. E irei pegar de novo.
- Acho meio difícil você fazer isso quando é a minha espada que está no seu pescoço.
- Detalhes. - Ela revira os olhos.
Soluço solta um assobio baixo:
- Acabou que tinha mesmo algo de errado com esse lugar, né? Velhinhas sequestradoras e tudo mais... Vamos logo dar o fora daqui.
Como se esperasse a deixa, a porta da frente bate com violência.
- Certo, esqueçam o que eu disse - Soluço tira a colher do bolso, que brilha e volta a ser uma espada. - Isso vai demorar um pouco...
Gothel abre um sorriso na boca murcha.
- Imagino que os cinco estejam aqui procurando respostas, não é? Querem saber como parar Urano.
- Tirou as palavras da minha boca. - Merida diz. - Como fazemos isso?
- Que tal uma troca? Vocês me dão o que quero e eu conto tudo o que sei. - Ela olha para os meus amigos, pousando os olhos em Elsa. - Acho que alguém perdeu uma menininha e não sabe por onde começar a procurar...
Vejo a tensão no rosto de Elsa, aquele semblante frio que costumava ter caindo por terra.
- Você sabe onde está a minha irmã?
- Ora, querida, não seja boba! É claro que eu sei. - Ela vira os olhos para Soluço. - Eu também sei explicar porque um certo alguém é terrível com máquinas e excelente com esses bichos que voam, os dragões. E posso fazer uma chamada direto do submundo para que um de vocês mate a saudade dos entes queridos. - Ela se vira para Hiro e depois se dirige à Merida. - E posso falar onde está o animal que alguém está caçando. Ah, isso sem mencionar como parar o Céu.
- Qual é o seu preço? - Elsa pergunta sem titubear, e sei que ela pagaria o que fosse para ter a irmã de volta. - Diga o que quer.
- Eu. - Respondo.
Os olhos de Elsa se viram para mim e é fácil entender que ela está considerando a proposta de Gothel.
- Sem chance! - Merida pega o arco e aponta uma seta para a mulher. - Você nos diz o que sabe e a gente vai embora.
- Eu acho que não entenderam os meus termos, Caçadora. Se não me entregarem de boa vontade, eu tomarei à força.
Merida solta uma gargalhada seca:
- Então tente.
- Como quiser...
Aconteceu tão rápido! Num segundo, Merida leva uma rasteira e cai, sendo arrastada pelos pés; alguma coisa rouba o bracelete de Elsa. Num piscar de olhos sinto um tapa na minha mão e a espada voa longe, um puxão no pescoço, um aperto nos pulsos, não consigo mover os pés: eu já estou completamente imobilizada no chão, raízes e galhos brotam pelas frestas no piso, saem dos vasos e arranjos, nos prendem em casulos.
Gothel riu:
- Sabe, eu não precisava ser a vilã.
- Senhora - Hiro cuspiu uma folha -, esse é um péssimo modo de tratar os fregueses.
- Vai parar de fazer piadinhas logo, logo, Hiro Hamada, a feiticeira Circe me ensinou alguns truques. E se fosse vocês, nem tentaria escapar, essas plantas não podem ser cortadas, estão enfeitiçadas.
Uma coisa cutuca minha barriga por dentro do casulo e lembro que ainda estou usando a bolsa de bombas. Uma vez, Astrid disse que algumas granadas explodem sozinhas. Espero que esse não seja o caso das bombas de fogo grego.
Gothel se vira para mim:
- Agora, vamos fazer isso de uma vez.
- Não me toque!
- Sinto muito, filha, mas o seu cabelo é a chave da imortalidade!
- Eu não sou sua filha - cerro os dentes. - E você não pode fazer isso, Tânatos me alertou.
- Está falando do que aconteceu naquele hospital, não é? - Ela cruza os braços. - É, aquilo deve ter enfurecido o senhor do submundo.
Estremeço dentro do casulo. "Se irritá-lo de novo, ele fará você descobrir que para algumas pessoas não existe paz na morte", Tânatos avisara. Se Gothel enganar a morte, duvido que Hades vá pensar duas vezes antes de me jogar no Tártaro junto com ela.
- Não gosto de mistérios - Merida exclama de algum ponto atrás do sofá, longe de onde eu possa ver. - Do que você está falando?
- Ah, os seus amigos não sabem?! Ha ha! - Um movimento com as mãos e cipós que brotaram do teto alçam uma Merida furiosa do chão. - Permitam que eu faça uma pequena demonstração.
Com um movimento teatral, Gothel se aproxima de mim e enrola uma mexa do meu cabelo na mão, começando a cantoria, brilha linda flor...
- Uou - Soluço arregala os olhos.
Meu cabelo brilha com uma luz dourada ofuscante e a cara de uva-passa de Gothel se estica na face de uma jovem e bela mulher; os cachos brancos escurecendo da raiz às pontas.
- Como você fez isso? - Merida se espanta.
- É a maldição de Delos - respondo. - Tenho a maldição de Delos no sangue.
- Incrível, não? - Gothel sorri, se mirando no espelho do outro lado da sala, amaciando os cachos.
- Como algo assim pode ser uma maldição? - Soluço pergunta.
- Isso é só um apelido idiota! Na verdade, estamos falando de uma florzinha amarela, aos montes em Delos, onde Ártemis e Apolo nasceram.
- Eu conheço a história - Merida conta. - Hera convenceu todos os lugares enraizados na terra a não permitirem que Leto desse à luz, exceto Delos, que na época era uma ilha flutuante. Quando os deuses nasceram, a ilha se encheu de flores amarelas, por ser agora um novo lugar sagrado. As flores simbolizam uma bênção, mas também são uma maldição porque a ilha se enraizou na terra e não pôde mais flutuar pelos mares. O que eu não entendo - ela continua - é o que isso tem haver com o que aconteceu aqui.
- Ah, isso é simples! - Gothel agita os braços no ar. - Eu descobri que se você cantar para uma dessas florzinhas colhidas por Apolo, elas te recompensam! Com um golpe de sorte, tomei uma delas pra mim, sem que o deus percebesse, mas um dia eu me distraí e uma menininha comeu a minha flor...
- Foi um acidente - Explico. - Depois disso, Gothel me sequestrou e passou a usar a mágica do meu cabelo...
-... que antes era mais comprido ainda - ela interrompe. - Depois que fugiu da minha torre, Rapunzel tentou se livrar dele, mas graças à maldição de Delos seus cabelinhos dourados cresceram rapidinho, não? E aí você tinha que fazer aquele espetáculo e chamar a atenção de Hades...
- Foi sem querer! Eu não podia deixar meu pai morrer, ele é tudo o que eu tenho!
- O que você fez? - Elsa pergunta, mas é Gothel quem responde.
- Ela cantou num hospital cheio de pessoas à beira da morte. Estava tão desesperada para salvar o pai, que o cabelo fez efeito em dobro!
- Eu não sabia que aquilo ia acontecer!
- Bem, isso não importa mais. Tenho a minha flor de volta. Ah, e vocês deveriam me agradecer. - Gothel tira quatro frasquinhos do bolso, balançando na sua frente. - Ser transformado em vegetal é muito melhor do que morrer nas mãos de Urano.
A mulher avança na direção de Merida.
- Sai de perto de mim, sua bruxa! Nã...! - Mas era tarde demais. Merida foi forçada a engolir o conteúdo de um dos frasquinhos, irrompendo numa crise de tosse.
- Para com isso, Gothel! - Berro. - Você já tem o que queria, deixe eles irem!
- Oh, por favor - ela faz um movimento de zíper por cima dos lábios e ramos da trepadeira cobrem minha boca, me calando.
- Huummph! - Grasno com folhas amargas na boca.
- Bem melhor assim! - Ela ri. - Ora, não sejam tão ingênuos, o que acharam que ia acontecer quando saíram nessa missão? Os seus inimigos, eles não são crianças bobas, não vão sair por aí com letreiros luminosos dizendo que querem matar vocês e não vão ser derrotados com conversinha, não... Eles são assassinos cruéis e calculistas, impiedosos. Ficar aqui é a melhor alternativa. Rapunzel, escute o que eu digo: você é fraca demais pra isso, Urano vai destruir tudo. - Ela solta um suspiro e se vira para Soluço. - Agora você, querido, sua vez, beba tudinho...
- Espera! - Ele olha para todos os lados. - E se negociarmos, hã?
- Negociar?! O que mais eu podia querer? Estou com a minha flor, os monstros estão voltando, a Foice nunca será achada...
- Foice? - Soluço repete. - O que é essa Foice? Você não... Ei! Hump...! - Gothel empurrou o segundo frasquinho contra a boca do garoto que tossiu violentamente depois de forçado a engolir.
- A Foice forjada por Gaia. - Ela diz e revira os olhos, vendo a interrogação estampada nas nossas caras. - Vocês não conhecem nem um pouco de história, não é mesmo? É a Foice que Cronos usou para dilacerar Urano. Ele quase morreu por causa dela, mas isso não vai acontecer de novo.
- Quase morreu? - Merida ecoa. - Que eu saiba, deuses não morrem.
- É claro que deuses não morrem, mas eles podem, hum... Cair num sono eterno, como um coma, sem morrer, mas também sem nunca acordar outra vez.
Mas que cheiro de queimado é esse?, faço uma careta e meus olhos pousam no casulo vazio de Hiro, os ramos tostados liberando um cheiro forte como incenso. Aquele danado conseguiu escapar! Mas como? Vejo um vulto com a esquina dos olhos e reparo que ele está bem ali, atrás de Elsa, trabalhando para abrir o casulo dela. Uh-oh, Gothel está se virando!
- Huuuuummmph! - Cacarejo arduamente, a voz abafada pela mordaça. - Huuummmmphhh! Humph-humph! Hummmmppphhh! Huuumphh!
Merida capta a mensagem.
- Pelos deuses! Acho que ela está engasgando! Alguém faz alguma coisa!
Gothel corre ao meu alcance e com um movimento de pulso, os raminhos destapam minha boca. Arquejo teatralmente, fingindo estar prestes a desmaiar.
- Muito apertado... Não consigo respirar...
Os galhos que prendiam o meu pescoço se soltam, o casulo afrouxa.
- Bem, não vou perder a minha flor de novo. Hum, mas que cheiro horrível de queimado é esse? - Ela começa a virar o rosto para trás.
- Espera! - Grito, chamando a atenção de Gothel, espiando por cima do ombro dela. Elsa tinha se soltado e Hiro saltita para libertar Merida. - Tem... chocolate dos biscoitos... no seu dente.
- Ah! - Ela cobre a boca com a mão, vaidosa o bastante para se preocupar com dentes sujos de chocolate. Merida se solta, Elsa procura nossas coisas atrás do balcão.
- Bem ali, no dente da frente - faço beicinho, indicando.
Gothel passa a língua nos dentes. Nojento.
- Saiu?
Hiro solta Soluço.
- Sim, acho que sim. - Meu coração acelera.
- Certo, agora vam...
- AAAAAAHHHHHHH!!!!
Merida se jogou por cima de Gothel como um jogador de futebol americano furioso, rolando com a feiticeira no chão.
- Rápido, rápido! - Apresso Hiro, que pula em cima do meu casulo. - Oh, meus deuses, Hiro!
As mãos do garoto pegam fogo, queimando os ramos até as cinzas, liberando um cheiro enjoativo de incenso e me libertando, caramba, que louco!
- Pronto, agora cai fora daí! - Ele ordena, os punhos são duas bolas de fogo.
Estou meio desorientada quando corro para o outro lado da sala, procurando minha frigideira. Tudo está uma loucura! Elsa congela cipós que brotam do teto, mas os poderes dela estão tão descontrolados, que um raio congelante passa raspando minha orelha! Soluço usa um regador para atacar girassóis assassinos, Merida sobe em cima de Gothel, imobilizando-a e segurando os cabelos da mulher, batendo a cabeça dela no piso.
Atrás de um dos sofás, alcanço minha frigideira e ainda bem que tenho reflexos muito bons. Assim que levantei, uma roseira ambulante cuspiu uma saraivada de espinhos na minha cara e por instinto, levantei a frigideira, usando como escudo. Como se soubesse, a arma virou a espada de bronze celestial e, sem pensar, investi contra o vegetal, que por vezes me chicoteava nas pernas.
Um último golpe de espada e a planta já era.
- Merida! - Soluço berra, chamando minha atenção.
Gothel está desacordada, muita pancada na cabeça dá nisso. Mas o problema é Merida.
- O que aconteceu com ela? - Soluço pegou a Caçadora nos braços.
- Se afaste... - Ela protestou, orgulhosa demais para aceitar ajuda masculina, mas sem forças para empurrá-lo.
A pele dela estava com um tom esverdeado, como o globo dos olhos. Parecia que tinham injetado uma dose alta de clorofila na garota, ela até cheirava como uma planta.
- A poção que ela tomou tá fazendo efeito. - Elsa fala do outro lado da sala, se afastando apavorada numa mini nevasca, mas sei que ela não está com medo de Merida. Ela parecia temer a própria neve.
- Achem um antídoto! Não fiquem parados aí! - Soluço ordena, o que é estranho. Nunca vi ele levantar a voz com ninguém.
- Ei, cara... os seus olhos... - Hiro aponta.
Os olhos de Soluço também parecem injetados de clorofila, como os de Merida. Ele tinha bebido a poção, estava se transformando num vegetal. A ruiva soltou um gemido nos braços dele, um raminho verde crescendo entre os cachos ruivos, a ponta dos dedos se esparramando pelo chão, como raízes.
Reparo a figura de Gothel se arrastar para longe.
- Você - me dirigi a ela, interrompendo sua fuga. - Vai reverter isso.
Ela ri seca em resposta, o rosto inchado, arrebentado e roxo.
- Acho que sei como ela pode nos ajudar - Soluço se levanta e tira um dos frascos do bolso dela, segurando a feiticeira pelos ombros. - Tem três segundos pra falar ou juro pelo Estige que vai ter o mesmo futuro que a gente. Um... Dois...
- Não seja estúpido.
- Três.
- N...! - Ele apertou as bochechas de Gothel, forçando a bebida pela garganta dela. A feiticeira ofega, tossindo. - Não existe antídoto, seu idiota!
- O quê?! - Hiro se abaixa, olhando a mulher nos olhos. - O que disse?
- Não existe antídoto. - Repete. - Agora nós três vamos morrer como malditas plantas!
- Ótimo - Hiro se levanta, dando um tapa atrás da cabeça do irmão. - Seu cocô de centauro, sabia que vegetais não falam? Como ela vai nos dizer onde tá a Foice?
Soluço olha para os lados, buscando uma solução.
- Rapunzel!
Pulo de susto ao ouvir meu próprio nome.
- O quê?!
- O seu cabelo - ele aponta. - É um tipo de cura, não é? Pode reverter o feitiço?
- E-eu não tenho certeza se...
- Então é o seguinte - Soluço se vira para Gothel -, se não nos disser onde encontramos a Foice, vamos te deixar virar mato.
- Eu não sei! - Ela diz, os olhos verdes de clorofila. - Ouvi falar que está protegida por uma deusa fria, na cidade de Fraser, no Colorado.
- Que deusa? Do que...
Ele para de falar, como se tivesse pegado no sono no meio da frase. Espinhos aparecem na pele de Soluço e seus dedos rasgam, ou melhor, raízes rasgam os tênis que ele usava, se espalhando pelo piso liso. Flores brotam dos cabelos de Gothel, os braços enrijecendo e se erguendo como galhos. Os dois ficam silenciosos como plantas.
Em dois tempos, é isso mesmo que eles são. Plantas.
- Você pode resolver isso, não pode? - Hiro pergunta, meio nervoso. - Pode trazer Soluço e Merida de volta?
- Posso tentar...
Hiro ergue a roseira (Soluço) e coloca perto do arbusto de calêndulas (Merida). Enquanto enrolo meus cabelos nos galhos deles, olho de soslaio para onde Elsa anda de um lado para o outro, em sua nevasca particular, claramente abalada. Se não fosse por Merida ter negado a proposta, se eu e Elsa estivéssemos sozinhas na missão, será que ela me negociaria com Gothel?
Ignoro esses pensamentos e começo a canção:
- Brilha linda flor...
Imediatamente os dois arbustos se chacoalham, as folhas secam e caem, as pétalas murcham e formas humanoides aparecem gradualmente.
- Vocês estão bem? - Passo os olhos pelos dois, suas roupas furadas, os pés descalços.
- Sim - Merida responde desnorteada -, mas estou com um desejo estranho de ser regada e adubada.
Abro um sorriso.
- Achei nossas coisas - Hiro aparece com o bracelete de Elsa, o arco de Merida, a espada de Soluço e as mochilas. - Agora precisamos ir embora, precisamos encontrar a Foice.
- Como vamos viajar para o Colorado? - Soluço questiona. - Não podemos ir pelo céu, é muito arriscado.
- E não sabemos se Gothel estava falando a verdade - Merida se levanta.
- Acho que ela não mentiu, ultimamente eu tenho tido uns sonhos esquisitos - Hiro confessa - com a região de Rocky Mountains e com... com essa Foice. Até agora eu não sabia porquê, mas acho que alguém tava tentando me avisar, tipo, pelos meus sonhos.
- Podemos pegar um táxi - sugiro e todos me olham como se eu fosse a loira burra.
- Érr... - Soluço tenta disfarçar o olhar "você-ficou-louca?", sem sucesso. - Não acho boa ideia.
- Confiem em mim, ok? Agora peguem suas coisas.
Quando todos já estão do lado de fora, viro para trás, contemplando o lugar uma última vez. "Você é fraca demais pra isso, Urano vai destruir tudo", Gothel havia dito.
Fraca.
Tiro uma das esferas coloridas da alça da bolsa, ativando o dispositivo. Lanço a bolinha amarela vários metros pelo ar, atravessando a janela. Então eu sou fraca, não é? Cinco segundos e a construção explode com um estrondo de tremer o chão, janelas de vidro, concreto voando longe, fogo grego incinerando tudo. Quando Urano me encontrar, vamos ver quem realmente é fraco.


Solstício de InvernoWhere stories live. Discover now