Capítulo 21 - A Possibilidade

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Rapunzel*

Depois de contar os escassos suprimentos, fecho o zíper da bolsa, passando a alça pelo ombro. Levanto a vista ao ouvir um longo riscar metálico, flagrando uma expressão assustadora no rosto de Merida enquanto a semideusa amola a lâmina da espada de prata numa rocha.

- Eu realmente não queria estar na pele do monstro que te provocou - digo ao sentar ao lado dela, tentando aliviar a tensão dos ombros da filha de Belona. - Ainda não vi você dormir, precisa descansar, Meri.

- Posso descansar depois de morta.

Eu nem discuto. Apenas faço um movimento com a mão, indicando a espada:

- Vamos, passa isso pra cá.

Ela rola os olhos, mas entrega a arma.

- Então, o que foi? - Pergunto suavemente.

- O que foi o quê?

Levanto uma sobrancelha.

- Eu conheço você, Merida. E mesmo se não conhecesse, conseguiria ler no seu rosto que tem alguma coisa te deixando maluca, uma coisa... Uma coisa daqui. - Ponho a mão por cima do coração.

A Caçadora solta uma risada irônica.

- A coisa que tá me deixando maluca fica aqui. - Ela coloca minha mão um pouco mais para baixo, na direção do estômago. - E se chama "fome".

Eu estou prestes a fazer um longo sermão sobre o assunto, quando Annabeth aparece.

- Estão prontas? Já vamos sair. - Ela fala e vai embora.

Merida se levanta num pulo, esticando a mão:

- Minha espada, por favor.

Evito fazer cara feia, me pondo de pé e entregando a espada prateada.

- O que aconteceu com o seu arco?

- Mor'du o partiu em dois - ela rosna furiosa -, e eu vou retribuir o favor fazendo o mesmo com a cabeça dele.

Fico parada, olhando a Caçadora sair. Ela sempre foi assim, espirituosa, forte. Mas desde que essa missão começou, a ruiva têm mudado, como se a qualquer momento pudesse ter um rompante de fúria e saísse cortando o pescoço de quem quer que tenha o azar de estar por perto.

E não é só ela, passo a vista ao redor.

Soluço não é o mesmo semideus atrapalhado que conheci. Agora ele é um corajoso cavaleiro de dragões. Hiro, ainda que pareça ser o mesmo menino maluco por vídeo game que não vê a hora de "chutar o traseiro dos monstros" (como ele mesmo diz), conseguiu amadurecer no curto período de tempo em que estivemos fora do acampamento. Elsa, mesmo continuando a ser a garota introvertida com receio de falar com as pessoas, também mudou, mas talvez, assim como à Merida, essa missão esteja mexendo com ela de um jeito negativo: a filha de Quione anda irritadiça, exausta.

- E você também não escapa, Zel. - murmuro comigo mesma, seguindo pela direção em que Merida foi. Eu tinha que admitir que, desde a floricultura da Mãe Gothel, tomei uma dose de coragem.

Chego até a parte aberta do descampado, bem a tempo de ver Leo Valdez montado no dragão de bronze, pronto para levar os semideuses feridos para o acampamento meio-sangue.

- É isso aí, amiguito, chegou a hora de ir embora - Valdez dá tapinhas na cabeça de Festus, que estala animadamente em código Morse -, então vamos, ao infinito e além!

Olho, maravilhada, para o dragão que corre ganhando velocidade, abrindo as asas de bronze para alçar voo, seguindo para Oeste. Quase pulo de susto quando Tadashi se materializa bem atrás de mim como se tivesse brotado do chão, reclamando:

Solstício de InvernoWhere stories live. Discover now