Capítulo 45 - Memória

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Notas iniciais: Por favor, ignorem qualquer erro, minha mente está avoada.

Elsa*


Os jardins de Mnemosine são enormes, lindos como jamais vi. Mais perfumados que as flores crescendo nas janelas do chalé de Afrodite e mais verde e cheio de vida que o próprio chalé de Deméter. Por outro lado, eu não conseguia prestar atenção em muito disso. O humor indecifrável de Jack me incomoda. Se não fosse pelo fato de estar se movimentando ao andar ou que sinto a pele de sua mão na minha, não seria difícil confundi-lo com uma das muitas estátuas espalhadas no jardim, de tão silencioso que ele está.

Sacudo a cabeça, olhando ao redor. Soluço mantém no rosto uma expressão sombria demais, perturbado pelos próprios pensamentos. Percy e Nico não poderiam estar mais confusos, coçando a cabeça como se estivessem prestes a se recordar de algo que lhes escapou, como realmente parece ser o caso. Bem, acho que Jack teve total razão ao dizer que a presença da titânide remexia com nossas lembranças, até as minhas mais antigas estão claras como água.

Mas tento não pensar no passado. Sigo o exemplo de Annabeth e meus olhos fazem um scanner da arquitetura do templo que aos poucos surge à frente enquanto subimos a pequena colina: colunas altas e teto abobadado, num misto entre greco-romano, indiano, nórdico e tantos outros estilos, harmônicos entre si.

— Você não vai conseguir — Hiro se dirigia a Vanellope —, é melhor me passar aqueles dracmas agora, antes que a humilhação seja mai...

Depois de saltar no ar como um gato, a garota se vira para ele com um sorrisinho.

— O que você tava dizendo mesmo? — Ela arqueia a sobrancelha, revelando nas mãos um passarinho colorido raivoso. — Eu te disse, miolo-mole, sou a semideusa mais rápida que você vai ver na vida.

— Baixa a bola, Barry Allen — o garoto rebate —, isso não prova nada.

Vanellope abre a boca, prestes a soltar uma resposta atravessada, quando Annabeth a interrompe para nos mostrar mais uma vez que realmente é uma enciclopédia viva:

— É um beija-flor, as asas batem cerca de oitenta vezes por segundo, são extremamente rápidos e ágeis, as únicas aves capazes de ficar imóveis no ar e de voar em marcha ré.

— Viu? — Vanellope mostra a língua para o filho de Hefesto, vitoriosa. — Acho que isso prova, sim.

— Esse beija-flor aí também é o animal sagrado de Mnemosine — Annabeth continua, virando o rosto para olhar na direção dos dois. — E vocês não vão querer ofendê-la.

A filha de Hermes arregala os olhos e abre as mãos de vez, libertando a pequena ave. Só então reparo que há várias delas zanzando por aqui, tão velozes que se tornam um borrão colorido em tons de verde, roxo e amarelo, brilhante e excêntrico como a garota lírica sentada à beira da fonte gorgolejante e melodiosa que completa o cenário.

A titânide Guardiã das Memórias.

Para uma divindade milenar, Mnemosine é, no mínimo, intrigante. Cabelo castanho com uma coroa de penas multicoloridas, íris cor de violeta e roupas de uma adolescente comum. Só que ela está longe de ser uma adolescente comum. E não digo isso só por causa da maquiagem extravagante e, bem, por ela ser uma titânide, mas também pela simples presença dela, gentil e cordial como a fada que é.

— Eu não estava esperando visitas — seus olhos elétricos, rápidos como milhões de beija-flores, vacilam ao pousar num ponto atrás de mim. — Jack.

Instintivamente viro a cabeça para olhar o Guardião por cima do ombro – olhos gelados num rosto vazio. Eu conheço essa expressão, é a mesma que faço quando me estrangulo por dentro com a Apatia.

Solstício de InvernoWhere stories live. Discover now