Capítulo 54 (Parte II) - Flecha Selvagem.

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Notas iniciais: leiam as notas finais, é importante! Boa leitura :)

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Merida*

Cerca de quinze minutos atrás.

Já não sinto mais as assaduras que o couro das rédeas fez nas minhas mãos, tampouco os arranhões que antes ardiam os braços. Meus olhos estiveram tão focados no ponto de luz azul, que minha atenção não pôde ser dividida com mais nada além daquilo. A não ser pelo vento furioso que ricocheteava meu cabelo ou pela esperança de encontrar o cavaleiro de dragões, que me fazia sentir tão estúpida e cada vez mais certa do que fazia.

A única coisa que me obrigava parar e desmontar o pégaso era a luz mágica, que sumia, se recusando a aparecer para me forçar a descansar. Além disso, Angus ainda tinha a asa machucada, mas graças aos unguentos de Calisto, em poucos dias, o cavalo alado estava completamente curado.

Agora, cavalgo por terra, poupando as asas do pégaso negro e levantando uma trilha de poeira pelo deserto texano. O terreno fica íngreme, com pedregulhos, quando adentramos a floresta quente e escura, por onde a luz mágica nos guia. Angus desvia de árvores e galhos para finalmente irrompermos no topo de um penhasco.

É quando vejo a flor verde luminescente que se levanta no horizonte, abrindo suas pétalas na explosão devastadora que ressona até onde estou.

— Mas que Hades eles estão fazendo?! — Murmuro comigo mesma, ao tempo que Angus está correndo para a beira do despenhadeiro, abrindo as longas asas de penas negras.

Seguro firme nas rédeas quando alçamos voo. A ventania açoita todo o meu corpo com violência. A ilha flutuante é uma silhueta colossal, eclipsando o sol atrás dela. Agora que estamos no céu, os pontos de luz azul se parecem com pássaros mágicos, voando logo à frente. Meu sangue gela cada vez mais.

Primeiro, sobrevoamos a base dos meios-sangues antes de passar pela floresta árida e finalmente alcançar a zona de guerra em cinzas. Persigo os pontinhos azuis sussurrantes que atravessam o céu, mas é impossível não olhar para o massacre lá embaixo. Uma onda laranja de semideuses do Acampamento Meio-Sangue investe de frente contra o exército monstruoso de Urano, enquanto que a horda roxa bem organizada do Acampamento Júpiter os destrói por trás.

No céu, fúrias e harpias e todo tipo de terrores voadores cruzam meu caminho, mas estes obstáculos explodem no ar antes mesmo de me notarem – os monstros estão mais preocupados com a chuva de prata que são as setas das Caçadoras de Ártemis. Minha garganta incha dolorosamente e as mãos suam quando avisto as donzelas furiosas. Katniss é um pássaro em chamas com seu arco e flecha, liderando as seguidoras da deusa. Só que os meus olhos não se demoram nas minhas irmã... Digo, nas Caçadoras. Preciso chegar ao meu destino.

Ao me aproximar da ilha gigantesca, reparo nos quatro jardins que cercam o castelo do Senhor dos Ventos, como as sessões entre os raios de uma roda. Cada uma parece estacionada numa estação do ano diferente. Antes que eu me pergunte para onde deveria ir, a luz mágica mergulha para o marrom-avermelhado do Jardim de Outono.

Angus baixa o voo, seus cascos riscando as folhas secas das árvores. Meu pulso acelera, as mãos suam. Quase não consigo respirar. As luzes mágicas se agitam, nervosas como eu. Devo estar perto.

Finalmente, avisto o logradouro, o local onde acontecerá o ritual do equinócio de outono para despertar Urano. Só que a minha atenção é capturada primeiro pela bola gigante em chamas que é o urso negro – Mor'du. Meu inimigo mortal está ardendo em agonia, seus urros de dor me assustam.

Alguns metros ao lado daquele quadro de horror, um altar de pedra polida acorrenta uma jovem deusa banhada no dourado do próprio sangue divino. Ártemis. Minha patrona aguenta o tormento como pode.

Solstício de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora