Capítulo 26 - Por Água Abaixo

2.2K 225 509
                                    

Elsa*
Momentos antes.

Eles chegaram atacando do nada.

Bigas aladas em formações de V como aves mortais cruzando o céu em nossa direção, lideradas por uma plataforma puxada por pégasos, que nem uma espécie de carruagem gigante. Atiraram lanças contra os nossos dragões em tiros precisos e brutais que cortavam as nuvens e o vento. Eu nem tive tempo de reagir quando uma dessas lanças atravessou a pele branca, dura e áspera do Alfa, se enterrando alguns centímetros para dentro das costelas, errando o meu pé por pouco.

Grito quando o dragão cai alguns metros do céu antes de voltar a bater as asas.

- Tá tudo bem agora, Elsa! - Jack vocifera por cima do ruído do vento. - Olhe pra mim, é o seguinte: não gosto da ideia de você empunhar essa Foice, mas não vou conseguir lutar direito se ela continuar assombrando meu cajado. Aqui, se prepare. Apokalýptoun - a apalavra conjura um redemoinho de neve que revela a Foice. Estico os dedos para que o cabo pouse diretamente em minhas mãos trêmulas, evitando que a arma toque na pele do Guardião. - Ok, fique aqui.

- O quê?! Não! - Protesto. - No que você tá pensando?

- Em te proteger, é claro.

- Você tá sendo estúpido - falo. - E eu não preciso de um Guardião.

Ele me ignora completamente.

- Eu vou dar um jeito nisso. - Jack se inclina, me dando um beijo na testa.

E antes que eu possa impedir, ele ergue o cajado e some de vista.

Respiro fundo, me acalmando.

- Sem problemas. Eu consigo fazer isso.

Minhas mãos trêmulas e suadas prendem a Foice no suporte da sela que o cajado de Jack ocupava. Numa batalha como essa, é melhor usar o bracelete. A arma reluz um brilho gélido ofuscante ao se alongar no arco de prata, a flecha de gelo materializando-se instantaneamente entre os meus dedos.

- Ainda consegue lutar? - Pergunto ao dragão albino por cima do zumbido do vento.

Em resposta, o Alfa bate as asas e dá meia volta, me fazendo reparar que estamos perto de uma das várias formações em V que estão nos atacando, essa, com várias líderes de torcida em bigas aladas.

Atiro uma flecha na direção da capitã do time, ganhando sua atenção ao atingir, de raspão, seu belo rosto que tremeluz, revelando a ilusão que esconde a carranca de uma empousa.

- EU ACHO QUE ALGUÉM ACABOU DE PEDIR PRA MORRER! - Ela berra no autofalante. - VAMOS LÁ, MENINAS, EU QUERO A CABEÇA DA FILHA DE QUIONE!

Elas avançam animalescas e uma vez com a seta armada no arco, entro no piloto automático, mirando e atirando. O Alfa me ajuda como pode, disparando agulhas de gelo, derrubando metade das empousas e deixando o restante para mim, mas o medo da altura afeta minha mira, de forma que só consigo manter os monstros a certa distância, sem realmente acertar golpes mortais.

Concentre-se, a voz fria e cristalina me faz pular de susto. Prove aos seus inimigos sua força. Mostre a Urano de quem você é filha.

- Quione... - O nome dela ecoa num murmúrio em meus lábios.

E como se ativada pela presença da deusa, a Apatia se espalha devagar no meu sistema, esfriando meu sangue, entorpecendo as emoções que me atrapalham.

Puxo uma seta no arco e atiro no pescoço da última líder de torcida.

- VAI SE ARREPENDER, SEMIDEUSA!!! - A capitã do time ameaça.

Solstício de InvernoWhere stories live. Discover now