Capítulo 28 - (Des) Lembre-se

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Elsa*

Meus pulmões queimam e nenhum ar que eu já tenha respirado algum dia será tão bom quanto o de agora - minha respiração entrecortada significa que o terror de ainda a pouco já acabou. Ainda estou um pouquinho nervosa quando Jack se abaixa e abre os braços para mim, onde não perco tempo em me colocar. Ele me ajuda a levantar, meu próprio peso é um sofrimento para os meus joelhos bambos.

- Aposto que foi uma boa luta, hein, floquinho? - Frost diz baixinho em meu ouvido, tirando uma mexa de cabelo molhado das minhas bochechas.

- A melhor do dia - a resposta sai numa vozinha trêmula. Engulo seco; a garganta ardente.

Estou ensopada até os ossos - o que é de se esperar quando se luta contra o filho do deus do mar - e cada centímetro do meu corpo dói. Meus dedos instintivamente se agarram no moletom de Jack, da mesma forma desesperada de quando estávamos voando e eu me prendia ao Guardião.

Meus olhos batem no filho de Poseidon, desacordado e estirado no chão coberto pela neve que há pouco conjurei, e um calafrio estremece meu corpo.

- Ah, meus deuses, ele está...?

- Não. - Jack fala de imediato. - Ele vai ficar bem.

- Annabeth - murmuro ao avistá-la por cima do ombro do Guardião.

Ela se arrasta debilmente até nós, por vezes pulando num pé só ou mancando e tropeçando. Um dos pés da semideusa tão inchado e roxo que meu estômago se contrai. Annabeth não esconde os olhos vermelhos e nem limpa as lágrimas, sequer tenta suprimir os soluços do choro - a filha de Atena ignora nossa presença por todo o tempo que leva para ficar de joelhos ao lado do namorado, apoiando a cabeça do semideus em suas pernas e passando as costas da mão carinhosamente pelo seu rosto. A cena salpica meus olhos e aperta o peito.

- Seu cabeça-de-alga idiota - ela sussurra com um sorriso frouxo nos lábios -, quando você vai aprender a não sair mais de perto de mim?

- O que aconteceu aqui, Elsa?

Movo os olhos de volta para Jack, finalmente dando uma boa olhada nele e reparando um corte superficial em cima da sobrancelha, vergões cruzando um lado do rosto e o olho meio fundo e roxo. Tento não me perder com essas informações e começo a explicar as coisas, por vezes me atrapalhando com as palavras e falando um pouco rápido demais. Ao fim, Annabeth permanece em silêncio, pensativa, os olhos perdidos num ponto fixo, calada demais para a semideusa sempre ativa que ela é.

- Você disse que havia três pessoas? - Jack questiona. - Conseguiu reconhecer as vozes? Tem certeza de que não tinha ninguém mais conversando com essa Lissa?

Sacudo a cabeça.

- Três pessoas. Acho que todos eram semideuses. Não consegui reconhecer as vozes, nem sei direito se eram vozes femininas ou masculinas, mas tenho certeza que nunca ouvi nenhuma delas antes. Quer dizer - viro a cabeça para o garoto desmaiado -, agora sei que um deles era o Percy... Mas não consigo entender - uno as sobrancelhas, genuinamente confusa -, por que ele me atacaria desse jeito? Por que se uniria a Urano? Isso não faz sentido.

- Foi a deusa - Annabeth é quem responde, por fim. - Acho que Lissa estava manipulando ele, é a única resposta lógica. Deixou "o filho do mar insano". Eu conheço o Percy, ele nunca machucaria alguém sem motivo, muito menos se aliaria a um primordial como Urano. E quanto aos Três Campeões - ela prossegue -, eu tenho um palpite. Sabemos que um deles era o Percy. Os outros dois devem ser Nico e Jason.

- Faz sentido - Jack coça o queixo, ponderando -, Três Campeões, três filhos dos Três Grandes. Vai ver é como você contou, Elsa, que a própria Lissa disse: ela é louca, não burra.

Solstício de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora