Capítulo 25 - Queda Livre

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Hiro*

A maioria das pessoas dorme às 04h45 da manhã. Nesse horário, eu martelo pregos e aperto parafusos, concentrado em engrenagens pra não pirar de vez, montando peças até quase cair duro no chão. Acho que, se eu trabalhar muito, vou ficar cansado o suficiente para dormir assim que deitar a cabeça no travesseiro. É que tive um pressentimento idiota que tá me tirando o sono e manter a cabeça ocupada foi o jeito que eu arrumei pra não me preocupar.

Passo um bom tempo nisso de manter meus dedos ocupados com chaves inglesas, fios de cobre e tudo o mais que possa sair desse lindo cinto de ferramentas. Legal, né? Valdez que deu, pouco antes de viajar de volta para o Acampamento Meio-Sangue. Acho que Tadashi conseguiu deixar o semideus com pena de mim - coisa que detesto - e aí ele me chamou num canto e disse:

"Cuide bem dele, hermano", Leo me entregou o cinto de ferramentas como se fosse ouro, uma mistura de nostalgia e orgulho no rosto. "Ele salvou minha vida quase um milhão de vezes e acho que pode quebrar o seu galho agora".

Caramba, era o dia mais feliz da minha vida! Leo Valdez, o filho de Hefesto mais famoso do mundo, estava me dando o cinto de ferramentas que ele usou na guerra contra Gaia, faz ideia do valor dessa relíquia?!

O semideus já estava indo embora quando se virou de volta para mim, como se lembrasse de uma coisa muito importante. "Ah, caso uma deusa da neve te catapulte para fora do seu navio voador, sugiro tirar alguns metros de lona do cinto", e acrescentou: "e tente cair numa ilhota esquecida pelos deuses no meio do nada com uma garota muito bonita e muito irritada". Valdez piscou com um sorrisinho de cumplicidade antes de montar em Festus e sair voando.

- Acordou cedo, pirralho. - Tadashi resmunga com um bocejo, dispersando meus pensamentos.

E quem disse que eu dormi?, pergunto mentalmente, notando o brilho dourado que atravessa as frestas da cortina. Movo os olhos para o relógio no meu pulso. 7h30min.

Ouço meu irmão se espreguiçar e se levantar.

- O que você tá fazendo aí? - Ele espia por cima do meu ombro, passando os olhos pela mesa bagunçada na minha frente.

- Usando meu brinquedo novo - respondo distraído, tirando alguns pregos do cinto.

- Você deu sorte, herdou o cinto do Valdez, acho que ele foi com a sua cara.

Eu duvidava muito de que Leo tivesse me dado sua relíquia simplesmente porque foi com a minha cara. Além de que Tadashi fez todo mundo sentir peninha de mim, algo me dizia que Leo fez isso porque tinha escrito "MOLEQUE AZARADO COM ALTAS CHANCES DE MORRER" bem no meio da minha testa. E, secretamente, eu desconfiava que o semideus tinha tido alguma espécie de mau presságio comigo. Desde que me viu, ele ficava me olhando estranho.

É claro e evidente que eu nunca ia dizer isso pro meu irmão. Tadashi tem um talento natural para ser paranoico eu não vou contribuir com sua chatice.

- Isso aí é uma perna? - Ele aponta a prótese em cima da mesa.

- É - aperto o último parafuso, me virando para o meu irmão -, fiz pro Soluço, acho que ele já tá de saco cheio de ficar pulando num pé só por aí. Sem falar que ele tem que aguentar as piadinhas do Jack.

Tadashi dá de ombros.

- Acho que as piadas de Frost são a pior parte.

Sorrio e pego a prótese, levantando da cadeira e me dirigindo para fora. Soluço dormiu no final do corredor, perto do quarto de Merida, Rapunzel e Annabeth, só para o caso dele precisar de uma mãozinha da peruca mágica da filha de Afrodite. Mas quando passo pela porta do seu quarto, noto o cômodo vazio, então viro o corredor e entro na cozinha, sendo recebido com um coro de "bom dia".

Solstício de InvernoWhere stories live. Discover now