Capítulo 53 - Súplica

770 113 246
                                    

Elsa*

Os ventos da alvorada que batem fortes nas minhas bochechas, cortam pelas asas brancas da cor de osso do meu dragão da neve. Meu coração disparado agora pulsa descontroladamente assim que me inclinei para olhar lá embaixo.

Não é só a altura que faz um comichão esfriar a minha barriga, mas toda a cena de violência, se desencadeando como uma dança mortal. Estou sobrevoando agora a área em que o bosque acaba e o descampado começa. Fumaça e cinzas se dispersam no ar enquanto semideuses e monstros rodopiam em batalha. No chão, se forma um aglomerado de poeira de monstro e corpos de meios-sangues.

— Olha!

Ergo a cabeça para Soluço, logo a minha frente, que grita por cima do vento, apontando para um lugar lá embaixo. Sigo na direção que ele indica e um sorriso brota em meu rosto ao ver a legião romana avançar.

Meus olhos são rápidos em entender a estratégia – afinal, eu mesma estava lá quando Jack bolou o plano: cercar as tropas de Urano no centro do campo de batalha, de forma que o Acampamento Meio-Sangue avançasse primeiro, vindos da floresta, para que o Acampamento Júpiter chegasse de surpresa, por trás dos inimigos, deixando-os sem saída. Assim, depois que nossas unidades aéreas tivessem limpado o céu das fúrias e de todos os outros monstros voadores, terminaríamos o serviço, atacando por cima, com flechas e onagros, e por baixo, com espadas e lanças.

Só que os monstros não se deixarão abater tão fácil.

— Precisamos aterrissar! — Berro para Soluço.

— Ali.

Ele mal indicou o lugar e já se dispôs a mergulhar de cabeça com Banguela. Seguro firme na sela quando o Alfa faz o mesmo movimento, perfurando os ventos como uma agulha. Antes de pousarmos por fim, os dragões ferozes abrem a boca fatal numa enxurrada quente e fria, eliminando os monstros que formavam obstáculos pelo caminho e deixando os semideuses surpresos, assustados e maravilhados.

Soluço não tarda em descer do Fúria da Noite, se provando ser um espadachim muito mais habilidoso do que era quando saiu em missão. Sua espada de fogo – Inferno – é um borrão laranja incandescente que incinera tudo ao seu redor. Alguns metros a sua frente, Hiro e Vanellope são uma dupla voraz e harmoniosa, recebendo cobertura de Ralph, o ciclope, e do dragão vermelho-escarlate que sobrevoa o perímetro, cuspindo uma cortina incendiária.

— Vamos acabar logo com isso — digo suave, acariciando as escamas da pele dura e áspera do meu dragão albino, que solta um rosnado gutural do fundo da garganta, fazendo o chão tremer.

Ele se volta para as dezenas de ciclopes, mulheres-serpente e empousai que correm ao nosso encontro, e cospe o jato de cristais de gelo e neve. Alcanço meu bracelete, que se estica no arco gelado. Puxo o cordão, materializando as flechas que eliminam os monstros restantes, para que os outros semideuses possam avançar.

Continuamos nesse ritmo por mais duas fileiras até que eu ouça o rosnado colossal retumbar na atmosfera.

A Hidra.

Vários metros de onde estamos, o monstro gigante faz o terror a noroeste do campo.

— Fique aqui por um momento — falo para o dragão.

Sinto o impacto nos joelhos quando pulo das costas do Alfa para o chão, procurando pela filha de Ares que vi há pouco.

— Astrid!

A semideusa termina de rasgar o peito de um telquine, que cai de imediato. Ela pisa no ombro do monstro fechando os dedos ao redor do cabo do machado, puxando-o de volta para si. O monstro se decompõe em pó.

Solstício de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora