Capítulo 6 (Parte 1)

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Por Bella Cullen
[...]
Acordei um pouco confusa e sonolenta. A impressão que eu tinha era que eu havia dormido durante horas, mas continuava com sono e me sentia fraca. Muito fraca. Minha garganta estava queimando de tão seca. Eu sentia tanta sede que demorei a perceber que todo o meu corpo estava dolorido, como se eu tivesse sido atropelada por uma manada de elefantes.
Oh!
Tento limpar minha mente, mas estou confusa demais para me lembrar de alguma coisa. Além disso, minha garganta está queimando. Preciso de um copo com água, urgente. Abro os olhos e sou tomada por uma sensação de segueira. O quarto é branco e muito iluminado. Demoro um pouco para reconhecer que estou em um quarto de Hospital, e quando finalmente me dou conta disso, minga memória é tomada por flashes rápidos de Edward, dos médicos, tesouras pontudas, choro, bebês... Bebês! Minhas filhas!
Minhas mãos vão imediatamente para a minha barriga. Imediatamente eu sei que elas não estão mais lá. Tento clarear meus pensamentos, mais minha cabeça dói e eu suspiro frustrada. Meu Deus, o que aconteceu? Onde está Edward? Onde estão as minhas filhas? Rezo para que elas estejam bem, sentindo uma pontada de desespero. Quando tento me levantar sinto, como se dezenas de facas afiadas fossem cravadas na minha cintura.
- Ai!- Gemo, e percebo a aproximação de uma pessoa.
-Acalme-se, Sra. Cullen. –Uma enfermeira ruiva, de estatura média, e com um sorriso acolhedor, se aproxima de mim para me tranquilizar. –Não se esforce. É normal que se sinta um pouco confusa pelo efeito da anestesia, mas isso logo passará. A Senhora está no Hospital, recém-operada e é mãe de duas lindas meninas. Elas são perfeitas e estão ótimas. –Ela falou rapidamente, e um sorriso aliviado e feliz surgiu nos meus lábios. Graças aos céus! Elas estão bem. Minhas filhas estão bem! Isso era tudo que importava, e me fez me sentir em paz. Deixei meu corpo relaxar, e fiz uma careta ao sentir mais uma pontada de dor, mas ignorei-a, olhando paa a enfermeira que ajustava o meu soro. Ah, o soro! Agulhas... Arg! Balancei a cabeça para afastar esse pensamento. Eu queria saber mais sobre as minhas filhas, sobre Edward... Tantas perguntas... Mas antes...
-Eu estou com sede. Pode me trazer um pouco de água, por favor? –Ela pareceu hesitar, mas logo depois sorriu travessa, indo até uma jarra de vidro sobre uma pequena mesa de aço existente ali, e me servindo meio copo de água.
-Eu não deveria estar fazendo isso... O Dr. Brand ainda não me deu autorização para dar-lhe qualquer tipo de líquido... Mas ele não precisa saber, certo? –Ela tinha um sorriso de menina. Aquilo me lembrou Alice, e eu acabei sorrindo com ela enquanto saciava a minha sede com a água. Oh! Ao engolir o líquido todos os meus musculos se contrairam em protestos de dor. Mas ainda assim, a sede era maior que qualquer dor. Nunca um copo d'água foi tão delicioso.
-Não se preocupe. Não contarei nada. Esse será o nosso segredo. –Falei, entregando o copo a ela e resistindo a vontade de pedir mais água. Eu ainda estava com sede, mas pelo menos minha boca não estava tão seca. Eu não queria colocar a pobre e gentil enfermeira em apuros. –Obrigada! –Agradeci.
Ela é jovem, bonita e simpática. Imediatamente gosto dela. Ela é o oposto das enfermeiras de cara amarradas que me atendiam quando eu era criança e me lembra a Alice. Vejo nela uma amiga.
-Há quanto tempo eu estava dormindo? –Comecei, e ela me fitou sorridente.
-Umas seis ou sete horas. –Respondeu com simpatia. Minha boca se abriu.
Muito menos tempo do que eu pensava. Por isso ainda me sinto cansada.
-Que horas são agora? –Pergunte e ela olhou brevemente para o relógio.
-Já é noite. Quase dez horas. –Informou prestativa. Oh, já é noite!
-Onde está o meu marido?
-Ah, o Sr. Cullen... –Ela sorriu como se lembrasse de algo engraçado. –Ele está lá fora... Está muito ansioso para vê-la. Estou surpresa por ele não ter invadido a sala ainda. –Ela sorriu e eu sorri também, entendento o motivo do humor dela. Edward... –Ele a ama muito. –Não era uma pergunta. –É lindo de se ver o jeito que ele a olha. –Eu sorrio bobamente.
-Eu também o amo. Mais que a mim mesma. –Suspiro.
Ela sorri.
-Dá para ver... A senhora chamou o nome dele algumas vezes durante o sono. –Ela confessou e eu corei. Por favor, que eu não tenha falado nada contrangedor! Implorei mentalmente, mas ela continuava com aquele sorriso sincero e gentil. Isso me tranquilizou. Eu me sentia à vontade falando com ela. - A propósito, me chame de Ana. –Ela falou, e eu sorri pra ela.
-Ok, Ana. Então me chame de Bella. –Falei informalmente.
Eu amo o sobrenome Cullen, mas prefiro ser chamada pelo meu apelido. E lá começava a nossa amizade, por mais que ela só dure enquanto eu estiver aqui internada. Toda boa amizade começa com o fim das formalidades e com um chamando o outro pelo primeiro nome ou apelido.
Depois de meia hora de conversa, eu já sabia muita coisa sobre ela, e vice-versa. Ela é casada, mãe de um menino de um ano, mora com os pais e o marido e trabalha como enfermeira há três anos. Parecia que eu a conhecia a vida toda. Depois da nossa conversa, não contive a curiosidade e me senti confortável em fazer mais perguntas sobre as minhas filhas. Cada resposta fazia meu coração se encher de alegria. O meu sorriso bobo aumentava com cada detalhe que a enfermeira me fornecia. Para ela, um simples detalhe, mas para mim, algo mágico e indescritível.
-As duas são muito pequenas, mas ainda assim estão acima da média de peso e de tamanho para bebês na sua idade. São saudáveis e o Dr. Brand disse que, se não houver nenhum problema, daqui a um mês elas receberão alta e poderão ir pra casa! –Aquela foi a melhor noticia que eu recebi desde que soube que estava grávida. Um mês... Mesmo parecendo tanto, é bem menos tempo do que imaginávamos.
-E como elas são? –Perguntei ansiosa por mais detalhes. Eu tinha a vaga lembrança dos seus rostinhos de Anjo. Sei que são lindas, mas não pude ver muito já que estava com os olhos cheios de lágrimas, e elas estavam sujas de sangue. Eu queria alguma informação sobre como elas são para poder criar uma imagem mental das duas.
-Ah, eu não pude ver as duas de perto. Só uma delas. Eu a dei banho. Ela tem um fino cabelo louro, e é bem calma. Acho que ela se puxou ao seu marido, embora ela seja pequena demais para sabermos com quem ela parece... A outra não vi muito bem. Elas são gêmeas bivitelinas. Não são identicas. Podem ser parecidas, mas não iguais. –Ela informou. Aquilo foi o suficiente para encher meu coração de amor. Quer dizer que até então Alice está ganhando a aposta, pensei divertida com o sorriso mais bobo do mundo imanginando minhas princesas parecidas com o pai. Ok, eu sou uma mãe muito, mais muito coruja.
-Quando vou poder ver as minhas filhas? –Perguntei ansiosa. Por mim eu ignoraria a dor e iria vê-las agora mesmo.
Ana sorriu com a minha empolgação. Tenho certeza que meus olhos estão brilhando como os de uma criança na Disney.
-Quando o Dr. Brand lhe der permissão. Provavelmente só depois de amanhã. –Respondeu, e minha impaciencia aumentou. São só dois dias Bella! Meu subconsciente falou na tentativa de amenizar minha ansiedade.
"Só", debochei. Pode parecer pouco, mas para mim, que não vejo a hora de ver as minhas filhas, isso parece uma eternidade.
Tentei me mecher, e novamente senti aquela sensação de estar sendo perfurada por diversas facas. Au! Não consegui conter o gemido de dor. Nossa, aquilo doía demais!
-Oh, está muito dolorida Sra. Cull... Er, Bella? –Ana se corrigiu e eu fiz que sim com a cabeça.
-Eu vou aplicar um analgésico. Já está tarde. Você precisa dormir... Amanhã o Dr. Brand irá examiná-la e você poderá ver seu marido e outros familiares. –Ela falou, pegando um estojo, colocando uma agulha e em seguida mergulhando a agulha dentro de um frasco de vidro. Oh, meu Deus! Injeção não, por favor! Imploro mentalmente.
Ana se aproxima de mim com a injeção, e eu acho que vou desmaiar.  No entanto ela se aproxima da bolsa de soro e aplica a injeção ali. Graças aos céus! Não no meu braço... Uffa!
-Eu tenho que ir agora. Descanse  Bella. –Ela falou gentilmente.
Nossa, bendito analgésico! Eu já me sentia bem melhor e muito sonolenta.
-Obrigada, Ana. Uhm... Boa noite. –Agradeci, retribuindo sua gentileza.
-Boa noite. –Falou e saiu, me deixando sozinha.
Não demorou muito e dormi com o efeito dos analgésicos.
[...]
No dia seguinte acordei ainda dolorida, mas bem melhor que ontem à noite. Os catéteres endovenoso e urinario foram retirados e eu me senti mais confortável isso. Eu estava mortificada. Um catéter! Tinha como ser mais contrangedor? Como não percebi isso ontem?! Assim que meu ataque de rubor foi contindo, eu me concentrei na bandeja a minha frente. Pelo menos eu já consegui ficar meio que sentada para tomar meu café da manhã, pensei. Ainda sentia dor, mas era suportável.
Sinceramente, eu estava sem fome e a comida do Hospital não tinha um gosto dos melhores, o que não colaborava  para o meu apetite, mas mesmo assim tive que comer sob  chantagem do Dr. Brand: "Se não comer vai ficar fraca, e não poderá ver suas filhas nem tão cedo." Ele dissera. Isso foi o suficiente para me fazer comer toda a canja de galinha do meu prato. Por fim, até que a comida não era tão ruim.
Fui examinada pelo Dr. Brand, que é um senhor grisalho, calmo, profissional e chantagista quando quer ser. Prova disso é o fato dele ter me feito comer tudo, sendo que eu nem ao menos estava com fome. Depois da Dra. Brandon e do Dr. August, ele é meu médico preferido.
Ele está anotando alguma coisa em seu bloco de anotações, enquanto eu estou aqui, mal me aguentando de tanta ansiedade para poder sair dessa cama.
-Então, Dr. Brand? –Perguntei sem conseguir me conter, e ele me fitou por cima dos óculos que pendiam no seu nariz.
-Aparentemente, tudo bem, Sra. Cullen, salvo um pequeno problema. Sua pressão arterial está alta e isso não é um bom sinal... –Ele parece preocupado. –A senhora, ou alguém da sua família já teve problemas com a hipertensão? –Me perguntou e eu vasculhei minha mente tentando lembrar. Vovó Marie, talvez, mas não tenho certeza. Ela morreu aos 95 anos, na velhice. Que eu me lembre, não foi por nenhum problema de saúde.
-Não que eu saiba. –Respondi e a resposta pareceu favorável.
-Nesse caso, acho que não é algo com que tenhamos que nos preocupar. Deve ter sido a tensão ou o estresse desses ultimos dias. Em todo caso, irei administrar a medicação indicada e para o controle da sua pressão arterial, e aferi-la com frequência. Caso ela não se normalize com a medicação, aí sim teremos que nos preocupar, mas não acho que chegue a tanto... –Falou ele, me tranquilizando e ao mesmo tempo me deixando em alerta. Eu conhecia algumas coisas sobre medicina e podia compreender sobre o que ele se referia.
Eu nunca tive problemas com a minha pressão arterial. Na verdade ela sempre estava entre normal e baixa. Ele tem razão. Deve ter sido todo o eu nervosismo e estresse acumulados. Por esse motivo, não vejo por que me preocupar.
Bem, só por um pequeno detalhe...
-Uhm... Dr. o senhor poderia não contar isso ao meu marido? –Pergunto. Edward com certeza ficaria superpreocupado se soubesse disso, mesmo não sendo nada demais. O Dr. Brand franze a testa e me olha um pouco confuso. Em seguida arruma os óculos e parece entender por que eu pedi o sigilo.
-Como quiser Sra. Cullen. –Oh! Bem mais simples do que imaginei.
-Obrigada. –falo, agradecida. –Quando poderei ver minhas filhas?
-Quando eu lhe der autorização para sair do quarto. Por enquanto você deve ficar em repouso. –Ele advertiu e eu suspirei com desgosto. Parece que terei mesmo que esperar.
-E o meu marido? –Perguntei em seguida.
Edward, como eu queria vê-lo!
-O Sr e a Srta Cullen estão lá fora. O Sr Cullen em especial está muito ansioso para vê-la. –Ele falou e eu sorri. Edward, mais uma vez sendo Edward...
Alice também está aqui. Não sei por que, mas isso não me surpreende. Sorrio mais uma vez, ansiosa.
-Posso mandar os dois entrarem? –Ele pergunta, e eu assinto imediatamente. O Dr. Brand sorri a balança a cabeça pela minha empolgação e em seguida sai da sala, fechando a porta atrás de si.
Só então me dou conta de que eu devo estar horrível. Oh! Entro em pânico, tentando arrumar meus cabelos desengrenhados da maneira que posso. Céus! Eles estão mais bagunçados que um ninho de ratos!  Não que eu já tenha visto um, mas dizem que é bagunçado. Eu devo estar parecendo um zumbi de tão pálida, e ainda por cima vestindo essa roupa  horrível de hospital em um tom azul desbotado que não ajuda em nada.
Droga! Xingo mentalmente. Eu havia esquecido esse "pequeno" detalhe... Edward não pode me ver assim... Edward não pode me ver assim! Repito o mantra mentalmente, mas sou interrompida quando a porta é aberta por um Edward lindo, com aquele sorriso torto que eu tanto amo, um olhar aliviado e uma expressão cansada. Seus cabelos estão mais bagunçados que nunca, o deixando inclivelmente sexy e sua camisa branca, a mesma de ontem,  (prova de que ele ficou o dia e a noite inteira aqui no hospital), está com os três primeiros botões abertos, deixando à mostra o início do seu peito, e alguns pelos louros encontrados ali.
Uau! Minha boca seca ao vê-lo. Sua beleza é algo com a qual eu jamais vou me acostumar. Basta vê-lo, e eu esqueço completamente do meu estado deplorável. Tudo o que importa é o maravilhoso homem, o grande amor da minha vida que está a menos de cinco metros de distâcia, com um sorriso apaixonado nos lábios.

Conhecendo a Dor (Completo até 30/05/2016)Onde histórias criam vida. Descubra agora