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À medida que me distanciava da casa e o cheiro e controle de Dom Accio não podiam me afetar, a raiva me tomava. Sentia as mãos tremerem, protelarem. Aquele homem subjugara-me completamente, dobrando-me a sua vontade e humilhara-me com seu escárnio e olhares.

— Contataremos a senhorita, quando for necessária. Esteja à disposição. — Alertou-me Brian entregando-me o casaco azul marinho, antes que eu passasse pelos portões de ferro e os muros altos.

Disponível, como um lacaio. Parabéns, Abe.

Covardemente me obriguei a concordar e enfiei-me dentro de meu Honda civic 2005 — old and gold, muito obrigada — ligando o motor e partindo em toda velocidade até a rodovia mais próxima. Os pneus cantaram sob o asfalto e meus dedos apertaram-se ao redor dos volantes. Como tinha cedido aquele ponto, presa às vontades de um mafioso sem escrúpulo? Como?! Sentia o sangue fervilhar sob as veias e latejar no cérebro.

Um assobio surdo e um impacto inesperado acionaram meus airbags. Atordoada, destravei o cinto e cambaleei pesadamente até o chão. Sentia um fio ralo de sangue escorrer pela lateral esquerda de meu rosto, incomodo. Meus olhos buscavam respostas, a visão enevoada confundia meus sentidos. Gemi, sentindo a dor aferroar minha nuca. Uma tentativa frustrada em levantar, me fez cair em um choro profundo e copioso, um misto de raiva e medo que ardia.

Merda! Merda! Qual o problema com minha vida? Meu pai estava morto há menos de um mês, eu tinha uma dívida astronômica, acabara de bater com o carro e meu dinheiro muito mal pagava a hipoteca! Sentia as lágrimas queimarem, os olhos incharem e os soluços me sacudirem. Odiava chorar. Odiava ser tão incapaz. Mas era inútil controlar.

Você destruiu tudo, pai.

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Era a ultima aula, com o Sr. Gomez. Direito cívico e toda essa pilha de burocracia estatal. Algo em mim continuava inquieto, mesmo uma semana depois. Ansiosa, fitava a porta fantasiosamente imaginando uma invasão de Dom Accio. Seria capaz de chegar a tal ponto? A ideia me dava calafrios.

Seu rosto retornava constantemente a minha cabeça, sorridente e desafiador. E de alguma forma parecia-me menos assustador. Talvez o tanto que meu cérebro projetava sua imagem me fizera acostumar aos olhos azuis cobalto, submetendo-me a um tratamento de choque. Era absurdo, estranho e incomodo, mas uma parte de mim sentia-se curiosa sobre quem estava por debaixo do robe cinza.

— Vai direto pra casa, ou me daria a honra de pagar uma magnífica e inigualável pizza de mussarela? — Ouço Rob sussurrar enquanto andávamos equiparados pelos corredores.

Permito-me sorrir. Robert Meyer era aluno do quinto período de filosofia e meu único amigo desde que pagamos juntos política no primeiro período. Seus cabelos loiros e olhos castanhos o faziam parecer mais jovem que realmente era. Adorava o jeito como azul lhe caia bem.

— Pepperoni. — Negocio.

Rob assente e me conduz até seu carro no estacionamento. Meu Honda estava aposentado na garagem desde meu pequeno imprevisto com na estrada e um band-ai ainda decorava minha testa. Mas o pior era ficar a pé.

A sensação era boa. Embalados ao som de Janes Joplin deixamos para trás o Gramercy Park e alguns minutos depois se via ao longe Midtown Manhattan. Por um segundo fui capaz de esquecer toda tormenta que me assombrava. As luzes da cidade apaziguavam minhas dores e segredos. Cogitava seriamente contar a Rob tudo que me acontecia, mas temia por ele. Dom Accio não seria piedoso.

Dom AccioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora