25.

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O sol tingiu o quarto em tons de branco puro, cegando-me por completo. Esfreguei os dedos nos olhos, pressionando as pálpebras. Um bocejo escapou-me pelos lábios, enquanto encolhi-me sobre a coberta.

Notei rapidamente: nevava aquela manhã.

Enrolei-me no edredom, caminhando até a janela do quarto, enquanto prestigiava a paisagem dos carros e árvores ambos soterrados na neve mais branca e brilhante.

Já era dezembro?

Observei inerte quando a BMW prateada arrancou surgindo do estacionamento subterrâneo e seguindo até desaparecer na esquina.

       Era Robert, sem dúvida.

       Um sentimento ruim me percorreu. Seu olhos decepcionados ainda me fitavam na penumbra na noite, gravados na completa desarmonia de meu mal feito.

        Porra Abigail!

        Ele não merecia.

         Arquejei, culpando-me completamente por minha própria infelicidade e pela de Rob. Por que eu tinha feito aquilo?! Fora mais que cruel, fora... imperdoável. Sem Rob, eu estava sozinha. E mereci meu destino, porque havia sido uma cretina de merda e sabia disso.

         Eu não o merecia.

Não tinha o direito de me hospedar em sua casa. Não depois do delito de ontem, não depois de ter-lo usado tão inescrupulosamente por um motivo tão torpe.

Robert não me perdoaria.
Nem eu podia me perdoar.

Um aperto comprimiu meu peito, transbordando a culpa. Sentia-me péssima, como o próprio Judas. Robert estava ferido, magoado e a culpa era toda minha, de meu egoísmo, de minha completa falta de empatia, da minha mesquinhês.

       Eu devia ir embora.
       Agora.

       E talvez para nunca mais.

       Dirigi-me até o banheiro, ocupada em deixar o banho morno afastar todos meus males e dores. Mas não importava quanto tempo demorasse sob o chuveiro, ainda me sentia imunda e descartável.

         Eu não passava de escória aquela altura.

        O guarda-roupas de Rob estava abarrotado de peças caras e elegantes, ternos alinhados, gravatas, sapatos mais caros que a minha casa — Quando eu ainda tinha uma — e perfumes importados. Escavei dentre os artigos de luxo peças de inverno, ficando grata por encontrar um casaco estofado, luvas e um gorro do NY Knicks.

        A parte boa era que eu estava aquecida. A ruim era que eu parecia um jogador de hóquei. A pior era ter pego as coisas sem pedir, sem previsão de devolver.

        Dirigi-me até a sala de estar. Ali diante do sofá estava uma bandeja com torradas, pasta de amendoim e um copo de suco gelado.

      Ele estava preocupado comigo.

      E eu quis morrer com sua generosidade e gentileza. Seria muito mais fácil se ele me desprezasse, se me maldissesse, se me odiasse por completo. Mas ele era melhor que isso, melhor que eu. E isso me fazia explodir em ira.

       Engoli as torradas, esperando que o gesto desaparecesse junto com a comida. Mas a gentileza de Rob pairava no ar, ameaçando-me de envenenamento.

Dom AccioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora