58.

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O avião decolou com um ronco rouco, alçando voo pelo céu noturno siciliano.

Victor estava ao meu lado, olhos fechados e completamente exausto.

Enrolada em uma manta, apoiando a cabeça no ombro de Victor, lutava contra a cena dolorosa vislumbrada. O rosto de Lucca, tenso e angustiado evocando meu nome. Evocando sem voz.

— Abigail. — Evocou Victor despertando-me do desespero que me acometia.

Voltei meus olhos para ele, que tomava em mãos dois hambúrgueres. Um para si e outro para mim.

— Coma, por favor.

Relutante tomei em minhas mãos e abri o pacote, desembrulhando um triste e frio hambúrguer de carne e cheddar.

O cheiro embrulhou meu estômago instantaneamente, fazendo-me voltar a embrulhar a comida e devolver a Victor que me fitou preocupado de soslaio.

— Cara, eu não consigo nem sentir o cheiro disso. — Balbuciei franzindo o cenho e fazendo careta.

— Você está bem? — Indagou Victor, pegando o sanduíche e checando meu rosto pálido.

— Sim, eu só... vou ao banheiro. — Argumentei, fugindo do olhar aflito de Victor.

Caminhei tonta até o banheiro, abrindo a cabine e trancando-a por dentro. Desesperadamente ajoelhei-me, abrindo o vaso sanitário e vomitando todo a comida do dia.

— Abe?! — A voz de Victor soou ríspida do lado de fora da porta, batendo, exigindo que eu abrisse. — Você está bem?

Desesperada, notei a calça jeans manchada em tons avermelhados e escuros, um sangramento íntimo. Tomei fôlego, indo a pia e limpando o rosto, o gosto ácido na boca.

Destranquei a porta, enquanto Victor lançava-se sobre mim, ansioso e preocupado.

Trocamos apenas um olhar nervoso. Seus olhos investigaram meu rosto pálido e enxergaram a mancha de sangue em meu jeans. Havia pânico em seu olhar.

Victor nada disse, apenas me guiou de volta a cadeira com gentileza e cuidado.

— Quando chegarmos a Moscou, vamos direito a um hospital. — Anunciou Victor.

— Estamos indo pra Moscou? — As palavras enrijeceram em meus lábios, apavoradamente.

Moscou era onde Papa estava. O que Victor queria me levando a Moscou? Direto para a boca do lobo?!

— Vamos por um fim de uma vez por todas naquilo.

"Naquilo" era uma referência clara ao seu pai e a todo sofrimento que me causara.

Um arrepio percorreu minha pele.

— O que vamos fazer? — Indaguei franzindo o cenho.

— Pegar os documentos, recuperei com seu amigo Joshua o pendrive que estava na casa dos Accio. — Afirmou Victor.

— E depois? — Indaguei.

Victor lançou-me um olhar firme e apreensivo.

— Vamos destruir a imagem pública do meu pai e divulgar os documentos sobre o governo americano. — Afirmou Victor, cruzando as mãos.

A afirmação pairou pesada no ar. O frio tocou meus pulmões, ardendo, intenso.

A tensão tomou meu corpo.

Dom AccioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora