O avião decolou com um ronco rouco, alçando voo pelo céu noturno siciliano.Victor estava ao meu lado, olhos fechados e completamente exausto.
Enrolada em uma manta, apoiando a cabeça no ombro de Victor, lutava contra a cena dolorosa vislumbrada. O rosto de Lucca, tenso e angustiado evocando meu nome. Evocando sem voz.
— Abigail. — Evocou Victor despertando-me do desespero que me acometia.
Voltei meus olhos para ele, que tomava em mãos dois hambúrgueres. Um para si e outro para mim.
— Coma, por favor.
Relutante tomei em minhas mãos e abri o pacote, desembrulhando um triste e frio hambúrguer de carne e cheddar.
O cheiro embrulhou meu estômago instantaneamente, fazendo-me voltar a embrulhar a comida e devolver a Victor que me fitou preocupado de soslaio.
— Cara, eu não consigo nem sentir o cheiro disso. — Balbuciei franzindo o cenho e fazendo careta.
— Você está bem? — Indagou Victor, pegando o sanduíche e checando meu rosto pálido.
— Sim, eu só... vou ao banheiro. — Argumentei, fugindo do olhar aflito de Victor.
Caminhei tonta até o banheiro, abrindo a cabine e trancando-a por dentro. Desesperadamente ajoelhei-me, abrindo o vaso sanitário e vomitando todo a comida do dia.
— Abe?! — A voz de Victor soou ríspida do lado de fora da porta, batendo, exigindo que eu abrisse. — Você está bem?
Desesperada, notei a calça jeans manchada em tons avermelhados e escuros, um sangramento íntimo. Tomei fôlego, indo a pia e limpando o rosto, o gosto ácido na boca.
Destranquei a porta, enquanto Victor lançava-se sobre mim, ansioso e preocupado.
Trocamos apenas um olhar nervoso. Seus olhos investigaram meu rosto pálido e enxergaram a mancha de sangue em meu jeans. Havia pânico em seu olhar.
Victor nada disse, apenas me guiou de volta a cadeira com gentileza e cuidado.
— Quando chegarmos a Moscou, vamos direito a um hospital. — Anunciou Victor.
— Estamos indo pra Moscou? — As palavras enrijeceram em meus lábios, apavoradamente.
Moscou era onde Papa estava. O que Victor queria me levando a Moscou? Direto para a boca do lobo?!
— Vamos por um fim de uma vez por todas naquilo.
"Naquilo" era uma referência clara ao seu pai e a todo sofrimento que me causara.
Um arrepio percorreu minha pele.
— O que vamos fazer? — Indaguei franzindo o cenho.
— Pegar os documentos, recuperei com seu amigo Joshua o pendrive que estava na casa dos Accio. — Afirmou Victor.
— E depois? — Indaguei.
Victor lançou-me um olhar firme e apreensivo.
— Vamos destruir a imagem pública do meu pai e divulgar os documentos sobre o governo americano. — Afirmou Victor, cruzando as mãos.
A afirmação pairou pesada no ar. O frio tocou meus pulmões, ardendo, intenso.
A tensão tomou meu corpo.
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Dom Accio
RomanceAbigail tem uma dívida astronômica herdada de seu falecido pai com a máfia italiana e está entre a cruz e a espada, correndo contra o tempo a fim de preservar a única coisa que lhe resta: sua vida. Entretanto uma imprevisível, estranha e ten...