6.

71.4K 6.8K 3.1K
                                    

       Meus olhos friccionaram, tentando acostumarem-se com a luz provinda da tela do celular. A penumbra densa era sinal de que a noite estava em seu auge. Tateei o aparelho entre os lençóis da cama, ainda zonza. O ringtone da chamada ecoava pelo cômodo, alarmante.

        Antes que eu pudesse decodificar quem me importunava aquela hora, inocentemente atendi a chamada, sentando-me na cama, ainda atordoada.

       — Abe?! Abigail está me ouvindo?! — A voz de Dom Accio soou esganiçada, urgente. Aquilo reverberou em meu íntimo, sacudindo meu sono com um soco.

       — Sim...? — Murmurei duvidosa.

       Um suspiro ecoou do outro lado da linha.

       — Graci a Dio... — Sussurrou quase inaudível. Houve uma pequena pausa entre os discursos.— Ouça, você vai sair daí agora, ok? Peguei um casaco e saia agora!

        Meu cérebro demorou alguns segundos antes que eu percebesse a urgência de sua ordem. Senti uma pontada aguda acertar a boca do meu estômago, gendrando um fio delicado de medo que correu se alastrando. Aquele tom de voz não era natural dele. Havia medo e ansiedade e de alguma forma soube que algo muito ruim estava por vir.

          Obediente cambaleei desengonçadamente através da cama, deixando meus pés encontrarem o frio úmido do piso. Um gosto amargo de pânico passeou por minhas entranhas, como um alerta de perigo. Senti o chão faltar sob os pés no momento em que a voz dele ficou muda do outro lado da linha.

         — O que está acontecendo? — Indaguei trêmula, buscando o casaco de moletom cinza na cadeira da penteadeira.

        Ele hesitou por um segundo antes de responder e meu corpo desesperadamente me lembrou o quanto seres humanos são facilmente eliminados.

         — Vai ficar tudo bem se você fizer o que estou pedindo. — Informou, mas seu tom era urgente. — Saia pelos fundo e não acenda as luzes.

O que?

          — Tem alguém me seguindo? — Indaguei hesitante, abrindo a porta do quarto e rapidamente alcançando o corredor.

           Sentia as pernas fraquejarem e o coração disparar completo. O ar ardia nos meus pulmões, rarefeito.

           — Eles não vão pegar você, Abe. — Concluiu ele, argumentando mais para si mesmo que para mim. — Eu estou a caminho. Vai ficar tudo bem. Só preciso que saia dai agora.

           Um nó apertado tomou formou-se em minha garganta e me obriguei a segurar as lágrimas, ficar calma.

           — Quem são eles?! — Indaguei, a voz um sopro trêmulo entre os lábios sem sangue. Sentia como se uma pontuda lança tivesse sido cravada no fundo do traqueia.

           Meus passos logo alcançaram a soleira da escada e detiveram-se quando ruídos agudos irromperam o silêncio, vindo sda cozinha. Sentir todo e cada músculos paralisado, enquanto meu estômago revirou-se em um looping de trezentos e sessenta. Meus dedos fecharam-se no corrimão, apertando. Sentia o coração falhar e logo depois martelar dentro do peito.

       — Eles estão aqui. — Choraminguei, sentindo meus olhos marejarem e minha voz falhar, misturada com a surpresa e o anúncio de choro.

Dom AccioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora