32.

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— Nos conhecemos há um dia. — Resmunguei, enquanto o carro seguia deixando o bairro. — O que há de tão sentimental nisto?

Victor bufou, deixando o esboço de um sorriso transparecer. Apoiou-se com o cotovelo na porta, encostando o rosto e deixando o silêncio nos dominar. Seus olhos estavam longe, no borrão que pintava a janela.

— Onde estamos indo? — Indaguei, atando o cinto de segurança ao meu redor.

— Para o centro. — Afirmou ele. — Não se preocupe quanto ao resto. Está segura.

Duvidava.

Escondi as mãos debaixo das pernas, o aquecedor não vencia o frio glacial que nos atormentava. Tentava manter meus olhos distantes, fixos no caminho que o automóvel traçava. Proxima a verdade, sentia-me nervosa.

Não me espantei quando o motorista de Victor nos deixou na entrada da Trump Tower. Conhecia o edifício espelhado e luxuoso de vista, mas nunca ousara imaginar chegar tão perto. Dr. Ivanov desceu altivo do veículo, cavalheiresco o suficiente para abrir minha porta com sutileza.

Sua mão estava estendida ao meu favor, gentil e lisonjeira. Respirei profundamente, segurando-a e caminhando ao seu lado até as portas de vidro giratórias.

Seguia Dr. Ivanov pelo imenso saguão. Tinha tons marrons e amadeirados, repleto de refletores de médio porte, espelhos e negros assentos luxuosos. Mantinha os olhos no chão, enquanto olhares furtivos desdenhavam minha relapsa vestimenta.

Enfiei as mãos no bolso, seguindo até o elevador. O casaco pesado e monumental de Victor intimidava a qualquer um. Encostei na parede escura, encarando meu reflexo desagradável no espelho, enquato Dr. Ivanov pressionava um dos botões do painel.

Com um empuxo o elevador movimentou-se. Inquieta, espiei o reflexo de Victor pelo espelho. Seu cenho estava franzido, envolto em uma transparente preocupação, enquanto inocentemente fitava seus próprios sapatos.

Mordi o lábio inferior, certa da estranheza do sentimento antinatural que ansiava a volta de seu sorriso aberto. Afastei o pensamento para o mais longe com um suspiro.

As portas abriram-se para um salão imenso. Victor seguiu na quietude de seu digladiar interno através do corredor enegrecido e imenso, repleto de obras de arte e peças caras.

Meus pés o seguiam, certos de que era o correto a ser feito. Não hesitava. Apenas continuava sob a sombra de seus passos, adentrando suas veredas e descobrindo as mais inusitadas telas.

Finalmente, fui introduzida a um apartamento. Era espaçoso, monumental. Victor abriu com o cartão e segurou-me a porta para que eu adentrasse. Meus olhos corriam pela complexidade de formas e mobília. Tudo era um mix frio que variava do preto ao branco.

— Sente-se. — Pediu Victor, apontando-me a sala de visitas e um sofá branco.

Deliberante, dispersei o mais educadamente que pude meu corpo sob o acolchoado fluido. Dr. Ivanov desapareceu por entre as portas, deixando-me a mercer de meus pensamentos ingratos.

E o mais constante era o vislumbre do rosto de Lucca sereno e pacífico, emergido em um sono profundo e relaxado antes que eu partisse.

Fechei os olhos por um segundo, tentar afastar a sensação de seu cabelo entre meus dedos e sua boca delineando a minha... Perigosamente paradisíaca...

Dom AccioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora