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Ele não me permitiu guiar o carro.

Sentados no banco de trás quase como a aristocracia medieval, Lucca e eu seguíamos em um cortejo fúnebre de silêncio e pensamentos aturdidos, cada qual a sua necessidade.

Minha mente estava em Robert. Necessariamente em como revelar a Lucca seu delito.

Sabia, pois, que no momento em que Lucca descobrisse, seria tomado de mim o — prazer — dever de mata-lo, vingar-me. Ideias torpes que germinavam aos poucos, sem saber até onde crescer, borbulhavam sob a pele e logo morriam.

Estava atordoada. Mas Lucca parecia igualmente abalado.

Indagava-me se aquilo fazia parte de seu processo de cura, se sua desestabilização emocional tinha a ver comigo, ou com os negócios. Mas desde a sua conversa com Elize, Lucca permanecia com seus olhos azuis de vidro petrificados no horizonte, transformando seus lábios em uma linha rígida.

Deslizei a mão até a dele, sentindo o aço gélido do Rolex por sob meu pulso. Entrelacei meus dedos contra os dele, enquanto reclinava o rosto até seu ombro firme e largo.

No silêncio de nossos segredos e individualidades, permanecemos afogados em nossas indagações, enquanto encontrávamos um no outro o conforto necessário para prosseguir.

— Está sentindo dor? — Indaguei, enquanto Enzo nos conduzia para casa.

A nossa casa.

E aquilo era imensamente estranho de se pensar.

— Eu estou bem. — Argumentou ele passivo e educadamente, no automático.

— Sabe que eu podia ter levado você pra casa, não sabe? — Insisti, deixando um beijo repousar no tecido de algodão sob seu ombro.

Ele riu. Ou bufou. Com dificuldade atravessou o braço por sob meu pescoço, enquanto nossas mãos pendiam penduradas. Seu cheiro se agitou no ar, inebriando-me como ópio.

— Ainda estou me recuperando de uma tentativa de assassinato. — Explicou ele deixando seus lábios quentes encontrarem o caminho de minha orelha. — Prefiro não arriscar a minha vida de novo, não agora.

Crispei os olhos.

— Da próxima vez, eu deixo que morra. — Cantarolei, sentindo uma brecha de humor enevoar meus pensamentos. — Vai agonizar, implorando e eu se quer ligarei o carro.

— Você sabe que está falando com o chefe da máfia, um vingativo siciliano, que já executou por muito menos, não sabe? — Indagou sarcasticamente ele, mas de alguma forma sentir que não havia hipérboles em seu discurso.

— Tanto quanto sei que me chamo Abigail. — Lembrei-me um segundo depois que já me chamei Lara algum dia no passado e abri um sorriso para um piada interna e quase engraçada.

Ele sorriu, segurando meu rosto entre os dedos. Experimentava quase me beijar, entretanto não o fazia. Fitava-me, degustando algo que pertencia apenas a ele. Seus desentrelaçaram os meus, enquanto seus olhos desviavam para o brasão de prata sob meu polegar.

— E é por isso que este anel está aqui. — Balbuciou, enquanto seus dedos desenhava sob os meus.

Sorri, mas algo inquietava-se por dentro, como um maldito inseto corroendo a carne pouco a pouco. A dúvida germinava havia uma semana, desde a proposta e quanto mais pensava sobre, mais inseguranças surgiam.

Dom AccioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora