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      (Lucca)
Permaneci em silêncio, reencostado na cabeceira da mesa, em um silêncio profundo e mortal.

       O cessar fogo havia sido desferido, mas a guerra estava longe de ter fim.

       Leo permanecia desolado sentado no sopé da escada, enquanto Romeo tinha os primeiro socorros desferidos.

       Eu?

        Não restava nada de mim.

        Dom Antonellio havia ido embora com sua comitiva, armas e minha esperança.

      Tudo que restara eram capsulas de balas, corpos e um maldito desespero silencioso que se instaurava pela casa.

        — Você não pode fazer isso por nós. — Exigiu Leonardo entre dentes, erguendo-se em um impulso. — Não pode desistir da sua mulher por causa disso.

       Levei minhas mãos à nuca e logo depois aos olhos, esfregando, ardendo.

        — Não vou deixar você fazer isso! — Gruiu Leo a minha direita.

        — E O QUE VOCÊ ESPERAVA QUE EU FIZESSE?! — Explodi, erguendo-me. — QUE DEIXASSE VOCÊS DOIS MORREREM?! QUE DEIXASSE MAIS DE NOSSOS HOMENS SEREM MORTOS?!

       Os olhos de Leo me encaravam resignados, decididos.

       — Você a ama. — Recordou-me Leo. — Você a ama tanto que enfrentou todo nosso clã por ela! Você vai desistir dela?!

         Ele sabia como era aquela dor, aquela angustia e desespero. Talvez muito melhor que eu.

        Meu maxilar travou, denso e forte.

         Eu não era capaz de desistir dela. Eu nunca seria.

        — Eu preciso proteger vocês. — Encorajei-me inutilmente. — É o meu dever.

       Os olhos de Leo pesavam sobre mim, mas nada mais disse. Deixou-me sozinho, caminhando a longos passos até a cozinha.

       Desabei na cadeira, sentindo o peso do mundo sobre meus ombros.

       — Padrinho, — Evocou Enzo vindo da entrada principal da casa acompanhado de mais dois de meus homens. Seus olhos eram duros e densos. — Apuramos 15 mortos ao total. Todos da 1º guarda.

       Meus olhos estavam em desfoque, desolados sobre a mesa.

        Quinze vidas. Eu tinha perdido quinze pessoas. Quinze de meus homens, amigos e afilhados. Minha famiglia.

         Eu era um fracasso.

          — Conseguiu encontra-la? — Indaguei ainda com os olhos repousados sobre a mesa. Minha voz era um profundo partido de iceberg que tremeluzia sem vida.

       — Sim. Joshua levou-a até um hotel na costa. Estão bem.

        Suspirei, de certa forma aliviado.

         Ergui-me pesadamente da cadeira, deixando por um momento meus olhos fugirem para Enzo.

          — Reúna quem não está ferido e separe uma comitiva para levar quem foi atingido até um centro médico. Por favor providencie os funerais pessoalmente, da melhor forma possível. — Pedi a Enzo, que assentiu em um silêncio profundo e incomodo. — Avise a Leo que os outros estão bem.

Dom AccioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora