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15h39

...

15h40

Os ponteiros do relógio pendurado na parede se arrastavam.

Sem notícias.

Esfreguei as mãos nos olhos e na nuca, sentindo a agonia me consumir, latente nos olhos inchados, no nariz avermelhado e nas bochechas pegajosas.

Um dos rapazes veio ao meu encontro carregando um copo de café. Eu o havia conhecido como Berlard, um homem entre os vinte e trinta, dono de uma pele negra envernizada e olhos castanhos escuros.

— Nada? — Indaguei, sentada em um dos assentos da sala de espera, erguendo a cabeça em sua direção.

Negou com a cabeça, fazendo um arco preocupado com as sobrancelhas cheias e desenhadas. Sentou-se ao meu lado, entregando-me o café em mãos.

Meus dedos envolveram o calor do copo de café, balançando-o e fazendo com que o líquido rotacionasse por dentro. Sabia que qualquer coisa que me descesse pela garganta retornaria violentamente.

Minhas pernas balançavam, urgentes e nervosas. Iam e vinham as pessoas, as macas, os jalecos. E o maldito cheiro de desinfetante invadia o resto do meu cérebro, levando a fogo.

Fazia três horas.

E eu não podia aguentar nem mais um segundo. Precisava ver-lo, tocar-lo. Ter a certeza de que estava vivo, respirando. Que estava bem e que voltaria pra casa.

A dor de dizer adeus... eu não podia suporta-la.

Com um sobressalto me pus de pé juntamente com Berlard, quando Dr. Gilbert surgiu no fim do corredor. Seus olhos eram cansados, caminhava lenta e vagarosamente.

Engoli a seco, sentindo o medo arranhar no fundo da garganta.

Sentia seus passos letárgicos para nunca chegarem. Meu coração agonizava prestes a desfalecer e ruir ai desespero. Senti as mãos caridosas de Berlard espalmada em minhas costas, em apoio. Meu cenho franzido assistia o médico se aproximar.

— Por favor, diga que ele está bem. — Balbuciei sentindo a voz embargar na garganta. — Por deus, diga...

Dr. Gilbert baixou a máscara cirúrgica, deixando transparecer o semblante cansado. Meus olhos estavam presos nos dele, analisando quanto de esperança eu podia nutrir.

Ele não seria capaz de me fazer sofrer tanto em uma única vida. Nem mesmo ele.

— Ele está fora de perigo agora, mas foi necessário uma laparotomia, a bala estava alojada em um região de difícil acesso. — Explicou Dr. Gilbert, enquanto eu franzia o cenho sem entender nada. — O Sr. Accio precisar permanecer na UTI até se estabilizar por completo, assim evitamos o risco de infecção.

— Eu preciso vê-lo. — Anunciei urgente.

Toda aquela baboseira tecnicista não me convencia em nada. Apenas seus olhos azuis cobalto me acalmariam.

— Ele está sedado, mas acho que posso permitir a sua entrada. — Afirmou Dr. Gilbert. — Pode me acompanhar?

Depositei o café já gelado nas mãos de Berlard. Minhas mãos tremiam, protestavam. Uma corrente de ansiedade transpassava meu corpo, formigando em cada folículo. O medo propagava-se a níveis molecular.

Dom AccioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora