Ele trancou a porta a chave.
Havia um vergão vermelho no lado direito da face, exatamente onde minhas mãos estalaram-lhe um tapa.
Lucca mantinha os olhos firmes sob mim, decididos, pesados. Sentia o coração martelar dolorosamente contra o peito quebrantado, estilhaçado sem chance de reparação.
Encarávamos-nos. Olhos flamejantes e intensos, bélicos, prestes a explodir em uma batalha sem fim.
— Por que? — Indaguei entre dentes, quase como um rosnado.
Piscou os olhos, deixando que a cabeça decaísse até o chão. Sua falta de imposição ardia em meh âmago, borbulhando-me em ira.
— O que você ganhou com toda essa palhaçada?! — Balbuciei queimando em sarcasmo. — Meu deus você me pediu em casamento, me ofereceu o seu anel da famiglia, sendo noivo de outra! Quão cara de pau você pode ser, Lucca?!!
Seu silêncio era cortante, incitando-me ainda mais a ira.
— DIGA ALGUMA COISA!
Senti o ardor das lágrimas queimarem na garganta. A dor era dilacerante.
— Abe, escute... — Implorou, tomando meu antebraço em uma investida.
Com um movimento violento, puxei o braço cambaleando para longe. Ódio e repulsa pairavam sob meu olhar.
— Não encosta em mim! — Argumentei entre dentes. Seus olhos atônitos me assistiam. — Eu tenho nojo de gente como você.
Esfreguei os olhos, afastando as lágrimas que ameaçavam fugir. Agilmente prendi o cabelo no alto da cabeça, caminhando até a porta em uma tentativa vã de fugir.
A ira fervilhada nascendo dele.
— Abigail. — Evocou ele, enquanto eu me frustrava ao não conseguir descantar a fechadura. O ar escapava-me entre os lábios. —ABIGAIL!
Sua voz reverberou, estremecendo por dentro. De ombros para ele, encostei a testa de encontro a porta de madeira. O ardor das lágrimas subiam-me pela garganta seca, queimando.
Aquilo não poderia estar acontecendo, poderia?
— Seu canalha de merda... — Murmurei sentindo a voz embargar e morrer, forçada pelos soluços.
Seus passos vieram de encontro a mim, anunciando sua posição. Suas mãos alcançaram minha nuca, gentis e firmes. Não contive o soluço miserável que surgiu. O ar escapava entre os dentes.
Porra.
— Amor... — Balbuciou ele, fazendo-me dar de ombros e ficar cara a cara com ele. — Amor olha pra mim.
Meus olhos correram ao seu encontro: frios e magoados. Seus imensos olhos azuis eram desconcertantes, ruindo-me em vários pedaços, porque soavam sinceros e pacientes. Pacientes como Lucca não era.
— Ela não significa nada, é você que eu amo, porra. — Informou, palavras gentis, mas dolorosas. — Por que eu teria trazido você aqui se não fosse verdade?!
Hesitei.
Uma grande lufada de ar escapou-me pelos pulmões, mas meus olhos estavam decididos nos dele. Doía. Doía muito mais que levar um tiro.
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Dom Accio
RomanceAbigail tem uma dívida astronômica herdada de seu falecido pai com a máfia italiana e está entre a cruz e a espada, correndo contra o tempo a fim de preservar a única coisa que lhe resta: sua vida. Entretanto uma imprevisível, estranha e ten...