20.

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       — Tudo bem. — Garanti enquanto era escoltada escada a cima.

        Parecia uma tradição experimentar uma quase morte todas as vezes que vislumbrava o andar superior.

        Sentia as mãos frias e cumpridas de Lucca emoldurarem-se em minha cintura, firmando meus passos hesitantes e minha mente estilhaçada.

         — Bob... — Murmurei semiconsciente. A adrenalina cedia e minha cabeça e corpo agora começavam a pesar, saturados.

         Trocamos um olhar instantâneo. Havia algo de muito medonho no rosto dele, muito mais poderoso que qualquer um de nós. Um calafrio subiu-me a pele quando o cenho de Lucca franziu, exalando resquícios de raiva e dor acumuladas. Aquilo me fez estremecer, enquanto ele desviava o olhar.

         — Elize está levando ele ao hospital agora. Fique tranquila. — Pediu Lucca, conduzindo-me até o corredor.

         Ele sobreviveria, certo?

         — Salve-o. — Supliquei preocupada, embolando quarto a dentro a passos desajustados. — Por favor.

         Lucca se resumiu a olhar para os lados, evitando vislumbrar meu rosto. Aquilo fez meu estômago revirar, agitando-se em desconforto.

        Ele estava diferente.

Sua força, seu poder e presença inquestionáveis agora se resumiam a uma áurea amena totalmente destoante de quem Dom Accio era.

          — Faremos o melhor por ele, Abe. — Afirmou Lucca em um tom amalgamo. Sua expressão era intensa e fria como um carro automático, enquanto sentava-me na base da cama.

         Eu não conhecia aquela seriedade extra-humana que lhe acometia. Temia seu silêncio. Lucca era explosivo e expansivo, consumindo tudo ao redor como fogo. Mas aquele homem era pouco mais que nuvens de chuva formando-se no céu.

         Meus olhos ociosos direcionaram-se aos dele. O cobalto era sólido como rocha, impenetrável, fitando o chão. Hesitei sentindo um cerco violento e infalível me oprimir emanando dele. Eu nunca experimentara aquela densidade de ira que paralisava meus músculos. Era maciça e avassaladora.

         Medo.

— Descanse um pouco, ligarei para Dr. Gilbert e ele virá examina-la mais tarde. — Confirmou ele, depositando um beijo frio e urgente em minha testa. — Você já fez muito, deixe-me assumir as responsabilidades agora.

Ele me aninhou na cama, retirando minhas sapatilhas e cobrindo-me. Meus olhos estavam pesados e não importava o quanto eu quisesse me manter acordada, meu corpo me traia completamente.

— Fique. — Pedi quase suplicante enquanto ele deixava o quarto.

Seus olhos encontraram os meus, eram leitosos, cansados, preocupados. Lucca sorriu-me um sorriso triste, dando meia volta e sentando-se ao meu lado na cama. Seu corpo era pesado, arqueado como quem houvera segurado o mundo com os ombros.

Seus dedos envolveram os meus, seus olhos eram gélidos e distantes. Seu cheiro ainda era o mesmo, me embalando sem qualquer problema. Arfei, entregando-me ao cansaço e as dores que latejavam.

— Você estará aqui quando eu acordar? — Indaguei sonolenta, arfando contra o sono.

— Eu nunca mais sairei do seu lado. — Explicou ele, mas seu sorriso era triste e melancólico e aquilo entristeceu-me sem precedentes. — Vi Prometto, cucciola.

Dom AccioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora