23.(bonus de natal)

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E fez-se silêncio.

      Meu olhar permanecia frio, estático nos respingos de movimentos que sumiram porta a fora.

       Não sobrara nada.

      Ela partiu levando consigo uma Glock preta, sua tempestade violenta de orgulho ferido e tudo que restava de minha sanidade.

        Silêncio.

         O sangue pulsava estridente.

         Minha respiração.

      A cena repetia-se no automático. Seus olhos castanho-claro ferozes, vorazes...Incendiários. Fitando-me, julgando-me culpado sob a pena de nunca mais.

         Nunca.

         Brian surgiu apavorado segundos depois, escancarando a porta, com olhos esbugalhados e respiração ofegante. Sua expressão beirava o pânico. Fitei-o ainda perplexo, invalidando seus movimentos.

          — O senhor está bem?! — Indagou Brian caminhando em minha direção quase aos tropeços. — Eu ouvi disparos!

          Ele estendeu a mão ao meu redor, cercando-me pelo ombro. Sentia o corpo formigando, estático, como se eu não mais o habitasse.

           — Deixe. — Pedi, levando as mãos até os olhos e a nuca, enquanto arfava friccionando os olhos. Podia sentir uma onda violenta devastar meu corpo, como um terremoto.

        Brian insistiu. Seus olhos eram um reflexo assustado do que sentira por dentro.  Uma crescente de fúria formigava, vindo de algum lugar de meu âmago.

          — SAIA! — Gritei a todos pulmões, afastando Brian em um solavanco e erguendo-me com maestria.

          Sentia os pulmões arderem, dificultando minha respiração. A voz dela voltava como uma lança, repleta de repulsa. Do mais puro e espesso ódio, de algo que eu conhecia perfeitamente: repulsa.

        Minhas mãos tremiam em fúria, quando me detive na soleira da escada. Fechei-as em punho, levando as mãos as têmporas. O ar escapava entre os lábios, enquanto engolia em seco.

        VOCÊ FODEU TUDO SEU LIXO DE MERDA!

         Sentia o corpo ardendo por dentro, como um estado febril que se alastrava e reverberava pelos ossos. O rosto decepcionado dela voltava, atiçando a brasa.

        — Lucca! O que aconteceu?! — Indagou Elize alto o suficiente para que eu me virasse em sua direção.

        Meus dentes trincados era o sinal claro de alerta de tsunami. O sinal claro de que qualquer coisa a dois metros se tornaria pó.

        — Sigam-na. Descubram aonde ela está indo. Não deixe que ela perceba. — Ordenei encarando-a com completa autoridade. Em alguns momentos ser eu era simplesmente foda.

        Elize acenou e partiu discreta, sumindo corredor a fora. O ar entrava e saia pelos pulmões, enquanto redescobria como retomar o controle de minha mente.

Dom AccioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora