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7:00h A.M

O despertador em cima da cômoda anunciava cretinamente que eu devia levantar.

Tateei as cegas o botão de desarme, lutando contra a sonolência. Sem sucesso, joguei o aparelho contra a parede com toda força, que espatifou-se apitando pela ultima vez, sem vida.

Silêncio.

Meus olhos abriram-se para a resta de luz que sobrava no chão, onde as partículas de poeira dançavam elegantemente sob o frio devastador.

Nevava mais uma vez. Um calafrio me ocorreu.

Onde estavam minhas roupas?

Levei os dedos as pálpebras, arrastando o sono para longe. Sentia os músculos relaxados e preguiçosos, como há dias não sentia. Meu corpo movia-se letargicamente, pouco a pouco, Era difícil simplesmente levantar.

       Nada de folgas. Nem no natal.

        As vezes a vontade de morrer ultrapassava os parâmetros da normalidade.

Embolei para o outro lado, protestando o cansaço. Meus dedos buscavam algo mais que lençóis e travesseiros, mas nada havia. Crispei os olhos para o imenso espaço vazio ao meu redor, erguendo-me de sobressalto.

Onde ela estava...?

Levantei-me agilmente da cama, sentindo de fato agora estar acordado. Meu corpo inteiro emitia um sinal de alerta, como medidor sísmico às vésperas de um terremoto. Meus olhos vasculharam desesperadamente o chão frio sob meus pés.

Não havia mais nada dela.

O sangue fluía fervendo e rapidamente, latejando. Tentava conter o choque, mas era inútil não parecer um completo idiota. De expressão embasbacada eu constatava obviamente: Abigail havia partido.

Não.

NÃO.

Inexistia sinal de que ela se quer houvera estado ali, como se tudo, toda noite não passasse de um mal entendido de quando se confunde os sonhos com realidade.

Em um silêncio fúnebre, meus olhos permaneciam fixos no chão. Uma corrente de adrenalina invadia meu corpo, propagando-se tão veloz quanto a raiva.

Fechei os olhos, deixando um suspiro me ocorrer. Ondas densas me acometiam, inundando-me como um temporal. Se me movesse, acabaria destruindo tudo num raio de 6 metros quase como um desastre natural.

         Ah porra, puta que pariu...

         Senti as pernas cederem, até sentar-me na cama pesadamente Minha cabeça latejava, martelando o cenário do inferno. Era um pouco pior que aquilo.

        Ela havia partido. Mais uma vez.

        Levei as mãos até a nuca, fechando os olhos para o quarto, para os fatos, para a sensação miserável que me acometia. Para o vazio que invadia qualquer coisa que fosse meu coração — agora eu sabia que tinha um de fato.

Não...

         Suspiro. Minha respiração.

         Meus pés estavam gelados, meus dedos contra minha pele. Minha mente vagabundeava através das memórias do corpo dela contra o meu, da sensação de ter-la nos braços, de possui-la. De protege-la. E de como eu desejei... Desejei que aquilo fosse meu e só meu. Por mais tempo que eu soubesse contar.

Dom AccioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora