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      — Paciência, Dom Botello. Entrar em Veneza sem que Dom Antonellio saiba, não será uma tarefa fácil. — Afirmou Enzo, cruzando os braços de pé, em meu flanco direito.

Dom Botello tinha os olhos sobre mim, olhos firmes e intensos que estudavam cada movimento meu. Precisava de seu apoio, a recusa de Dom Coreto e Dom Davoglio traduziam a insanidade que aquilo era.

— O que você está tentando fazer, jovem Accio, é muito arriscado. — Afirmou Dom Botello, esfregando o agonizante mustage grosso. — Mas é compreensível. O embargo das mercadorias seria um desastre para a economia dos Accio...

— E dos Botello. — Completei lançando-o meio sorriso. O cenho franzido do homem demonstrava-me a confusão que lhe acometia e aquela era minha deixa. — Com o nosso mercado de peles abalado, a matéria prima para a fabricação de seus produtos subiria exponencialmente e apesar de não termos negócios diretamente, você seria atingido.

Dom Botello cruzou os braços, tomando fôlego e dispersando todo seu peso sobre a cadeira giratória, que protelou exausta.

— Mas se as taxas de travessia que pagamos a Dom Antonellio deixarem de existir, ambos sairíamos ganhando. — Expliquei, apoiando o cotovelo sobre a mesa e me aproximando dele. — Pense, 15, 20 ou até 30% de desconto ma produção geral?

Houve um titubear sucinto em seus olhos e respiração, o momento crítico entre a vitrola e a derrota.

— Preciso de seiscentos de seus homens e da maior quantidade de armamento de seus depósitos do sul. — Argumentei, não deixando que seus olhar se perdesse dos meus. — Será em uma semana.

Vamos...

Vamos...

— Quatrocentos, o armamento e 20% do território conquistado. — Negociou Botello, erguendo a sobrancelha grossa e esfregado os dedos em seu bigode.

Porra só quatrocentos?!

— Fechado. — Argumentei, oferecendo-lhe de mau grado um aperto de mão. — Sensato.

— Bom negociar com você. — Anunciou ele, apertando minha mão.

Levantei-me em direção à saída, sem cerimônias, acompanhada por Enzo que em seu silêncio tenso me fazia perder a paciência.

— Diga o que quer dizer, ou vou soca-lo aqui e agora. — Ameacei, enquanto abríamos as portas traseiras da BMW cinza que boa esperava de frente a casa dos Botello.

— Não confio naquele homem. — Anunciou Enzo, adentrando no veículo e atando o cinto.

— Não temos escolha. — Balbuciei batendo a porta, encostando a cabeça no banco.

— O senhor sabe que ele não só vai nos trair, como deve estar fazendo isso agora. — Os olhos intensos de Enzo estavam sobre mim, quase angustiado.

Sorri.

— É com o que estou contando. Contate Leonardo, quero a casa preparada e os aliados em linha. — Afirmei. — A estratégia é confundir Dom Antonellio e retardar seu ataque. Vamos invadir Veneza com a força armada que conseguimos, com Dom Fontana e Dom Dorigio.

Dom AccioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora