Sentimentos Adormecidos

5

*Imagem acima do Benjamin

Flávia

— Alô — atendo a ligação.

— Oi maninha, como você está e a mamãe e o papai? — Me pergunta.

— Beeen, não acredito — estou tão feliz por ele ter nos ligado, por eu poder conversar com ele, escutar a sua voz. — Nós estamos bem e você? Quando é que você vem pra cá ficar com nós mais um tempinho? — Disparo minhas perguntas para ele.

— Estou bem — em seguida dar uma risada, bem por causa das minhas perguntas. — Na verdade eu não sei, está muito puxado a faculdade. Só liguei para saber como está sendo a sua vida, agora, como universitária. Eu ia te ligar ontem, mas acabou não dando certo — seu tom de voz diminui, como se ele acabasse de ficar triste. — Me desculpa, eu sei como isso é importante para você.

— Não precisa se desculpar, eu consigo te entender agora, a faculdade mal deixa tempo para a gente — dou uma risada. — E bom, sobre ela eu não tenho muita coisa para dizer, até porque hoje foi o meu segundo dia de aula, mas está sendo muito interessante.

— Espero que você goste, assim como eu gosto da minha de Arquitetura — suas palavras são incentivadoras, ele nunca pensou em fazer outra faculdade se não fosse essa, nunca existiu outra em sua mente, e se ele está dizendo isso para mim é porque acredita nas minhas palavras de menina; quando dizia que sonhava com o dia em que eu iria ser uma repórter conhecida, e no meu potencial, o que me deixa extremamente feliz. — Você pode passar para o papai? — Ele interrompe meus pensamentos ao perguntar isso, mas talvez tenha sido essa a sua real intenção.

— Posso sim. — Chamo nosso pai; que logo se levanta da mesa e vem na minha direção pegando o telefone das minhas mãos.

— Oi meu filho, tudo bem?

Deixo eles conversando. Vou para a cozinha lavar os pratos e subo para o meu quarto. Tomo um banho e visto um vestido folgado amarelo. Quando estava saindo do banheiro, escuto meu celular apitando direto. Quando pego nele para ver o que está acontecendo, há várias mensagens da Heloísa e da Eloá. Me sento na cama para lê-las.

— Então, como foi ontem na balada? — Heloísa pergunta.

— Pegou algum gatinho? — É a vez da Eloá.

— Dançou e bebeu muito? — Heloísa pergunta novamente.

— Eu acho que ela quer matar a gente de curiosidade, porque ela não está falando nada — Eloá comenta com um emoji chateado.

Depois de ler a todas as mensagens, respondo:

— Gente, cheguei agora da universidade, desculpa.

— Pelo menos você está viva, né? Demora um ano para responder — uma pessoa irônica como a Eloá não há!

— Sobre ontem, foi uma coisa muito louca. E respondendo a todas as perguntas de vocês: a balada foi ótima, dancei e bebi muito, se eu me visse ontem não me reconheceria, e quase fiquei com um rapaz, mas ainda bem que não deu certo — dou resumo para elas de como havia sido a minha noite.

— Por que quase? O que deu de errado? — Agora é a Heloísa que me pergunta.

— Porque ia sendo com irmão da Jade, que por sinal se chama Miguel, tinha me esquecido de dizer isso para vocês.

Assim que digito o nome dele, instantaneamente me recordo de ontem: da gente quase se beijando, do quanto ele me encarou, do quanto eu me rendi quando ele pegou no meu rosto... Afasto meus pensamentos quando chega mais uma nova mensagem, agora da Eloá.

— Não acredito que você ia ficando com ele — ela estava bem feliz para o meu gosto.

— É mais NÓS não ficamos, ainda bem e antes que vocês me perguntem, não eu não queria, talvez fosse pelo efeito das bebidas — creio que realmente foi por isso ou pelo menos prefiro acreditar que sim.

A noite de ontem foi fantástica, só o que não entra na minha cabeça ainda é como até um tempo atrás, eu não gostava desse tipo de atmosfera e só foi eu chegar lá, simplesmente me soltei: bebi como se estivesse morrendo de sede e dancei como se a minha vida dependesse disso. O que não faz sentido nenhum para mim.

Heloísa me manda mais uma mensagem e eu quase caio para trás quando a leio, como assim ela não acreditou no que eu tinha acabado de falar?

— Desconfio disso, Dona Flávia.

Será que ela está vendo coisa aonde não existe ou será eu que estou vendo de menos?

Mais já vi que essa vai ser a conversa do momento, se eu não a cortar logo e é isso que eu vou fazer agora, pois na minha concepção só ia acontecendo aquele tal beijo por conta da bebida. Em nenhum momento foi porque eu quis. Foi ele quem foi atrás de mim. Ele queria bem se amostrar para os seus amigos. Foi o que ele tentou fazer, porém não teve sucesso.

— Meninas vou ter que sair, depois nos falamos. Tchau.

— Tchau — Heloísa diz.

— Beijos — segundos depois é a Eloá.

Paro de falar com elas e quando me ajeito na cama para poder dormir, meu celular começa a tocar e eu vejo pelo visor que é a Jade me ligando.

Tomara que ela não me chame para nenhuma balada hoje, ainda estou de ressaca.

— Oi, Jade.

— Flávia, me desculpa por não ter ido hoje para a faculdade, mas pelo que você pôde perceber ontem, eu estava muito bêbada e acordei hoje com uma ressaca daquelas, por isso não fui para as aulas — ela falava de uma forma rápida, mas mesmo assim consegui compreender.

— Tudo bem, não precisa me dar satisfações — digo isso só para deixa-la confortável. Sinto falta das minhas amigas e a Jade é a única amiga que eu fiz aqui, nesse curto espaço de tempo, e por ela ter faltado hoje, as aulas foram meio... deprimentes e sem graça.

— Eu sei disso. Tem como você fazer um favor para mim? — Pergunta.

— Depende, se eu puder fazer. O que é? — Agora fiquei curiosa.

— Com certeza os professores passaram deveres hoje, e como eu faltei, você poderia me emprestar o seu caderno para eu poder escrever tudo o que eles passaram? — Ah, esse favor é muito fácil.

— Posso sim, você pode vim aqui em casa buscar. — Era só ela vim pra cá, além de que aproveitaríamos para conversar um pouco, já que ela faltou hoje. Simples assim.

— Eu sabia que você ia falar isso, mas eu já conheço a sua casa e você não conhece a minha, e eu queria que você a conhecesse — estava muito bom para ser verdade, mas realmente seria uma boa eu conhecer a sua casa.

— Mas você quer o meu caderno agora? — Pergunto.

— Se você puder agora, eu posso e aí te buscar.

— Bom, então vou só tomar um banho. Daqui a meia-hora você pode vim, pode ser?

— Pode sim, daqui a meia-hora estarei aí.

Vou em direção ao banheiro, com uma missão: tomar um banho bem rápido. Assim que acabo, visto um short jeans preto e uma regata branca e fico à espera da Jade.

Assim que ela chega eu desço as escadas e digo ao meu pai que vou para casa dela, mas que não demoro. Saio de casa e entro no seu carro. Fomos conversando o caminho inteiro e quando enfim chegamos, eu não acreditei no que estava vendo bem a minha frente.