Flávia
— Ben? — O chamo.
— Só um minuto — Ele faz um "um" com o seu dedo indicador, pedindo que eu esperasse um pouco. Vou a caminho de sua cama, da qual me sento, e espero até que ele termine essa ligação e possa falar comigo. Depois de alguns minutos, ele se vira para mim. — Oi.
— Você estava resolvendo as coisas da viagem? — Pergunto, sabendo muito bem que era sobre isso, já que eu ouvi ele falando sobre o dia e a hora, mas eu tenho que lhe fazer essa pergunta, já que ela é o ponto essencial da nossa conversa.
— Sim — concorda com a cabeça, vindo se sentar na cama, ao meu lado. — Como eu vou embora nesse sábado, eu já estava comprando a minha passagem. Mas você queria me dizer alguma coisa? — Pergunta.
— Era sobre isso mesmo que eu queria te dizer — ele franze as sobrancelhas, não entendendo nada do que eu estou falando. — Eu quero ir com você. Eu quero ir para Natal — digo tudo isso de uma vez, com o meu irmão não precisa de enrolação, até porque uma hora ou outra ele iria perceber, isso se não já percebeu.
— Isso é ótimo, por que você não me disse isso antes? — Um sorriso maravilhoso logo se forma em seu rosto e eu me pergunto se ele entendeu o que eu quis dizer direito, pois eu estou achando que não. — Só tem um problema — será que ele entendeu agora o que eu quis dizer? — Nós iríamos juntos, mas você voltaria sozinha porque as minhas aulas já teriam começado.
Não, ele não entendeu...
Respiro fundo, antes de lhe falar qual é a minha real intenção com essa viagem, porque só ir para depois voltar, está fora de cogitação.
— Aí é que está, eu não quero voltar — espero que com isso agora ele entenda, porque senão eu já não sei mais o que lhe dizer para deixar isso de uma forma mais clara.
— Como assim, você não quer voltar? — Sua voz aumenta, e eu não esperava por isso, por esse tipo de atitude sua, e acabo me assustando. Ele prossegue, não ligando nem um pouco para como eu estou. — E a sua faculdade, os seus amigos e o Miguel? — Pergunta, me olhando nos olhos, visivelmente irritado, mas mesmo assim pedindo por respostas, uma explicação para isso que eu acabei de dizer.
— A faculdade eu posso fazer em Natal. Os meus amigos eu posso falar com eles pelo celular ou eles podem me visitar — também falo com o mesmo tom de voz que ele usou comigo, só que para o que eu vou dizer a seguir, a minha voz vai se abaixando aos poucos, quase não conseguindo sair pela minha boca. — E o Miguel... bom, não existe mais eu e ele — institivamente abaixo minha cabeça e os meus olhos começam a ficar marejados.
Na verdade, eu acho que nunca existiu.
— Como assim, não existe mais vocês dois? Vocês brigaram? — Mesmo estando bem perto do meu irmão é como se essas perguntas tivessem ao longe, consigo ouvi-las, mas não compreende-las muito bem. Aquela conversa me consome.
"Você sabe muito bem isso que começou assim, a partir do momento que você falou isso para mim".
"Só para ter a Flávia como um troféu, o seu troféu?".
O seu troféu.
Troféu.
Então nesse momento eu já não aguento mais segurar minhas lágrimas e livremente, deixo-as cair, porque além de me lembrar disso também me lembro de tudo.
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Sentimentos Adormecidos
Romance- LIVRO 1 - Flávia, uma garota em pleno seus 18 anos, e muito inteligente passa em uma faculdade com tudo pago e junto com a sua família vão morar em Recife e assim começar uma nova vida, tentar esquecer a sua antiga, não sua antiga vida em si, mas...