Sentimentos Adormecidos

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*Imagem acima da Ester

Miguel

— Oi, Miguel — Ester diz ao caminhar na minha direção afastando as minhas recordações sobre ela, mas ainda assim eu preferia as lembranças, que eu sabia que sumiriam depois, do que vê-la aqui, ainda mais com essa mala que está bem ao seu lado, com certeza indicando que está vindo morar aqui de novo.

Merda! Ela não pode ser de verdade, não pode ser! Isso é só fruto da minha imaginação dizendo que eu ainda não fui capaz de esquece-la, completamente. Mas a voz dela é tão real para mim...

Droga, de novo não!

Eu não posso sentir mais nada por essa garota, ela me deixou, e além de tudo eu estou com a Flávia agora. Ela sim me faz feliz — me repreendo na mesma hora.

Sem chances de você me ter de novo, Ester.

Quando tudo na minha vida estava se acertando, entrando nos eixos novamente, o destino vem e coloca o meu fantasma cara a cara comigo.

O que eu fiz para merecer isso?

— Filho, você não vai responder a Ester? — Escuto a voz da minha mãe e viro meu rosto para olha-la. Eu não tinha imaginado que em questão de segundos havia ficado petrificado aqui, só olhando para ela. Mamãe me chama a atenção novamente. — Ela está falando com você, Miguel — alterna o seu olhar entre mim e a minha ex-namorada, com um largo sorriso no rosto.

Por que será que ela não nota que todos, menos ela, estão completamente chocados em vê-la aqui?

E é aí onde eu paro para pensar por que eu não contei para a minha mãe que a Ester tinha terminado comigo? Ah, me lembrei. Porque eu não queria iludi-la, decepciona-la, ela sempre gostou muito da Ester e sempre chegava a mim dizer "que essa foi sempre a nora que ela pediu a Deus". Então eu, como a amo de todo o coração, não quis machuca-la, inventei uma desculpa para amenizar a situação — porém com o coração doendo — dizendo para ela que a gente tinha terminado porque ela ia terminar a sua faculdade em outro lugar. No começo ela ficou muito chateada, dizendo: "mas para quê essa menina quer terminar a faculdade dela em outro lugar, se o coração dela está aqui" e sempre quando dizia isso, botava o seu dedo indicador bem em cima do meu peito no lugar onde ficava o meu coração e nessas horas eu já não conseguia mais fingir e caia no choro e ela sempre continuava dizendo: "oh, meu filho, ela vai voltar..."

E realmente ela voltou, mas se você soubesse da verdade mamãe, não deixaria ela ter entrado novamente em nossas vidas.

Como eu fui burro em não ter lhe contado... agora eu me arrependo por isso, mas quem imaginaria que depois de anos, a Ester voltaria de novo? Eu pelo menos não queria que ela tivesse voltado, não quando eu acabei de achar a minha felicidade.

E na hora que eu deixo, finalmente, de pensar sobre isso e me preparo psicologicamente para falar com ela, me distraio ao escutar passos rápidos descendo as escadas. Levanto o meu olhar e noto que a Jade descia toda feliz, mas que de repente sua alegria some, seus passos ficam mais devagar, além de ver o jeito como ela olha para a nossa visitante de uma forma impassível, como se não estivesse nem um pouco feliz em vê-la ali, atrapalhando o nosso momento "família" — só ela e o nosso pai, sabiam da verdade.

— Minha filha — minha mãe corre para abraça-la.

— Mamãe — Jade distribui beijos por todas as extremidades do seu rosto e em seguida, assim que se afastam, ela vai logo abraçar nosso pai não se importando com a Ester ali, observando tudo. — Que saudade eu estava de vocês — e a sua felicidade que havia desaparecido de seu rosto volta a aparecer novamente.