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Miguel

Hoje é o dia em que a Flávia vai embora. Eu queria poder fazer alguma coisa, mas eu não posso, não me atrevo a lhe telefonar e muito menos lhe mandar uma nova mensagem, sinto que não tenho mais esse direito, até porque mesmo se tivesse, levando em consideração ao fato de ainda sermos amigos eu acho aposto que ela não quer me ver mais nem pintado de ouro. Então a única coisa que eu vou fazer, aqui, dentro do meu quarto, deitado na minha cama, é tocar algumas notas em meu violão e imaginar a todos os momentos bons que passamos juntos, principalmente nesse cômodo da casa.

A solidão estava sendo a minha companheira desde aquela mensagem da Flávia, eu tentava me distrair, mas de nada adiantava. Tentava conversar com os meus amigos, mas quando eu dava por mim minha mente começava a divagar e eu já não estava mais prestando atenção neles, e sim nela, que havia se projetado ali, na minha mente, com os seus braços na frente de seu corpo para que eu pudesse os alcançar, enquanto sorria para mim.

E quando eu já estava perto de pegar em suas mãos...

Miguel? Jade bate de leve na porta do meu quarto e eu acabo saindo desse meu "sonho". Olho para ela, que ainda estava em pé, encostada na porta, esperando para ver se eu deixava ela entrar aqui ou não. Geralmente ela entra sem mais nem menos, mas como hoje é o dia em que a Flávia vai embora, penso eu, que ela quer me deixar sozinho.

Pode entrar dou um meio sorriso e com isso ela dar um passo, vendo mesmo se ela pode entrar, ao mesmo tempo em que pisa no chão como se fosse se queimar a qualquer momento, e eu dou uma risada por conta disso. Só a minha irmã mesmo para fazer um drama desses, para me animar.

Ela rir, caminhando para onde eu estou e se senta logo em seguida, perto de mim.

Me desculpa te interromper ela olha para o violão. — Mas eu só queria te avisar que eu vou no supermercado, comprar algumas coisas que estão faltando aqui em casa comunica e eu acabo de me lembrar que hoje mais cedo os nossos pais tiveram que sair, ficando aqui em casa, só nós dois. Quando os seus olhos voltam a mim encarar vejo que ela está triste, assim como eu, e que suas mãos estão apertando umas as outras; ela quer me abraçar ou falar alguma coisa do tipo, referente a Flávia, mas ela não faz o que eu achei que faria, e eu a agradeço por isso, já basta os meus pensamentos dirigidos a ela.

Tudo bem mesmo que eu não precisasse lhe responder, já que ela só veio me avisar que vai sair, eu mesmo assim quis falar alguma coisa para ela, coisa essa que tanto pode ser por ela me deixar aqui, sozinho, como dizer que tudo bem a Flávia ir embora, pois se é isso que ela quer mesmo, eu vou deixa-la ir. Com isso ela se levanta da minha cama e bagunça um pouco os meus cabelos, lhe dou um sorriso tranquilizador por isso. E assim ela deixa o meu quarto, fechando a porta do mesmo.

Pego em meu violão e começo de novo a dedilhar algumas notas, só que as batidas incessantes na porta do meu quarto, me atrapalham.

A Jade só pode ter se esquecido de alguma coisa para bater desse jeito penso enquanto me levanto da cama, indo em direção a porta para abri-la.

Você se esqueceu de ... quando vejo quem era realmente a pessoa que se encontrava a minha frente, paro de falar, não era a minha irmã que estava aqui, e sim a garota que eu menos queria ver nesse momento. Ester.

Oi, Miguel ela passa por mim, para poder entrar no meu quarto, nem se importando se eu vou deixa-la ou não entrar.

Ester... digo o seu nome pausadamente como para torna-lo real para mim, como para torna-la mais real para mim, não acreditando nem um pouco que ela teve a ousadia de entrar aqui, em casa. Como será que a Jade não viu isso? E o mais importante, o que ela pensa que está fazendo aqui? Deixo a porta aberta, para que ela perceba que a sua presença me incomoda e que saia daqui o mais rápido possível, enquanto me viro para encara-la, esperando saber quais são as suas reais intenções para se está, aqui.

Sentimentos AdormecidosWhere stories live. Discover now