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Miguel

Ontem, antes de dormir, nossos pais ligaram avisando que chegariam hoje, pela tarde.

Até que fim, porque isso nunca tinha acontecido antes, deles passarem mais de seis meses longe dos seus próprios filhos penso assim que saio do banheiro, com a toalha enrolada em minha cintura e pingos d'agua descendo dos meus cabelos para o meu pescoço a medida em que coloco os mesmos para trás.

Vou em direção ao guarda-roupa e retiro de dentro das gavetas uma blusa social azul e uma calça bege, mas antes de me vestir, o espelho que está bem ao meu lado me chama a atenção. E ao olhar para ele começo a pensar novamente nos meus pais.

Eu não sofro tanto pela ausência deles, já até me acostumei com isso, mas as vezes a saudade é mais forte do que eu e quando ela bate não tem volta. Eu sempre tento me recordar de alguma lembrança do passado, para não chegar a esquecer de como era a nossa vida de antigamente, de como éramos unidos.

Eles sempre foram pais muito ocupados, isso é fato, mas eles sempre estavam lá, pela a gente. Mas partir do momento que eles aceitaram viajar a trabalho, deixando a gente aqui, o nosso convívio foi diminuindo cada vez mais. Por ano, chegamos a nos ver por volta de quatro a cinco vezes, o que chega a ser bem pouco, já que quando eles chegam aqui não passam nem uma semana direto e já é pensando em qual vai ser o próximo lugar que eles vão, quando voltarem. Basicamente não existem mais diálogos entre nós, só o básico, o mesmo de sempre. É como se fôssemos pessoas completamente desconhecidas umas para as outras. Como se não fôssemos pais e filhos. Filhos que sentem falta. Eu digo pela Jade, que é a que sofre mais, já que quando está se sentindo sozinha ou com pesadelos, sempre bate na porta do meu quarto e pergunta se pode dormir comigo.

Será que eles não percebem isso? Que eles estão se afastando cada vez mais da gente e dinheiro algum compra isso?

Assim que deixo de encarar o espelho, começo a me vestir. Eu só vou receber os meus pais e depois vou sair com a Flávia. Vamos ao cinema. E eu pedi para ela passar aqui antes de irmos, para conhecer os meus pais.

Ao deixar o meu quarto, caminho para o quarto da minha irmã e como a porta está aberta, fico encostado na mesma, até que ao colocar brincos em sua orelha ela me ver pelo espelho e fala comigo:

Nem acredito que eles vão vim hoje. Estou tão feliz seu sorriso é de orelha a orelha.

É, estou percebendo, mas se arruma logo, eles já devem estar chegando comento para ela se apressar. Ela se vira para mim.

Você não vai buscar eles no aeroporto? Pergunta ao arquear uma sobrancelha.

Eu até ia, mas quando eu liguei para eles, eles disseram que não precisava porque estão vindo com uma surpresa e não querem que eu veja dou de ombros.

Nossa uma surpresa, o que será? Cruza os braços.

Também me faço a mesma pergunta, irmã.

Eu não faço ideia balanço a cabeça para os lados, negando. Bom, eu vou descer, irei esperar por eles lá na sala. E você vê se vem logo aponto para ela.

Certo, mas não se preocupe, eu já estou acabando aqui diz ao pentear seus cabelos e com isso eu deixo o seu quarto e sigo para a sala.

Depois de alguns minutos, esperando, escuto a porta de casa sendo aberta e logo me levanto do sofá, para recebe-los.

Jade, eles chegaram grito para que minha irmã possa ouvir de seu quarto.

Vou em direção a porta e o primeiro que eu vejo passar pela a mesma é o meu pai, que rapidamente me abraça.

Oi, pai. Quanto tempo? Pergunto ainda colado ao seu corpo.

Meu filho me desculpe por isso, eu não quis que ela viesse, mas sabe como a sua mãe é ... diz assim que se afasta de mim, fazendo eu me interrogar do que ele está falando.

Quem era que ele não queria que viesse?

Meu filho minha mãe vem ao meu encontro, já com os seus braços abertos para me abraçar, me distraindo por completo.

Mãe digo assim que nos afastamos que sauda... ela acaba me interrompendo.

Tenho uma surpresa para você e posso apostar que irá adorar diz completamente feliz enquanto aponta com o seu dedo para a porta. Guio o meu olhar para aonde o seu dedo apontava e não posso acreditar no que estava vendo a minha frente.

Não pode ser...

Não! Não! Não!

Sentimentos AdormecidosWhere stories live. Discover now