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André 

Trocava a roupa que tinha no corpo pelo equipamento de treino. Não prestava atenção a nenhum dos assuntos de que se falava nos balneários. Sentia-me noutra dimensão completamente a leste de tudo. A discussão que tinha tido com a Diana não me saía da cabeça. Aliás desde que soube do regresso dela que a única coisa que ocupava a minha cabeça era ela própria. Tentava assimilar tudo aquilo que ela me tinha dito no parque de estacionamento do centro comercial. Era demasiado notória a raiva, a mágoa que ela sentia por mim. Mas também não me podia culpar, porque não me sentia muito diferente dela.

- Terra chama André? - Alguém passou a mão à frente dos meus olhos fazendo-me acordar dos meus pensamentos. 

- O que foi? - Perguntei mal humorado e o Jota olhou para mim de olhos arregalados. 

- O que é que se passa contigo hoje? - Questionou e eu apenas encolhi os ombros, saindo do balneário atrás dele.  - Tu estás muito na lua, nem parece teu. Vens sempre com a pica toda para treinar. Não me digas que a noite de ontem não te correu bem. - Ele tentou brincar mas como eu hoje não estava para brincadeiras acabei por passar por ele apressado e juntar-me aos restantes colegas de equipa no relvado. 

O treinador já dava algumas dicas de exercícios. Começamos a correr à volta do relvado. Iam todos em pequenos grupos, a gozar uns com os outros como de costume, mas desta vez eu não participava.

O treino foi decorrendo e eu não estava a fazer nada de jeito. Falhei os exercícios praticamente todos, já não para não falar de quando começamos a jogar. Não fiz absolutamente nada, estava totalmente desconcentrado. Alguns colegas de equipa vinham perguntar-me se eu estava bem mas eu limitava-me a ignorar e a tentar concentrar-me com a bola nos pés.

- Silva! - Ouvi a voz do treinador e olhei para ele. - Chega aqui rápido. - Fez um gesto com a mão para que me aproximasse dele.

Suspirei pesadamente e caminhei até ele, já imaginando o que me ia dizer.

- O que é que estás a fazer hoje? O que se passa contigo? - Perguntou, de certa forma, meio bruto.

- Desculpe Mister... problemas pessoais. - A frustração começava a apoderar-se de mim.

- André sabes perfeitamente que os problemas não entram por aquela porta! - Apontou para trás de si e eu abanei a cabeça. - A não ser que sejam coisas demasiado graves, aí sim avisam-se os dirigentes e ficas dispensado. Mas tu hoje ainda não fizeste nada de jeito, para não falar que estás mais agressivo que o habitual.

- Peço desculpa. - Foi a única coisa que consegui dizer.

- Por hoje estás dispensado. E sinceramente não sei se vais jogar no próximo jogo. Podes ir. - Assim que ouvi estas palavras cerrei os punhos e caminhei apressado novamente para os balneários.

Empurrei a porta com imensa força, fazendo um estrondo enorme. Apetecia-me pontapear tudo à minha frente. Estava super irritado. Como é que aquela rapariga podia voltar de um dia para o outro e continuar a condicionar a minha vida desta maneira? 

Tirei rapidamente as minhas roupas enfiando-as dentro do saco de forma bruta. Vesti as outras e saí do balneário ainda irritado. Caminhei para fora do centro de treinos e aproximei-me do meu carro. Sentei-me no banco e fiquei algum tempo com as mãos na cabeça a tentar que a rapariga morena me saísse dos pensamentos. 

Dei um murro no volante ao perceber que isso não ia acontecer tão cedo. Liguei o rádio numa estação qualquer. Arrependi-me no momento em que ouvi uma música com uma letra demasiado explicita. 

"Tínhamos tudo para dar, mas olho para nós e vejo que é tarde" Não deixei a música continuar e mudei de estação começando a conduzir até casa.

Demasiadas coincidências. Demasiadas coisas que me levavam a pensar nela e eu já me sentia uma gaja. 

Apesar da frustração que me consumia, tentei conduzir com cuidado embora fosse a uma velocidade um pouco maior do que a que era costume. Em meia hora cheguei a casa. Após estacionar o carro, olhei para a porta de entrada vendo o Afonso que devia ter chegado agora da Universidade.

- Já em casa? - Perguntou assim que me viu aproximar da porta.

- Não me enchas a cabeça, caralho. - Entramos ambos em casa e eu mandei o saco de desporto ao chão pontapeando o mesmo de seguida. O meu irmão olhava-me sem entender a minha raiva/frustração. - Foda-se porque é que ela tinha de voltar? Só me está a lixar a vida. - Elevei o tom de voz, falando sozinho.

- A Diana?

-Claro que é a Diana, quem havia de ser? O Pai Natal? - Perguntei de forma bruta, dando um murro em cima do sofá. 

- Ei, calma! Vocês têm mesmo de resolver as coisas, tu nem pareces tu.

- E achas que não tentei, caralho? Tivemos uma enorme discussão hoje à porta de um centro comercial. Só ataques. Atirou-me tudo à cara. Fui para o treino e não fiz um caralho de jeito. O mister dispensou-me e ainda me disse que não sabia se seria convocado para o próximo jogo. - Passei as mãos pelo cabelo. - Esta miúda dá cabo de mim.

- Porque ainda há sentimentos. Claramente.  - Aproximei-me dele e agarrei-o pela gola da camisola assustando-o. 

- André! - Olhei para o meu pai que tinha acabado de entrar em casa. - O que raio estás a fazer? Larga o teu irmão! - Suspirei frustrado e larguei o Afonso, caminhando até ao meu quarto batendo com a porta. 

Isto não podia continuar assim. 

Closer × André Silva ✔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora