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- Faço para não pensar, tento acreditar que é passado. - Olhei para a Diana. - Dou por mim a relembrar, momentos que passamos eu e tu.

Mas porque raio se lembrou de cantar Dzrt?

Continuei a encarar a morena, esta completamente focada no telemóvel. Parecia estar a ler qualquer coisa, visto que já estávamos na primeira hora de caminho. Começava a ser irritante a repetição de músicas na rádio e também, cansativa a viagem em si.

- Tu conseguiste, marcaste-me com o teu jeito... - Apercebeu-se finalmente que estava a cantar alto e não mentalmente.
Ficou ligeiramente envergonhada, apesar de ter continuado a cantarolar a música. Quando dei por mim, era obrigado a ouvir as músicas do tempo dos morangos com açúcar a soar pelas colunas do telemóvel dela. Não deixei de gargalhar, ela sabia todas as músicas, desde as mais mexidas e conhecidas, às mais deprimentes. Cantava com toda a dedicação, tentando-me a gravar as suas figuras.

E foi exatamente isso que decidi fazer.
Peguei no meu telemóvel com uma das mãos, sendo cuidadoso. Podia não estar muito trânsito, mas estávamos numa autoestrada a caminho da fronteira de Espanha. Após a primeira hora, a Diana fartou-se de conduzir e desistiu de fazer surpresa.

Sabia que o nosso destino era Espanha, mas nada mais que isso. Recebi as indicações de ir do litoral do país para o interior, em direção a Guarda e de Guarda, para a fronteira. Limitei-me apenas a seguir as direções, sem saber quais os seus planos em Espanha. Dedicou-se realmente em passar estes dois dias comigo, fugir à rotina de Matosinhos.

- Vem , -me o teu mundo outra vez... - Voltei a gargalhar, pois aguentou apenas uns minutos em silêncio, até voltar a cantar. - Era tão amante desta música.

- Eu não consigo perceber, por favor diz-me a mim... Mudaste tanto desde o dia em que te conheci, parece fácil esquecer, mas eu sei a dor. - Cantarolei de uma forma falada, levando a morena a encarar-me. - Custa-me muito continuar sem pedir, um beijo de bom dia e a vontade de sorrir, sair para a rua e gritar que te amo a ti.

Encarei-a, após proferir as útlimas palavras do verso. O seu rosto voltou a ganhar um tom rosado e um sorriso tímido surgiu no seu rosto. Pousei a mão na perna dela, voltando a tomar atenção à estrada.
Entretanto, a morena retomou às músicas do Dzrt e antes que pudesse pronunciar-me, um pequeno estrondo se fez ouvir. Estávamos perto de uma estação de serviço, embora esta não estivesse a funcionar. Decidi parar o carro, percebendo que a Diana se tinha assustado com o som e com o facto de ter perdido o controlo do carro por momentos.

Ao sair do carro, percebi facilmente o que nos tinha acontecido. Nada melhor que um furo no pneu a vinte minutos da fronteira e logo, numa área de serviço fechada.

- Hum... André, diz-me que não furaste os pneus do meu carro!

Olhei para trás, encontrando a morena a espreitar através da janela.

- Não fui eu que os furei! E foi apenas um. - Encolhi os ombros e a Diana ficou um pouco confusa, saindo do carro. - Tens pneu suplente, certo? - Balançou a cabeça negando.

- Furei o suplente em Lisboa e nunca mais o troquei.

- Sabes que é obrigatório!

- Eu sei! - Encostou-se ao carro. - Ninguém vai estragar os meus planos, muito menos um pneu furado. - Encarei-a, parecia determinada. - Vamos a pé até Espanha, já não deve de faltar muito.

- Estás a brincar, certo? - Arqueou a sobrancelha, mostrando que estava a ser sincera. - Vai demorar eternidades!

- Há uma bomba de gasolina a uns minutos, vamos até lá.

- Onde é que me fui meter?

- Até agora não te estavas a queixar. - Piscou o olho, referindo-se ao dia em si. Talvez, apenas a um momento exato. Ou dois.

Confiei na Diana e comecei a empurrar o carro. A rapariga jurou ter visto uma placa com a indicação de uma bomba de gasolina a poucos minutos de nós. Ajudava-me a empurrar o carro, apesar de gargalhar cada vez que olhava para mim. Tinha a certeza que a morena não estava a fazer qualquer esforço.

Reclamei com ela, ouvindo-a a reclamar de volta. Nada de sério, visto que as nossas gargalhadas eram altas e explosivas. Só a Diana para me incentivar a embarcar nestas aventuras inesperadas e pouco planeadas.

Quem é que não tem um pneu suplente no carro?

- Foi... - Murmurou, quebrando o silêncio. - No fim das minhas férias, estava na praia a andar. Parei nas ondas do teu corpo e o pôr do sol ficou nesse olhar.

- A sério? Qual vai ser a próxima?

- Para mim tanto me faz. - Quando me ia a pronunciar, ela continuou. - Que digas coisas boas ou coisas más ou mesmo que inventes, algo que eu nunca fui. - Revirei os olhos e ela sorriu.

Tentou cantar a parte mais acelerada da música, trocando as palavras todas e criando uma nova língua semelhante ao português.

Acabei por me rir das figuras dela e por ser contagiado pela sua boa disposição. Ao fim de longos dez minutos, estávamos finalmente na bomba de gasolina. Tentamos estacionar o carro da melhor forma que os nossos braços e força nos permitiram, apesar da Diana ter decidido entrar e ir virando as rodas conforme o necessário. Voltou para junto de mim com as duas mochilas, entregando-me a que me pertencia e trancando o carro.

Ficou a olhar séria para a bomba da gasolina e pela sua expressão, podia adivinhar que tinha algo em mente. Entrelaçou os dedos aos meus, puxando-me até ao interior da mesma. Mal entrou, dirigiu-se à zona das bebidas.

E depois, parou junto das bebidas alcoólicas.

- Um incentivo para chegarmos a Espanha. - Segurou em duas garrafas de Malibu. - E outro para a restante noite. - Fez sinal para que agarrasse a terceira garrafa.

Duas de Malibu, uma Vodka Preta e sumo de limão. Pegou em aperitivos e doces.
A minha miúda estava oficialmente fora de si. Quem era a Diana que me expulsou da loja e quem é a Diana à minha frente?




✨✨✨
Quero agradecer a todas as pessoas com quem falei ontem, obrigada a todas pelo vosso apoio e pelas vossas palavras! 😘

Closer × André Silva ✔Where stories live. Discover now