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As minhas gargalhadas eram altas, estava tão animada. Há bastante tempo que não me sentia assim. Tinha saudades destas saídas no bar, das próprias pessoas. O facto do Miguel se ter integrado tão bem no grupo e conversar tão abertamente, só ajudavam à minha boa disposição.

No entanto, o meu olhar alternava-se da mesa para a porta várias vezes. Sabia o quão chateado o André estava e neste momento, não podia julga-lo. Não foi a melhor atitude, agora que as coisas se estavam a compor. Era isso que me deixava triste e de consciência pesada, jamais esperei que reagisse tão mal, apesar de conhecer o seu feitio explosivo e um tanto possessivo. Apesar de não ter gostado das suas insinuações pelas mensagens, como se tivesse feito para o magoar. Era no mínimo escusado, mesmo sendo o calor do momento.

Suspirei, acabando por receber um olhar do Miguel. Murmurou um pedido de desculpas e puxou a minha cadeira para junto da dele. Como fiquei com pouco espaço, estiquei as pernas por cima das dele.

- Desculpa, não pensei que ficasse tão chateado contigo.

- Deixa lá.

Encolhi os ombros, tentando disfarçar o peso que começava a sentir. Sentia-me culpada. Voltei a suspirar, obrigando-me a ignorar o assunto, para que o ambiente não se estragasse. Integrei-me mais nas conversas, acabando por me animar. Também, o facto do Miguel se unir ao João e ambos implicarem comigo, ajudava bastante o meu humor.

Perto das onze da noite, o João e o Diogo aventurarem-se num jogo de setas com o Duarte e a Raquel, levando-me a mudar de lugar, para ficar de frente.

O Miguel fez o mesmo, pousando novamente as minhas pernas nas dele, aproximando-se ligeiramente de mim.

- Estás bem?

- Preocupada apenas. - Encolhi os ombros. - As coisas estavam a ficar bem e agora isto. Sinto-me culpada.

- Se o André quisesse mesmo algo contigo, não se tinha passado tanto e estava aqui a ouvir-te. Provavelmente já se envolveu com outra. - Engoli a seco, só de pensar.

Mantive-me em silêncio, ponderando essa hipótese. Será que ele era capaz de o fazer por causa desta tarde? Só de imaginar... Custava.

- O que é que precisas que aconteça para que percebas?

- Perceba o quê?

- Que podes ter melhor. Não precisas de recordar o que aconteceu e arriscar-te a passar pelo mesmo. - Inclinou-se ligeiramente para mim, devido ao barulho. - É isso que queres?

- Claro que não! - Senti os meus olhos a arder. - Eu preciso mesmo de falar com ele, não consigo ficar assim.

- A sério, Diana?

Procurei o meu telemóvel pela mala, sentindo a mão do Miguel no meu queixo, para que o encarasse. O rapaz continuou a murmurar hipóteses para justificar a ausência do André, aumentando o meu receio por vir a descobrir que uma dessa se sucedeu. O que era errado, visto que se tem mostrado uma pessoa... Diferente.

Entretanto, ouvi novas vozes a invadir o local. Olhei para a porta, reconhecendo o Afonso. Este protestava por querer entrar também no jogo de setas.

Deixei de saber respirar quando o André entrou no estabelecimento e olhou em redor, cruzando o olhar com o meu em meros segundos. O seu olhar desceu para as minhas pernas ao colo do Miguel e uma das suas mãos pousadas no meu joelho, enquanto a outra descia lentamente do meu queixo para a mesa. Balançou a cabeça, chamando o irmão para que fossem embora, que já tinha visto o suficiente.

Rapidamente a minha irmã se apercebeu do que estava a acontecer, dando-me uma cotovelada no braço para que reagisse.

Peguei na minha mala e telemóvel, caminhando na direção do André, que ao reparar, saiu do estabelecimento. Boa Diana, o que podes fazer para piorar mais a situação? Tentei alcançar o seu braço, apesar de o ter previsto e desviado antes que o fizesse. O rapaz parou de andar, encarando-me sem qualquer emoção no olhar.

- Foi para isto que me pediste para vir? Sinceramente Diana... Não conhecia essa tua faceta.

- Estás a perceber mal! Por favor, deixa-me falar.

- Para quê? Falas de mim, mas continuas com as tuas provocações! Primeiro o Duarte, depois o lisboeta! Quem vai ser a seguir?

- Estás a ser injusto! Sabes que não sou esse tipo de pessoa.

- Eu também não era esse tipo de pessoa até te conhecer, gostar de ti e me foder! - Atirou os braços ao ar, gesticulando as suas palavras. - Pensei mesmo que estávamos bem!

- E estávamos! Aliás, estamos. - Pousei as mãos no rosto dele. - Desculpa André, não pensei que fosses reagir tão mal. Ele é apenas meu amigo.

- Nota-se que é apenas teu amigo! Não me faças de parvo! - Afastou as minhas mãos do seu rosto, um pouco bruto.

- Não estou! André, como é que depois de tudo o que aconteceu, ainda consegues duvidar de mim? Porra, estou a tentar confiar em ti outra vez, será que não percebes isso?

Tentou afastar-se ainda mais, apesar de o ter agarrado pela camisola. Os nossos olhares cruzarem-se, continuava sem obter as emoções que tanto queria da sua parte. Estava realmente magoado e chateado comigo, a pensar no que não devia.

- Não achas que mereço que também tentes confiar em mim? - Murmurei mais calma, aproximando-me. - Diz-me André.

- Agora que estás a arriscar, não quero que outra pessoa te faça mudar de ideias. Porque sejamos sinceros... Já lixei demasiado as coisas entre nós. - O rapaz sussurrou, desviando o olhar.

- André... Desculpa. - Sussurrei de volta, pousando a mão no rosto dele. - Por saber o quanto custa, jamais te faria passar pelo mesmo.

Inclinei-me lentamente, alcançando os lábios dele. Um beijo calmo e lento facilmente se desencadeou. Ao sentir os seus braços à minha volta, não deixei de separar os meus lábios dos dele e respirar de alívio.

Mostrei-lhe um pequeno sorriso, acabando por ser puxada para um abraço.

Closer × André Silva ✔Where stories live. Discover now