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Ouvi um clarear de garganta e separei-nos do beijo revirando os olhos. Olhei para o lado, tal como a Diana onde encontramos o meu irmão com um sorriso provocador. Afonso Silva, o estraga momentos.

- Bem me parecia que para demorares tanto tempo à porta devia ser a menina.

- E tu que não viesses aqui interromper, não é?

-Desculpa, mas tens o teu quarto lá dentro! - Ele disse e eu apenas ignorei pegando no meu casaco e nas chaves do carro, saindo com a Diana de casa.

- Mas vamos onde a esta hora? - Encolhi os ombros e peguei na mão dela guiando-a até ao meu carro. - Se não sabes, eu decido. Estou cheia de fome.

Revirei os olhos e comecei a rir à gargalhada no meio da rua. Só por referir a fome já sabia onde íamos acabar a noite. Esta rapariga realmente era qualquer coisa de outro mundo. Ninguém diria que há umas semanas nos queríamos matar um ao outro.

- Sim, eu passo pelo Mc Drive não te preocupes! - Brinquei enquanto entrava no carro. - Às vezes pergunto-me como é que não andas aí pela rua a rebolar, só te vejo a comer estas porcarias.

- André! - Ela repreendeu-me ao entrar também no carro. - Isso não é bonito de se dizer! - Reclamou fazendo-me rir. - E ainda te ris seu palhaço de merda. - Olhei para ela fingindo-me de ofendido. Estas conversas parvas faziam-me viajar pelo passado. Tanto gostávamos imenso um do outro como nos ofendíamos mutuamente.

Comecei a conduzir, e ela fez questão de ligar o rádio. Estava a dar uma música do Diogo Piçarra. A cada verso, os nossos olhares cruzavam-se, apesar de me tentar manter concentrado na estrada. Mas a música era bastante significativa. Que ironia do destino.

A certa altura tornou-se demasiado constrangedor pela a música retratar bem a nossa História.

A música era a única coisa que se ouvia pois nenhum dos dois se atrevia a falar. Quando parou, começou logo outra música de seguida. Ela baixou o som e encostou-se ao banco, acabando por suspirar.

- Demasiadas coincidências. - Deixou escapar fazendo-me olhar rapidamente para ela. Estava demasiado pensativa.

O constrangimento evaporou-se quando parei no Mc Drive. Perguntaram-nos o que queríamos e eu nem dei tempo da Diana responder pois sabia perfeitamente o que ela queria. Sempre foi o mesmo e nunca mudou. Apesar de hoje, excepcionalmente só lhe apetecer uma hambúrguer. Não pedi nada para mim, se me apetecesse algo seriam apenas batatas e podia roubar-lhe algumas. Fomos atentidos em segundos uma vez que não estava ninguém ali àquela hora. Ela tentou tirar a comida do meu colo, apesar de a ter impedido. 

- Então mas não me vais deixar comer? - Ela protestou.

- Só quando chegarmos ao nosso destino.  - Respondi-lhe vendo-a a arquear a sobrancelha. Quando olhou para a frente reparou onde estávamos e não deixou de sorrir. 

Estacionei o carro e em segundos vi o saco do Mc Donalds desaparecer do meu colo, sendo levado pela Diana que já tinha saído do carro e caminhava para a areia da praia. A máscara de pessoa fria e desinteressada que usava nos primeiros dias depois do seu regresso tinha caído tão depressa. Tal como a minha. Esta era a Diana que conhecia. A Diana por quem comecei a nutrir fortes sentimentos antes da mesma ter abandonado tudo para ir estudar em Lisboa. A Diana que conseguia mudar o meu humor de um momento para o outro e a Diana que fazia com a minha faceta mais lamechas viesse ao de cima.

Saí do carro, trancando-o e comecei a caminhar atrás dela.

Parou à beira mar, sentando-se finalmente na areia. Abriu o saco e começou a comer, o que me levou logo a rir. Em pouco tempo sentei-me ao seu lado, roubando-lhe o pacote das batatas.

- É preciso teres uma lata! - Reclamou e eu cheguei-me mais perto dela dando-lhe um beijo na bochecha. - Não é assim que me compras, não comes mais! - Tirou-me as batatas da mão colocando-as no saco de novo para que não as voltasse a roubar.

- Como ficaram as coisas com o teu amigo? - Perguntei e ela encarou-me com uma expressão séria. 

- Não queres mesmo falar disso pois não? - Afirmei com a cabeça e ela suspirou. - É óbvio que não ficaram totalmente bem. Ele vai voltar amanhã para Lisboa, diz que o afastamento lhe vai fazer bem. 

- E a ti, vai?

- É o meu melhor amigo André, claro que não gosto desta situação, nem me queria afastar dele. Mas se é o que ele acha melhor, não posso fazer nada. Só não o queria magoar.

- Eu também não sou a pessoa certa, sabes disso? - Brinquei com algumas madeixas do seu cabelo e ela olhou para mim. 

- Então temos pena, porque o meu coração só quer a pessoa errada. - Acabou por admitir fazendo-me sorrir. 


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Closer × André Silva ✔Where stories live. Discover now