Oito: Reencontro

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— Qual o problema, ovelhinha? Por que ainda está chorando? — perguntei à bebê agarrada ao meu tronco como se sua frágil vida dependesse somente daquele gesto.

Eu já havia alimentado, dado banho, trocado fraldas e cuidado de todas as necessidades possíveis referentes a Mabel, e mesmo assim ela não ficava tranquila o suficiente para pegar no sono. Meu coração apertava por vê-la agoniada, agitada e chorando, e eu me sentia impotente, sem saber quais medidas tomar para ajudá-la.

— Sarah? — ouvi uma voz ecoando do lado de fora do quarto.

— Pode entrar —  pedi e em seguida vi Luana abrindo, entrando e rapidamente fechando a porta para impedir a claridade de acompanha-la em sua visita ali. Além de ser minha vizinha de quarto, por ter  seu filhinho, o pequeno Arthur, a jovem sabia como ninguém as dificuldades que eu estava enfrentando naquele instante.

Há duas semanas eu vinha me esforçando, seguindo os conselhos de dona Socorro, para desenvolver amizade com as moças da casa. Afinal, minha senhorinha favorita precisou ir visitar seu filho Ian na cidade de Santa Cruz e Amanda, com quem eu tinha mais intimidade, vivia saindo para resolver problemas, só voltava a noite para nos checar e ia para sua casa, deixando tudo sobre os cuidados de Anelise, por isso, sem opções, precisei ampliar meu círculo social. Apesar da minha personalidade introvertida e do constante medo de criar laços e me decepcionar, eu passei a trocar a segurança no quarto pelos momentos de bate-papo entre as garotas, quando elas se reuniam na sala e não me arrependi. Isso foi muito bom tanto para mim quanto para Mabel que estava ansiosa para conhecer outros lugares do casarão além do jardim e o nosso dormitório onde costumávamos passar as tardes e noites.

— Ela voltou a estranhar o berço de novo? — Luana perguntou se aproximando de mim enquanto eu estava ocupada em balançar a bebê manhosa em meus braços.

— Eu não sei, Lu. Já devia ter se acostumado, mas ela está tendo dificuldades para dormir direito. Ela só chora, não mama, recusa as papinhas — informei em um misto de sinceridade e aflição. — Fiquei acordada a noite toda e só reparei que amanheceu quando você entrou.

— Oh Sarah, você podia ter me chamado —  a moça disse em tom de bronca. — Olhe só pra você! Seu rosto está péssimo e se bem me lembro, não te vi no café da tarde e nem no jantar de ontem.

Sorri agradecida por tamanha preocupação. — Não quis incomodar. Já não basta os berros da bebê nos seus ouvidos.

Ela revirou os olhos. — Até parece. Dona Socorro nos mandou cuidar das duas mocinhas e ela, certamente, ficaria uma fera se te visse com essas olheiras e o rosto de mãe-zumbí.

Foi inevitável rir das palavras dela e de fato, eu estava cansada, mas não queria admitir isso. — Não se preocupe, eu estou bem. Enquanto Mabel não melhorar, ficarei aqui.

Luana cruzou os braços e frazindo, cenho fez questão de me lembrar: — Como vai cuidar dela se ficar doente, hein?

— Lu, por favor, eu...

— O Arthur está dormindo, deixe ela aqui comigo e vai comer alguma coisa. A essa hora Giselle já foi buscar o pão e Maitê deve estar preparando o café. Desça, coma e, se quiser, tire até um cochilo no sofá — instruiu já se aproximando para tomar Mabel do meu colo.

— Não precisa, eu estou bem — tentei garantir, mas minha falta de convicção entregou qual era minha verdadeira vontade, ou seja, um pouco de descanso.

— Pode ir, Sarah — insistiu Luana e listou mais uma vez os motivos para que eu abandonasse minha teimosia e fosse cuidar das minhas necessidades.

Olhei para a ovelhinha por alguns instantes e após um longo suspiro, eu me dei por vencida. — Tudo bem, mas vou comer algo e volto em seguida, prometo.

Ensina-me amarDär berättelser lever. Upptäck nu