Doze: Verdade

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— Sarah? Já está de pé? — Luana perguntou sonolenta entrando na cozinha onde eu revezava entre dar de mamar para Mabel e tomar um suco de melancia feito por Maitê no dia anterior.

— Estou prestes a sair — avisei e olhei para o relógio a fim de confirmar se eu não estava atrasada.

Lu fez alguns instantes de silêncio, aproximou-se da bancada e serviu um pouco do suco contido na jarra em um copo para si. Ela me encarou algumas vezes como se tivesse algo entalado na garganta, mas a princípio se recusou a falar.

— O que foi? — Tomei a iniciativa de começar a conversa, pois já imaginava qual era o problema incomodando minha amiga. — Olha, eu sei. Você não gostou de saber do meu encontro com o pai da Maria, não é?

Sem mencionar nomes, eu contei para Luana durante o passeio ao parque a respeito de como topei com o Victor várias vezes e também da proposta dele de me encontrar. Minha amiga não gostou nadinha quando eu revelei minha intenção de ir até a padaria combinada e fez o possível para me fazer mudar de ideia. Eu, no entanto, depois de pensar muito, tomei a decisão de ouvi-lo pelo menos uma vez. 

— E se ele te machucar de novo? — Luana levantou um bom ponto, talvez tentando me fazer refletir. — Não gosto de ser intrometida, mas pelos seus relatos, esse cara parece ser tão desprezível quanto o pai do Arthur.

— Lu, eu não pretendo deixa-lo entrar e bagunçar minha vida outra vez. Apenas concordei em ir, porque o assunto é a Maria Isabel. Eu não sou boba e nem cairei na lábia dele de novo — garanti convicta e ela apenas balançou a cabeça não me dando muito crédito. — Se não se importa, estou indo agora.

— Posso ficar com a Mabel pra você, se quiser — sugeriu e eu concordei, pois realmente não estava muito segura em levar a bebê comigo.

Deixei algumas instruções sobre onde  guardava as coisas da bebê, prometi não demorar e pedi a Lu para não hesitar em me procurar caso alguma urgência acontecesse.

Depois disso, fui pegar minha bolsinha no quarto e sem entender meu próprio comportamento, passei algum tempinho em frente ao espelho ajeitando meu cabelo e preocupada com a aparência. Não sabia o porquê, mas eu fiquei nervosa a ponto de sentir dor de estômago por estar prestes a rever Victor. Ao descer novamente, encontrei Luana segurando a bebê e pedi pela companhia dela até o portão da frente.

— Não se esqueça do horário da viagem.  A Amanda fica brava quando nos atrasamos — advertiu Lu quando eu já estava do lado de fora do instituto.

— Tudo bem — assenti e deixando vários beijinhos nas bochechas gordinhas da  Mabel, eu me despedi e segui meu rumo.

Fui caminhando devagar e orando ao Senhor, pedindo sua pastoral direção sobre minha vida. Não havia palavras suficientes para descrever a ansiedade ocupando espaço em minha mente naquele instante e eu só pude me acalmar depois de parar, orar e trazer a memória alguns versículos de consolo. 

Cheguei, então ao fim da rua e senti um arrepio quando cruzei a esquina, dando de cara com a padaria. Meu coração acelerou de maneira instantânea ao notar aquela moto de primeira linha estacionada perto do estabelecimento.

— Por que estou fazendo isso, meu Deus? — murmurei, com um forte desejo de desistir de tudo aquilo e voltar para a segurança do instituto.

A resposta do Senhor veio em forma de uma inexplicável coragem tomando conta de mim. Respirei profundamente e como se estivesse prestes a pular de um trampolim, fui num impulso só, decidida a enfrentar qualquer situação.

Logo que entrei, enxerguei Victor sentado em uma das mesas do fundo conversando alegremente com uma mulher a quem julguei pelas roupas ser uma funcionária local. Ela era muito bonita e nada modesta em seus decotes. Fiz de tudo para ignorar o monstrinho verde do ciúmes querendo surgir e segui em direção a ele, sentindo fortes palpitações a cada passo.

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now