Trinta e Cinco: Voltar?

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— Então, Jonas se casou com Daniela e os dois terão um bebê e você está noiva do meu irmão há três meses? — questionei perplexa enquanto ajudava a levar os pratos para a mesa de jantar. — Não acha que deveria ter mencionado isso quando cheguei a cidade e fui procurá-la, Gabi?

Eu ainda não havia conseguido absorver todas aquelas mudanças que aconteceram em minha ausência. Não julguei meus irmãos por terem dado continuidade a suas vidas, mas senti meu coração doer ao não estar por perto quando momentos tão singulares e especiais aconteceram.

Como pude perder o casamento de Jonas com a adorável e simpática Dani, que o tempo todo se mostrou verdadeiramente alegre por me conhecer? Ou mesmo o momento em que o jovem casal anunciou a bênção da chegada de mais um bebê à nossa família? E ainda não estar por perto quando Davi pediu a mão de minha melhor amiga em casamento?

Saber daquelas boas-novas me alegravam e ao mesmo tempo me davam a impressão de que eu não pertencia mais à família. E não podia culpa-los por tudo aquilo. Oh, não! Não podia. Afinal, a escolha de abandoná-los para viver reclusa em minha bolha de auto-comiseração, foi unicamente minha.

"Eis que faço novas todas as coisas" eu me lembrei daquele versículo tão poderoso e tive paz. Se o Senhor prometeu fazer nova todas as coisas para os seus filhos, então Ele faria. Se estava me dando uma chance de reatar os laços rompidos e restaurar a confiança quebrada, então eu deveria descansar Nele, mesmo que doesse.

— A família está cada vez maior e eu gostaria de ter sido informada — comentei, buscando me animar.

Ela veio logo atrás de mim, colocou a panela de feijão na superfície de madeira e me encarou.

— Sim, eu deveria ter te contado. Mas sabe, quando voltou, apesar de toda a mudança no caráter, você se recusou a buscar ajuda do seu pai e isso me fez crer que ainda mantinha a opinião de não querer contato algum com seus familiares — explicou em um tom melancólico e, mais uma vez, compreendi as motivações dela. — Ainda assim, o erro foi meu e peço perdão...

Gabi suspirou com pesar e pareceu meio triste, por isso resolvi consolá-la com um abraço.

— Está tudo bem, amiga. Fico muito feliz por ser sua cunhada. Embora, eu não entenda o que você e Daniela viram de tão especial em meus irmãos chatos — brinquei, fazendo-a rir. — Estou falando sério.

Gabi uniu as mãos em frente ao corpo e os olhinhos brilharam.

— Ora, não se faça de desentendida, você sempre soube do meu interesse pelo Davi e o caso de Jonas não deveria te surpreender tanto, afinal ele nutria sentimentos por Daniela desde aquele acampamento do ano retrasado onde a viu cantando aquela música horrível no Show de Talentos, você estava presente também. Lembra?

— Oh, Gabi! Você não poderia simplesmente esquecer esse detalhe terrível do meu passado? — perguntou a loira ao entrar na cozinha alisando sua barriga. — Todos na igreja sabem como sou desafinada.

— Pobre, Dani — lamentei, tentando conter o riso. — Eu sempre acreditei que Jonas fosse meio surdo, mas agora tive certeza.

Dani colocou as mãos na cintura e abriu a boca, fingindo uma falsa indignação.

— Dona Sarah, sempre engraçadinha. — Ela me abraçou lateralmente e sorriu. — Tem sorte que agora somos da mesma família e te dou o direito de zombar de mim. Mesmo assim peço que me olhe como uma grávida cheia de hormônios malucos. 

— Oh! Agradeça por ter meu irmão ao seu lado, quando eu estava grávida da Maria Isabel eu chorava sozinha o tempo todo e... — Fiz uma pausa e me repreendi por agir como coitada ao ver as duas me encarando com certa pena. — Desculpem, eu não quis entrar nesse assunto e...

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now