Dezesseis: Adaptação

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— Não! De jeito nenhum eu farei isso — declarei irredutível enquanto degustava meu café da manhã.

— Sarah, por favor, vai ser muito legal. O Coelho é um excelente professor — insistiu Luana.

— Qual a necessidade de fazer aulas de Defesa Pessoal? Se alguém fosse me atacar, correr seria minha primeira opção — tentei argumentar. — Além do mais, se o Coelho é um professor assim tão excelente, por que nenhuma de vocês concordou em participar da aula, hein? — perguntei indignada.

— Ora, porque todas nós já participamos antes e dona Socorro quer dar uma aula intensiva de crochê no mesmo horário e isso você odeia fazer — Karen explicou.

Pensei um pouco e, realmente, eu odiava crochê, mas só de pensar em ficar sozinha com Josué e os burburinhos que surgiriam em seguida me faziam reconsiderar. — Mas, e quanto a Maria? Ela está dormindo agora, mas pode acordar a qualquer momento.

— Fico de olho nela — dona Socorro foi a primeira a se prontificar. — Coelho é sempre tão bonzinho. Ele está abrindo mão das férias pra estar aqui.

— Eu não sei — murmurei enquanto pensava nos prós e contras daquela proposta.

— Bom dia, madames — Coelho entrou na sala de refeições ostentando estilo com sua bermuda vermelha e uma camiseta regata larga dos Lakers que o deixou parecido com um verdadeiro jogador de basquete. — Estão prontas para aprender umas técnicas de luta? — ele perguntou e em seguida socou o ar, tirando de mim boas risadas.

— Estou fora — declarou Luana sorrindo e em seguida levantou-se para sair do cômodo, sendo acompanhada por mais algumas moças.

— Ah, não! Vocês todas não vão me deixar na mão como a última vez, não é? — Coelho lamentou e senti certa pena por ver o esforço dele indo por água abaixo.

— A Sarah vai participar da aula. Ela ficou animada, não é Sarinha? — dona Socorro avisou me pegando de surpresa.

— Eu? — questionei e quase me engasguei comendo uma torrada — Já contei qual é minha estratégia de defesa pessoal, ou seja, correr.

— É mesmo, Sarah? — Josué se aproximou tentando me intimidar. — E se o sujeito estiver armado e acertar suas costas? Hein? — Ele tomou uma faca de plástico sem ponta, daquelas de pegar manteiga e ergueu em minha direção, me fazendo rir. — E agora?

Olhei para ele e para o objeto em suas mãos, sem conseguir disfarçar o quanto achava engraçado sua pose autoritária. — Convido o sujeito para um café da tarde? — arrisquei o palpite e vi os olhos dele se revirando.

— Nem pensar, Rodrigues. — Coelho fincou a faquinha no queijo. — Eu não estudei e me exercitei pesado todos esses anos pra me tornar um delegado, vir aqui nas minhas merecidas férias e simplesmente te ouvir querer fazer amizade com bandido.

— Tudo bem e eu faço o quê, então? —questionei só um pouquinho curiosa.

Ele então me deu as costas. — Anda mulher, vamos lá pra fora treinar e eu te mostro alguns truques.

— Grosso ele, não? — comentei com Anelise ao meu lado e sem opções pedi licença para seguir meu mais novo instrutor.

Antes de chegarmos a área do Instituto onde aconteceria nosso treinamento, Josué passou em seu carro estacionado perto do jardim e tirou dos bancos traseiros uma bolsa daquelas de viagem.

— Aonde vamos? — perguntei enquanto o observava agindo de um jeito misterioso.

Sem responder, Coelho seguiu até uma área de gramado e ali começou tirar de sua bolsa uma série de bugigangas esportivas para serem usadas na aula.

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now