Trinta e Oito: Casar?

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— Bom dia, filhinha — papai saudou ao me encontrar na cozinha passando um café. — Levantou cedo, Mabel teve dificiculdades para dormir esta noite?

— Não, depois de tanta farra ontem, dormiu como pedra. — Eu o encarei a tempo de vê-lo abrir um sorriso.

— O dia foi mesmo maravilhoso — ele comentou enquanto se espreguiçava. — Mabel se divertiu tanto com os sobrinhos do Josué que apagou. Você viu ela tentando levantar? Engatinhar já não o bastante pra ela, aposto que logo está andando por aí. — Papai suspirou. — Nosso bebê está crescendo rápido. 

— Sim... — Eu olhei para baixo, não compartilhando toda aquela animação. — Ela amou a festa.

Intrigado, papai resolveu se aproximar e me abraçar lateralmente.

— E quanto a senhorita? Gostou da surpresa de Victor?

O soar daquele nome, fez meu estômago contrair-se. Eu possuía algo muito importante para revelar ao meu pai, mas me sentia um pouco insegura, primeiramente porque nunca pensei que algum dia os assuntos do coração seriam tema de uma conversa com ele e depois, eu temia sua resposta quando soubesse quais eram as reais intenções de Victor para comigo.

— É, sim, mas... — Virei-me para ele e pensei muito bem como falaria aquilo. — Tenho algo pra te contar...

— Sim? — Ele percebeu minha hesitação. — O que houve, Sarah? Sabe que pode falar tudo comigo.

Assenti com a cabeça e esbocei um sorriso fraco.Tudo aquilo era estranho pra mim. Apesar de papai demonstrar grande interesse pela minha vida sentimental, eu nunca quis envolvê-lo e isso talvez tenha sido um dos meus muitos erros. Talvez estivesse na hora de fazer as coisas de um jeito diferente.

Percebi logo em seguida que seria melhor pensar em um modo melhor de me expressar. Por isso, por alguns instantes pedi licença, fui até a sala, peguei o que buscava em minha bolsa e levei comigo até papai.

— Foi o Victor quem me deu esse livro. — Entreguei o objeto a ele e encarei-o, um pouco temerosa. — Ele me pediu para pensar sobre esse presente e pelo título, o senhor já deve imaginar o motivo. 

Ele encarou o livro em suas mãos e, para minha surpresa, não houve choque algum. Na verdade, papai abriu um largo sorriso e isso me confundiu bastante.

— "Quando Pecadores Dizem Sim". — Olhou-me com uma sobrancelha erguida. — Hum, interessante.

— Interessante? Como assim? Pai, o senhor leu direito? — Cruzei os braços, indignada. — Victor insinuou querer casar comigo e o senhor vai dizer só isso?

Papai concordou com um manejo de cabeça.

— Pois é, e por que a surpresa? Acha mesmo que eu deixaria ele te dar esse livro com uma mensagem clara dessas, se eu não tivesse permitido? — perguntou e eu abri a boca, pasma com aquilo. — E então, qual sua opinião sobre isso? Sobre Victor?

Quando desembrulhei aquele presente e percebi qual era o conteúdo, quase morri do coração. Victor só podia estar louco por deixar clara suas intenções daquela maneira. Bem, para mim, meu pai não sabia de nada e essa era a parte mais assustadora. Eu nem mesmo consegui dormir por isso, fantasiando o quão constrangedor seria negar uma possível proposta de casamento, afinal eu não faria mais nada sem que o senhor meu pai aprovasse. E então, ele simplesmente sabia de tudo e ainda queria uma posição de minha parte.

— Sinceramente... — Tomei uma porção de ar, formulei a frase em minha cabeça, reformulei e agradeci muito pela paciência dele em esperar por minha confissão. — Eu o amo — disse por fim e, ao vê-lo abrir a boca, resolvi ser mais clara. — Victor está completamente diferente. É um homem que teme ao Senhor, me respeita e até agora não passou dos limites em absolutamente nada. Admiro o caráter dele e o modo como é gentil e procura fazer o bem  sobretudo porque, ao contrário do que pensei, ele não me abandonou e tem se mostrado um excelente pai. O melhor que eu poderia dar a minha filha.

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