EPÍLOGO:

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— Não acha que foi um pouco exagerado termos vindo ao hospital? — perguntei angustiada enquanto estava deitada na maca daquela sala escura aguardando pela chegada do médico a qualquer instante. — Foi só um escorregão, nada demais. Meu traseiro amorteceu a queda.

— Seria nada demais se você não estivesse grávida, meu amor — ele contestou um pouco mal-humorado. — Não vou ficar tranquilo enquanto não ver se meu filho ou filha está bem.

Eu expirei e não deixei de transparecer minha preocupação e angústia.

A experiência de engravidar logo depois da nossa lua de mel foi bem inusitada pra mim, além de eu não imaginar quão férteis meu marido e eu éramos, estava sendo muito diferente passar novamente pelo mesmo processo de gerar uma vida ao lado de um marido tão preocupado.

Ele se aproximou e colocou sua mão sobre a minha.

— Acalme-se, meu amor. Logo estaremos de volta e, provavelmente, ninguém vai ter notado nossa ausência, garanto — o tom de voz dele era gentil e paciente.

— Não vão notar? Meu bem, nós saímos no meio da festa de um ano da nossa filhotinha sem nem cantar o parabéns ao menos — expliquei em um tom choroso. Eu estava a beira de surtar com toda aquela situação. — Eu me sinto tão culpada por ter caído. Além de colocar nosso bebê em risco, ainda consegui a proeza de estar ausente no primeiro aniversário da Mabel! Ja imaginou quando ela for mais velha e ver as fotos do seu primeiro ano sem seus pais?Ah! Sou uma péssima mãe, Victor.

Ele acariciou meus dedos e tentou me trazer consolo ao ver a culpa estampada em meu rosto.

— Minha linda, não fique assim. Você é uma mãe incrível e foi um acidente. Só saímos da festa porque o obstetra nos recomendou a vir checar se estava tudo bem com o bebê. Mabel certamente vai entender. — Soltou o ar e depois de alguns instantes refletindo, deixou cair seus ombros e voltou-se para mim. — Também estou tão tenso. Meu coração de pai está apertado.

— Bem, experimente estar na minha pele, então — murmurei irritada e logo em seguida me arrependi de ter dito aquilo.

Segurei o ar e procurei me acalmar. Eu precisava ser compreensiva com Victor, afinal seu desejo era apenas cuidar de mim. Ele se tornou mais protetor quando descobriu a gravidez, por isso quando me viu escorregar e cair sentada no banheiro enquanto eu dava banho em Mabel, nenhuma palavra minha foi suficiente para dissuadi-lo da ideia de me levar ao hospital conforme as orientações do doutor Douglas. O pior de tudo é que planejavávamos dar a notícia da minha gravidez a todos naquele mesmo dia, mas os planos acabaram sendo frustrados. Tudo isso me deixou muito estressada, mas, eu precisava ser sábia e não criar mais um problema entre nós.

— Por favor, me perdoa, meu amor. — Eu me acheguei a ele e apoiei minha cabeça em seu abdômen. Vic foi compreensivo e até acariciou meus cabelos. — Eu não deveria descontar meu estresse em você, mas só fico lembrando de Mabel chorando daquela maneira. Além de tudo, imagine como todos devem estar preocupados depois daquele seu anúncio.

— Eu entendo e, mais uma vez — ele me beijou rapidamente —, fique tranquila.

— Bem, lá se foi nossa grande surpresa — comentei achando graça daquilo. — Deus gosta de mostrar quem está no controle das nossas vidas, não é, meu bem?

— Sem dúvidas — Vic concordou e riu. — Mas os planos dele são os melhores e quando toda a preocupação passar vamos orar e agradecê-lo por toda sua graça sobre nós.

Concordei com ele e ficamos por alguns segundos em silêncio até vermos a porta do consultório ser aberta rapidamente pelo rapaz de jaleco, a quem logo reconheci como o tal doutor Douglas

— Sarah Rodrigues? — perguntou o moço e assenti. — Demorei, mas cheguei.

— Obrigado por vir, doutor — Vic quem disse e já foi logo passando todas as informações possíveis sobre o meu quadro clínico. — Enfim, essa moça aqui conseguiu levar um tombo e tanto e estamos aflitos.

O doutor me lançou um leve olhar de repreensão e se aproximou do leito.

— Bem, seus dados foram muito importantes, Victor, mas vou examiná-la para confirmar tudo isso — ele declarou e, pedindo licença, começou sua busca por dados.

O doutor procurou por alguns indícios de sangramentos, ossos quebrados ou torcidos, mas, graças a Deus, não encontrou nada além de algumas contusões. Suas palavras finais sobre minha saúde foram animadoras, mas eu só conseguia pensar no meu bebê, orando o tempo todo para que nada demais lhe tivesse ocorrido.

— Vai fazer o ultrassom agora? — sondei ansiosa e o doutor confirmando foi ligar o monitor, providenciando todo os aparatos necessários para realização do aguardado exame.

Quando o homem espalhou aquele gel sobre minha barriga e começou a mover o sonar eu fiquei a espreita da tela, tal como Victor que segurava minha mão com firmeza. Os segundos para achar um bebê ali foram para mim como uma eternidade e eu só consegui respirar aliviada quando ouvi um som semelhante a galopes de um cavalo ressoar forte e audível. Suspirei aliviada com aquela doce canção da vida.

Aquele foi nosso primeiro ultrassom, por isso as lágrimas não me chocaram. Não, no meu caso, pelo menos. Vic sim, apesar de atento e entendendo aqueles borrões na tela muito melhor do que eu, se emocionou bastante e me deixou perplexa.

— Nada melhor do que esse som, não é? — o doutor declarou maravilhado. — O bebê parece muito bem e...

As palavras sumiram da sua boca de repente e ele franziu o cenho olhando para o monitor. Meu coração gelou no mesmo instante e eu temi receber uma má notícia, ainda mais quando Victor também ergueu suas sobrancelhas.

— É o que estou pensando? — perguntou meu marido todo misterioso.

— O que está acontecendo? — investiguei tentando entender o que eles estavam vendo de tão anormal no nosso bebê. — Me falem, por favor!

— Vou congelar a imagem, Sarah. Assim você entenderá. — O sorriso doutor foi de uma orelha a outra e me mostrou uma imagem bem curiosa. Até aquele momento eram apenas borrões, mas logo vi algo diferente da minha primeira gestação. — Há dois sacos gestacionais diferentes e perfeitamente saudáveis. Dois corações batendo. Duas vidas dentro do seu útero.

— São gêmeos! — Victor declarou para que não houvessem dúvidas da minha parte.

Levei um pequeno susto com aquela notícia, mas claro que ela foi recebida com muita alegria por mim.

— Nós somos realmente muito férteis, Victor — sussurrei sem conseguir parar de sorrir e chorar de alegria e emoção. — Nossos bebês estão bem, doutor?

— Sim, estão ótimos — ele declarou com veemência e após nos dar algumas recomendações e restrições nos liberou para casa.

Quando Vic e eu finalmente saímos daquela salinha estávamos extasiados, sem saber por onde começar a agradecer por àquela bênção sem par.

— Deus realmente nos pegou de surpresa — Vic comentou quando já estávamos chegando ao nosso carro e acariciou minha barriga. — Como o Senhor é maravilhoso, meu Pai. Obrigada por guardar e segurar essas duas vidas que estão aqui dentro. Que sejam pra Tua Glória, em Cristo, amém.

— Amém! — Eu sorri e o abracei com força aimda em lágrimas. Eu me afastei, o beijei e sorrindo lhe disse: — Espere só até eu contar para Mabel todos os feitos que o Senhor realizou por nós.

Vic riu e concordou com a cabeça.

— A história de dois pecadores salvos pela graça e os ensinou os Seus caminhos eternos. — Ele fez uma pausa refletindo. — Daria até um bom livro.

— Sim, daria, se eu tivesse algum talento para escrever, o que não tenho — declarei animada. — Mas posso até pensar em alguns nomes.

ENSINA-ME A AMAR.

FIM.

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now