Vinte e Três: Família

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Acordei bem cedo com o choro de Mabel. Após amamentá-la e trocá-la, não consegui ficar no quarto esperando por Victor conforme o combinado. Depois de me arrumar, resolvi ir para a cozinha de onde provavelmente vinha o cheiro de café maravilhoso.

Passei pela sala carregando a bebê comigo e fui recebida pelo clarão de sol vindo de uma das janelas. Caminhei até lá e contemplei através do vidro, o lindo céu azul, com nuvens branquinhas passeando lentamente. A chuva do dia anterior parecia ter sido apenas uma mera lembrança e isso era um bom sinal, pois poderíamos voltar para casa naquele dia.

Retornando ao caminho inicial, vi em um canto no sofá alguns cobertores dobrados e travesseiros empilhados, indicando que um certo alguém já estava de pé.

Entrei na cozinha e meu queixo caiu no mesmo instante ao contemplar Vic coando café, o que ja não era comum pra alguém criado cercado de empregadas pra cá e pra lá. E não só isso, sobre a mesa de mármore já havia praticamente um banquete pronto com pães, frios e até um bolo muito apetitoso só aguardando minha chegada. Perto da entrada da cozinha eu notei também como o rapaz realmente cumpriu sua palavra ao ir buscar fraldas para a filha logo cedo.

— Onde está todo mundo? — perguntei repentina e sem querer acabei dando um susto no rapaz que por pouco não derrubou tudo no chão.

Para disfarçar seu desastre, Victor ajeitou sua camisa, dobrou os lábios em um sorriso lindo e fez meu corpo estremecer por isso.

— Bem, deixei meu avô na igreja quando fomos a cidade, pois ele queria tratar alguns assuntos com o presbítero e vovó está cuidando do jardim. A chuva sempre faz estragos terríveis nas roseiras dela — informou e cuidou dos últimos detalhes do preparo da nossa refeição. — Já ia te chamar.

Eu bocejei, me encostei no azulejo frio e fiquei observando o rapaz se movimentar de um lado para o outro pegando uma e outra coisa para ser colocada sobre a mesa.

— Mabel me acorda pontualmente às sete — contei rindo e beijei a menininha agitada, balançando suas perninhas para frente e para trás.

Victor olhou com carinho para a filha e não resistiu a tentação presente naquelas bochechas apertáveis.

— Passe ela pra cá — instruiu, colocou o bule com café sobre a mesa e tirou a bebê do meu colo, recebendo-a com muitos abraços e beijinhos. — Bom dia, meu amor! Sabe o que o papai preparou pra você? — ele perguntou com uma voz engraçada, levou a menina pra perto da mesa e revelou o conteúdo de um dos pratos cobertos por um pano. Ali havi uma das comidas favoritas dela. — Não te prometi ser o melhor pai do mundo? Posso começar te agradando com essas bananas cortadas.

Em resposta, Mabel começou a se projetar em direção a comida, tentando alcança-la com seus bracinhos curtos a todo custo.

— Não, mocinha. Devemos orar antes de qualquer refeição — instruiu o pai com um tom misto de seriedade e graça. Em seguida ele piscou para mim. — Viu como eu a conquistei rápido? Fique esperta, Sarah.

Abri a boca em espanto pela afronta daquele desaforado.

— Assim será impossível não conquistá-la. Mas se isto for uma competição, saiba que eu tenho vantagens naturais — gabei-me e nós dois rimos quando ela soltou uma daquelas gargalhadas fora de hora.

— Sente-se, mamãe orgulhosa. Vamos aproveitar esse café juntos — ele convidou e eu aceitei no mesmo instante. 

Em seguida nós tomamos lugar a mesa, oramos e demos início ao desjejum como uma verdadeira família, pareciamos até atores estrelando comercial de margarina. Victor e eu conversamos sobre os nossos planos para tarde, ele me falou sobre a igreja e o quanto sentia-se animado para me levar lá, nós também brincamos e rimos muito das caretas de Mabel ao comer suas frutas e fazer gracinhas. E tudo ficou ainda melhor quando Dona Rita voltou do jardim, lavou suas mãos e se juntou a nós também mesmo que já tivesse comido com o marido mais cedo. Durante esse curto tempo a senhora fez várias perguntas sobre o meu conforto e revelou o sua felicidade em nos ter ali com eles, fazendo questão de estender seu convite para mais um e quantos dias nós desejassemos.

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now