Vinte e Cinco: Retorno

4.5K 730 254
                                    

Retornar para Santa Fé não me trouxe tanta alegria quanto eu esperava sentir. Tudo bem, os momentos conturbados onde eu quase morri me assustaram bastante, mas logo depois tudo se resolveu e minhas pequenas férias continuaram a serem incríveis.

A família de Victor foi maravilhosa comigo. Cuidaram de mim e Mabel com todo amor e nos paparicaram até não poderem mais. Depois de um café da tarde reforçado, o pastor Apolo ainda nos convenceu a participar do culto vespertino onde fomos abençoados com uma mensagem ressaltando a importância de confiar no Senhor em todos os momentos e para o meu constrangimento, ele até usou minha situação no Rio Sião como exemplo, comparando as dificuldades da vida cristã com alguém sendo levado por uma correnteza e a graça de Deus como uma mão poderosa a nos socorrer. E então veio a hora mais triste, a despedida.

Dona Rita foi muito clara em exigir nosso retorno a Nova Canaã e Marissol não se esqueceu de me passar o seu contato, me ameaçando caso eu não lhe mandasse mensagem. Após uma série de abraços e recebimento de presentes, nós entramos no  carro e partimos rumo à Santa Fé.

A viagem de volta foi tranquila, contudo o clima diferente entre Victor e eu me deixou ainda mais confusa em relação aos meus sentimentos por ele. Meu coração se mostrava ainda mais balançado pelo doutor e depois de ser salva e tratada com tamanho zelo durante todo aquele dia eu voltei novamente ao estado de adolescente apaixonada.

Mãos suadas. Coração acelerado. Olhares discretos. Sensação de estar prestes a desmaiar.

Só Deus sabia o quanto eu sofria sem saber nem mesmo como levar uma conversa até o fim e não pensar no quanto ele ficava lindo quando dirigia e falava com tanta convicção e conhecimento sobre Deus e a bíblia.

Por que Victor precisava dificultar tanto a minha vida se mostrando tão mudado e diferente?

E quando pensei não haver mais como piorar a situação, nós chegamos ao Instituto no início da noite e eu passei a sentir uma dor no peito, imaginando quão amargo seria ficar longe daquele homem.

Nós descemos do carro e ele insistiu em me acompanhar até a entrada do casarão, e excessivamente preocupado não me deixou levar uma mala sequer e nem mesmo Mabel que dormia profundamente apoiada em seu ombro.

— Se você precisar de qualquer coisa, não hesite em me ligar, Sarah — ele pediu quando chegamos a varanda iluminada em parte por algumas lâmpadas fluorescentes e em outra pela luz da bela lua prateada e suas estrelas. Paramos alguns instantes para conversar antes dele finalmente partir. — Eu estarei de plantão, mas posso arrumar um jeito de vir pra cá.

Dei um sorrisinho reprimindo meu coração a fim de não deixá-lo se levar por aqueles belos olhos e o fato de eu amar quando ele se mostrava preocupado comigo.

— Pela milésima vez, eu vou ficar bem — garanti e ao perceber o silêncio persistente, eu voltei a encará-lo e o encontrei com um semblante triste acariciando as costas da filha.

Ele também sofria. Não por mim, é claro, e sim pelo fato de precisar se afastar de nossa pequena repetidas vezes.

— Eu estou muito agradecido ao Senhor pelo tempo que passamos em família, Sarah — disse emocionado causando um nó em minha garganta e depositou alguns beijinhos na cabecinha da bebê. — Vocês duas são preciosas demais pra mim.

Mordi meu lábio inferior, tentando suprimir a vontade de abraçá-lo por estar sendo tão bondoso.

— Eu amei seus avós e seus primos, Vic — revelei e ganhei dele um sorriso aberto e sincero. — Foram momentos especiais, intensos e um tanto radicais, eu diria, principalmente quando quase morri.

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now