Vinte e Seis: Confusão

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No dia seguinte acordei e antes mesmo de abrir os olhos ouvi o barulhinho de chuva, sendo instigada por isso a enrolar muito para deixar as cobertas quentinhas. Ali permaneci brincando com Mabel até a fome me obrigar a vestir roupas decentes e ir com ela atrás de comida.

Por pouco não perdi o café da manhã e foi muito gratificante ser recebida com carinho pelas meninas ainda presentes no espaço de alimentação.

Durante a refeição enquanto comia notei o movimento de moças pra lá e pra cá e busquei me informar, descobrindo através dos relatos da nossa cozinheira Maitê que a correria estava relacionada com o bazar beneficente marcado para o fim daquela semana. Rapidamente terminei minha refeição e me animei para ajudar também.

Fui com Maria Isabel até o ateliê onde a maioria das meninas realizavam, concentradas, suas produções artísticas e meu coração se contagiou de alegria ao me deparar com a presença não só de dona Socorro, como também do querido Josué na sala. Os dois quando detectaram minha presença trataram de se aproximar, me cumprimentaram e abraçaram a bebê de quem estavam morrendo de saudades. Logo fui convidada a estar ali com eles e aceitei sem pensar duas vezes. Conversamos um pouco até dona Socorro ser requisitada para ajudar as artistas a desenvolverem seus talentos. Coelho então decidiu ir comigo para um canto mais isolado no cômodo a fim de colocarmos o papo em dia. Sentamos ao redor de uma das mesas e ele teve a genial ideia de me induzir a pintar um quadro enquanto ouvia cada mínimo detalhe da viagem narrada por mim.

- Oh, não! Esses sorrisos e olhos brilhando ao falar do meu amigo, me fazem chegar a conclusão de que temos um grande problema aqui, não temos? - comentou Josué ao fim dos meus relatos.

Cocei a cabeça um pouco intrigada e imaginei qual seria a natureza do tal problema referido por ele.

- Ah, é! Temos sim - declarei, traçando uma linha na tela, usando a tinta azul contida em um pincel fino. - E com certeza isso me incomodou.

Coelho com suas gracinhas costumeiras provocava as gargalhadas gostosas da bebê e só me deu sua atenção quando precisou de ajuda para desgrudar as mãozinhas dela de sua barba.

- Incomodou? - sondou com um tom de desconfiança e massageou o próprio rosto, provavelmente dolorido dos inúmeros puxões da minha perigosa filha.

Mordi o labio e pensei em um modo de expor meus sentimentos sem parecer uma tola.

- Bem, quando chegamos a Nova Canaã, Victor prometeu me tratar como irmã em Cristo e eu me senti confusa quanto a isso - revelei um tanto constrangida. - Não quero ser só a irmã dele.

Ele soltou uma risadinha e eu fiquei ainda mais perturbada.

- Oh, não! Esse definitivamente não é o problema. Victor tem todo o meu apoio nessa decisão - garantiu com veemência enquanto ainda sorria e eu franzi o cenho. - O que eu me refiro é... - Ele observou a dúvida estampada em minha face. - Você realmente não entendeu a atitude dele, não é?

Cruzei os braços e fiz um bico descontente.

- Você poderia me explicar?

Josué olhou para os lados e pareceu refletir no melhor modo de me fazer compreender seu ponto.

- Quando o apóstolo Paulo escreve ao jovem Timóteo, ele deixa bem claro como as filhas de Deus devem ser tratadas, ou seja, com toda a pureza - começou pronunciando devagar e analisou meu rosto para checar se eu o acompanhava no raciocínio. - Isso é sério e significa que nós homens não temos o direito de machucar ou despertar em vocês mulheres desejos aos quais apenas os maridos tem a competência de suprir. Fora do casamento vocês são nossas irmãs e devem ser respeitadas como tais.

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now